Publicado 04/06/2024 16:29
Enquanto rastreia a contratação e "acomodação" de investigados da Operação Ptolomeu em um "gabinete fantasma" na Assembleia Legislativa do Acre, a Polícia Federal também suspeita que o mesmo procedimento teria levado à nomeação de outros alvos da apuração em cargos de assessoria na Câmara dos Deputados.
PublicidadeAo menos três servidores citados no inquérito da Ptolomeu — apuração que tem como alvo principal o governador do Acre Gladson Cameli (PP) — teriam sido alojados nos gabinetes de deputados federais, o que foi visto como um "drible" a restrições impostas pela ministra Nancy Andrighi, relatora no Superior Tribunal de Justiça — entre essas medidas está o afastamento de investigados de atividades em repartição pública do Estado.
Os servidores na mira da PF foram lotados nos gabinetes dos deputados Zezinho Barbary e Socorro Neri, ambos do PP, mesmo partido de Gladson. Socorro informou que só soube das pendências judiciais dos assessores na quarta-feira, 29, e que nenhum deles teria qualquer impedimento, ainda que cautelar, para trabalhar em seu gabinete.
A parlamentar indicou ainda que, "por opção pessoal", decidiu substituir os servidores e já protocolou solicitação em tal sentido no sistema da Câmara.
Zezinho afirmou que "não tinha conhecimento do impedimento judicial para contratação de Ricardo França e está tomando as providências quanto ao desligamento do mesmo da equipe".
A PF suspeita que a lotação de investigados da Operação Ptolomeu em gabinetes na Câmara seria uma estratégia para "driblar" a determinação da ministra do STJ.
A Operação Ptolomeu é uma investigação sobre suposto esquema de corrupção e fraudes em licitações no governo Gladson Cameli.
Um investigado é Ricardo Augusto França da Silva, advogado nomeado para cargo de "natureza especial" desde outubro de 2023 no gabinete de Zezinho, com um salário bruto de R$ 9,6 mil.
Meses antes de assumir esta função, em março de 2023 — quando o passaporte do governador foi apreendido em uma das etapas da Ptolomeu —, Ricardo França foi alvo de medidas cautelares. Ele foi afastado do cargo de chefe da Representação do governo acreano em Brasília e proibido de entrar em órgãos públicos no Estado.
França é aliado do governador. Entre 2015 e 2018 ele atuou como assessor parlamentar de Cameli que, à época, exercia mandato de senador de seu Estado. Em 2019, o advogado assumiu o órgão acreano, braço do governo em Brasília.
Em 2006, Ricardo França foi alvo da Operação Sanguessuga, que investigou uma organização de ex-parlamentares, assessores, empresários e funcionários do Ministério da Saúde para venda de ambulâncias superfaturadas por meio de licitações fraudadas em prefeituras de oito Estados.
Os investigadores identificaram outros dois nomes conhecidos na lista de servidores do gabinete de Socorro Neri: Rafael Batista Vieira e Sebastião da Silva Rocha. O primeiro chegou em julho de 2023, o outro assumiu o cargo em janeiro passado.
Quando a Operação Ptolomeu foi aberta, em 2022, Rafael ocupava cargo comissionado no Senado, no gabinete da suplente de Cameli. Nos autos do inquérito, Rocha foi apontado como motorista do Escritório de Representação do Acre em Brasília.
Relembre a Operação Ptolomeu
A Operação Ptolomeu, que tem como alvo principal o governador Gladson Cameli, apura supostos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo a cúpula de sua gestão. Como mostrou o Estadão, entre os elementos que colocaram a PF no rastro de desvios em contratações na Saúde e Infraestrutura está um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontando vinte comunicações de movimentações financeiras suspeitas envolvendo o governador. As transações notificadas ultrapassam a marca de R$ 828 milhões.
O ponto de partida das apurações foi uma gravação, obtida a partir de interceptação telefônica, que sugere que o governador teria sido destinatário de R$ 70 mil em propinas. Ao pedir autorização do STJ para fazer buscas em endereços do governador, a Polícia Federal levantou suspeitas sobre o uso de agentes das forças de segurança do Acre para movimentar valores em espécie com origem supostamente irregular.
Já entre as informações que deram fundamento para a segunda fase da operação está uma gravação feita por câmeras de segurança de um hotel em Cruzeiro do Sul, município a 636 quilômetros de Rio Branco. O vídeo mostra o momento em que assessores de Camelli escondem um celular para evitar que ele fosse apreendido durante buscas da primeira fase da Ptolomeu.
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