Ramagem disse que Bolsonaro sabia da gravaçãoReprodução: redes sociais
Publicado 17/07/2024 08:33 | Atualizado 17/07/2024 08:34
O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) prestará depoimento nesta quarta-feira, 17, sobre as descobertas da Operação Última Milha, que investiga suposto monitoramento ilegal de opositores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Será a primeira vez que Ramagem, que dirigiu a Abin durante o governo Bolsonaro, será questionado sobre o tema pelos investigadores.
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A PF quer que Ramagem dê esclarecimentos sobre o que foi identificado na ação, que teve a quarta fase deflagrada no dia 11 de junho. Entre as provas coletadas pelos investigadores, está a gravação de uma reunião entre o deputado federal e o ex-presidente, onde foi discutido um plano para anular o inquérito das "rachadinhas", que mirou o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
No áudio, Ramagem diz que "seria necessária a instauração de um procedimento administrativo contra os auditores da Receita, com o objetivo de anular a investigação, bem como a retirada de alguns auditores de seus respectivos cargos".
O deputado afirma que Bolsonaro sabia da gravação da conversa. O diálogo ocorreu em agosto de 2020, quando eles buscavam medidas para tentar anular a investigação contra Flávio Bolsonaro, que foi investigado por "rachadinha" no seu gabinete quando ocupou o cargo de deputado estadual. Em 2021, a investigação foi anulada pela Justiça.

Em vídeo divulgado nas redes sociais, Ramagem disse que a intenção era registrar um crime contra o ex-presidente. "Essa gravação não foi clandestina. Havia o aval e o conhecimento do presidente. A gravação aconteceu porque veio uma informação de uma pessoa que viria na reunião, que teria contato com o governador do Rio à época [Wilson Witzel], que poderia vir com uma proposta nada republicana. A gravação seria para registrar um crime contra o presidente da República, só que isso não aconteceu. A gravação foi descartada!", justificou.

O parlamentar também afirmou que as advogadas de Flávio apresentaram "possíveis irregularidades" que estariam ocorrendo na parte da investigação que envolvia a Receita Federal e sugeriram a atuação do GSI. O ex-diretor declarou que foi contra a sugestão.
"Falei que a inteligência não tem como tratar de dados de sigilo bancário e fiscal, não haveria o resultado pretendido. A atuação do GSI seria prejudicial para o general Heleno, que não seria a via correta e não teria resultado. Ou seja, informando que o que deveria ser feito era cientificar a própria Receita para abertura de procedimento interno e administrativo, na forma legal, para qualquer desvio de conduta que possa estar acontecendo", disse.

O ex-diretor também isentou Jair Bolsonaro da acusação de favorecer seu filho. "De toda a reunião, as advogadas devem ter falado 80% da reunião, contando os episódios. O presidente Bolsonaro pouco se manifestou. Quando o presidente se manifestou, sempre informou que não queria favorecimento", completou.
Receio
Ao contrário da afirmação de Ramagem, Bolsonaro e o general Heleno demonstraram preocupação com o eventual vazamento da conversa que foi gravada.

Heleno: Tem que alertar ele [chefe da Receita], ele tem que manter esse troço fechadíssimo. Pegar de gente de confiança dele".

Em seguida, Jair Bolsonaro parece desconfiar que está sendo gravado e disse que não queria "favorecer ninguém".

"Tá certo. E deixar bem claro, a gente nunca sabe se alguém está gravando alguma coisa, que não estamos procurando favorecimento de ninguém", afirmou.

Witzel
No áudio, Bolsonaro citou Witzel e afirmou que o ex-governador do Rio teria pedido uma "vaga no Supremo" em troca de favorecimento para Flávio Bolsonaro.

"No ano passado, no meio do ano, encontrei com o Witzel, não tive notícia [inaudível], bem pequenininho o problema. Ele falou, resolve o caso do Flávio. Me dá uma vaga no Supremo", disse.

Em nota, Witzel negou a conversa citada pelo ex-presidente. "O presidente Jair Bolsonaro deve ter se confundido, e não foi a primeira vez que mencionou conversas que nunca tivemos, seja por confusão mental, diante de suas inúmeras preocupações, seja por acreditar que eu faria, a nível local, o que hoje se está verificando que foi feito com a Abin e Polícia Federal", declarou.

O senador Flávio Bolsonaro diz que o áudio mostra apenas suas advogadas comunicando as suspeitas de que um grupo agia com interesses políticos dentro da Receita Federal, com objetivo de prejudicar a ele e à sua família.
"A partir dessas suspeitas, tomamos as medidas legais cabíveis. O próprio presidente Bolsonaro fala na gravação que não 'tem jeitinho' e diz que tudo deve ser apurado dentro da lei. E assim foi feito", garante o senador.
*Com informações do Estadão Contéudo
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