Governador do Rio Grande do Sul, Eduardo LeiteReprodução/TV Cultura
Publicado 21/05/2024 10:05 | Atualizado 21/05/2024 10:53
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), negou que a sua gestão tenha errado na questão climática no estado. Em entrevista ao programa "Roda Viva", da TV Cultura, na noite desta segunda-feira, 20, ele repetiu várias vezes que é a favor da ciência. Os temporais já deixaram cerca de 161 mortos, 806 feridos e ao menos 85 pessoas desaparecidas.
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"Não erramos pela negligência, não erramos pela omissão e não erramos pelo negacionismo. Esse governo respeita as questões ambientais e a gente teve de procurar, diante de todas as pautas que estão na nossa mesa, entre elas inserido cada vez mais forte o tema ambiental, para a gente ter resiliência. Até para resistirmos como raça humana", afirmou.
A base de Leite na Assembleia Legislativa aprovou, no primeiro mandato, 480 alterações do Código Ambiental do Estado. O gestor estadual pontua que houve atualizações da legislação e não um afrouxamento deliberado da proteção ao meio ambiente.
"(...) Esse mundo que a gente está vivenciando, das narrativas, da desinformação, usam simplesmente essa afirmação como se isso por si só fosse uma condenação do tipo: 'ora, mexeu na legislação ambiental, logo ele é contra o meio ambiente'. O que nós fizemos foi ajustar justamente o código de meio ambiente do Rio Grande do Sul aos dispositivos da legislação federal", disse.
"Houve ajustes de procedimentos, ajustes por conta de resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente, enfim, para que a gente tenha normas mais práticas e capazes de serem atendidas, mas não há redução de proteção, insisto nisso, e eu vou deixar muito claro. Eu não estou do lado do negacionismo, eu estou do lado da ciência, de junto dos cientistas e de tudo que se propõe a cuidar das pessoas, como é também a minha ação no meio ambiente", acrescentou.
O governador gaúcho também criticou a polarização política. De acordo com Leite, esse movimento acaba prejudicando o processo de buscar soluções para os problemas das enchentes no estado.

"O que me incomoda muito na política é a polarização, é que antes de procurar soluções, se procuram culpados. Podem se procurar responsabilidades, mas minha tarefa como governante é procurar as soluções", ressaltou.
Leite ainda defendeu os gastos da sua gestão na questão ambiental. O governador citou o aumento efetivo do Corpo de Bombeiros, que está atuando nas enchentes que afetam o estado.
"Também compramos um helicóptero que salvou vidas e está levando alimentos para os desabrigados. Compramos novas embarcações e os jet skis que estavam lá sendo usados para salvar as pessoas e animais", aponta.
O governador também revelou a compra de um radar meteorológico para ser usado em uma região que não possui o serviço, o que ajudaria na previsão e combate a novas tragédias.
"Tem uma zona do estado que não temos dados mais precisos porque falta um radar com precisão para ter a apuração dos dados meteorológicos daquela região. Contratamos esse serviço. O radar que compramos vem da República Tcheca para ser instalado em Montenegro ou São Jerônimo, para fazer a cobertura da região metropolitana de Porto Alegre e vale do Javari", disse.
'Outras agendas'
Não é a primeira vez que o estado enfrenta os efeitos da crise climática durante o mandato de Eduardo Leite. O governador do Rio Grande do Sul reconheceu que o estado recebeu uma série de alertas sobre o risco de que as mudanças climáticas causassem novas chuvas de grandes proporções, mas afirmou que a administração também tinha de se preocupar com "outras pautas e agendas".
"Talvez há culpa de não ter me expressado bem. Mas que fique claro, nós temos uma série de pautas com as quais o governo tem que lidar. A do meio ambiente, sem dúvida nenhuma, uma importantíssima, sobre a qual o governo também atua", explicou.
Leite exemplificou quais ações também considera importantes, como a atenção a questões fiscais e salariais impactaram em uma melhor assistência diante da situação que o estado gaúcho enfrenta.
"Lembrem todos que o Rio Grande do Sul era até três anos um estado que se atrasava os salários dos servidores. Esses heróis que nós vemos, da Defesa Civil, os bombeiros, os policiais, todos que entram em campo para salvar as pessoas há três anos estavam recebendo seus salários atrasados", destacou.

"Graças a todas as agendas, como eu chamei, que são as pautas, as ações que o governo empreendeu, hoje a gente tem um efetivo de bombeiros maior do que tínhamos antes, porque conseguimos repor, e que salvou vidas", finalizou.
Tragédia
Segundo o balanço divulgado pela Defesa Civil nesta terça-feira, 21, as fortes chuvas que atingem as cidades gaúchas já registram 161. O número de feridos chega a 806, e o de desaparecidos 85.
Os dados ainda mostram que mais de 581 mil pessoas estão desalojadas e mais de 72,5 mil pessoas em abrigos públicos. As instalações contam com necessidades de itens como colchões, cobertores e roupa de cama e banho. Ao todo, pelo menos 464 cidades foram afetadas e mais de 2,3 milhões de pessoas sofrem com as inundações.
O balanço também aponta que mais de 82,6 mil vítimas das enchentes já foram resgatadas e mais de 12,3 mil animais foram salvos, na grande operação que conta mais de 27,7 mil pessoas, mais de 4 mil viaturas, 21 aeronaves e 271 embarcações.
A Rio Grande Energia (RGE), concessionária de energia elétrica que atende parte do estado, divulgou que 93,7 mil clientes estão sem luz. Já a outra concessionária de energia, a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) Equatorial, divulgou que há mais de 72,5 mil clientes sem energia em sua área de atuação.
Dezenas de municípios sem serviços de telefonia e internet da companhia Vivo, de acordo com a Defesa Civil.
Os temporais também causaram danos na infraestrutura viária do estado. Pelo menos 77 trechos de rodovias enfrentam algum tipo de bloqueio em razão disso. Do total, 46 rodovias com bloqueios totais e parciais, entre estradas e pontes.
De acordo com o balanço da Defesa Civil, mais de 740 mil estudantes foram impactados pelas cheias em escolas em toda Rede Estadual de ensino, com as aulas suspensas.
O boletim ainda mostra os números de escolas afetadas (danificadas, servindo de abrigo, com problemas de transporte, com problema de acesso e outros):
- 1.059 escolas
- 248 municípios
- 29 Coordenadorias Regionais de Educação
- 378.981 estudantes impactados
- 566 escolas danificadas, com 217.396 estudantes matriculados
- 79 escolas servindo de abrigo
Doações
Diante da situação de calamidade pública enfrentada no Estado, o governo gaúcho reativou o canal de doações para a conta "SOS Rio Grande do Sul" para receber doações via Pix que serão revertidas a donativos para as vítimas.
O Governo do Rio Grande do Sul e a Defesa Civil divulgaram duas maneiras de receber as doações:
- Centro Logístico da Defesa Civil Estadual
- Endereço: avenida Joaquim Porto Villanova, 101, bairro Jardim Carvalho, em Porto Alegre
- Telefone: (51) 3210 4255
Pix para a conta SOS Rio Grande do Sul
- Chave - CNPJ: 92.958.800/0001-38
- Banco do Estado do Rio Grande do Sul
Atenção: quando realizar a operação, é necessário confirmar que o nome da conta que aparece é "SOS Rio Grande do Sul" e que o banco é o Banrisul.
A gestão e fiscalização dos recursos ficarão a cargo de um Comitê Gestor, presidido pela Secretaria da Casa Civil e composto por representantes de órgãos do governo e entidades sociais. Os recursos serão integralmente revertidos para o apoio humanitário às vítimas das enchentes e para a reconstrução da infraestrutura das cidades.
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