Lisa Moon, Ceo da GFNDivulgação
Publicado 11/08/2024 11:36
Pesquisadores e especialistas da Harvard Law School, por meio da Food Law and Policy Clinic (FLPC), e da The Global FoodBanking Network (GFN) apresentaram nesta semana, em São Paulo, o Atlas Global de Políticas de Doação de Alimentos, estudo realizado em 24 países e viabilizado por meio de parceria com o Sesc.
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A pesquisa, apresentada durante o Seminário Internacional "Sistemas Alimentares: Oportunidades para Combater a Fome e o Desperdício no Brasil", trouxe à tona nova análise das leis e políticas de doação de alimentos no Brasil, com recomendações de como os legisladores podem contribuir para reduzir o desperdício, facilitar a doações de alimentos e mitigar as alterações climáticas.

O evento marcou ainda o início das celebrações dos 30 anos do Sesc Mesa Brasil, maior rede privada de bancos de alimentos da América Latina, que alcançou a marca de 770 milhões de quilos de alimentos doados ao longo de sua trajetória.
A iniciativa, referência nacional no combate à fome e ao desperdício de alimentos, beneficia mais de 2 milhões de pessoas (média mensal) em situação de vulnerabilidade, por meio de 7 mil instituições sociais, em 730 munícipios brasileiros. Somente em 2023, o Sesc Mesa Brasil distribuiu mais de 48 milhões de quilos de alimentos e outras doações para instituições sociais que atendem pessoas em situação de vulnerabilidade. O programa conta com uma rede colaborativa com mais de 3 mil empresas doadoras.

Para José Carlos Cirilo, Diretor-Geral do Departamento Nacional do Sesc, o Sesc Mesa Brasil contribui para o resgate da cidadania de pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade.
"A fome é uma mazela que provoca abismos sociais em nosso país e precisa do esforço redobrado de todos para combatê-la. A fome separa e segrega. Cerca de 60 milhões de pessoas em nosso país vivem algum grau de insegurança alimentar. Uma pessoa com fome não estuda, não trabalha, não produz e se sente à margem da sociedade. Então, percebemos que programas como o Sesc Mesa Brasil trazem uma visão de liberdade eminente no horizonte. A garantia de uma alimentação adequada contribui para o resgate da cidadania. O Sesc Mesa Brasil nasceu aqui em São Paulo há 30 anos se espalhou como a corrente do bem por todo o Brasil. É uma resposta da esperança e da solidariedade" pontuou.

O Atlas apresentado no Seminário recomenda, entre os apontamentos para conter o desperdício de alimentos, a implantação de nova rotulagem que possibilite, de acordo com critérios de segurança e qualidade, a doação de alimentos após a data de vencimento exibidas nos rótulos.
O estudo também indica o aumento de subsídios fiscais para doação de alimentos, bem como a adoção de penalidades para empresas que destinam alimentos aos aterros sanitários. Levantamento da ONU aponta que o Brasil desperdiça cerca de 27 milhões de alimentos anualmente, sendo 42% deste total suficiente para o abastecimento alimentar do país.

De acordo com Claudia Roseno, Gerente de Assistência do Departamento Nacional do Sesc e responsável de forma nacional pelo Sesc Mesa Brasil, muitos alimentos desperdiçados estão dentro de critérios nutritivos e seguros para o consumo. Ela avaliou o protagonismo do programa para mitigar a insegurança alimentar e nutricional no país.

"Esses 30 anos de trajetória representam uma celebração muito emblemática para o Sesc Mesa Brasil. Estamos oportunizando a discussão de uma série de conceitos e informações que são importantes para a composição da segurança alimentar e nutricional. É uma discussão ampla, que envolve governo, pesquisadores, sociedade civil, e é muito importante para que a gente entenda que não é um problema de um só setor. É um problema de todos nós. Todos nós podemos fazer a diferença no dia a dia de pessoas que estão precisando desse alimento", afirmou.

Para Lisa Moon, CEO da The Global FoodBanking Network, o seminário foi uma oportunidade de debater questões relativas às mudanças climáticas, bem como a insegurança alimentar e o desperdício de alimentos. Segundo Moon, o desperdício agrava o problema das mudanças climáticas, aumentando as emissões de gases de efeito estufa. "É importante estar sempre debatendo esse cenário e buscando novos caminhos para mitigar os efeitos tão severos que a gente encontra, com tantas pessoas em situação de insegurança alimentar", destacou.

O combate à fome tem sido foco de debates em todo o mundo. Reduzir o desperdício alimentar pela metade evitaria que até 153 milhões de pessoas sofressem com a insegurança alimentar, ao mesmo tempo que diminuiria as emissões de gases do efeito de estufa relacionadas a agricultura em 4%, segundo estudo divulgado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) destacou. A FAO também calcula que quase um terço dos alimentos destinados ao consumo humano são perdidos.

O seminário, realizado no Sesc Belenzinho (SP), contou com a participação de pesquisadores e especialistas nacionais e internacionais, representantes do poder público e da sociedade civil, que debateram em diversos painéis como, ‘Sistemas Alimentares: Desafios e Oportunidades’, ‘Política de doação de Alimentos: Um caminho para reduzir a perda e o desperdício de alimentos e aliviar a fome’, ‘Ações do Governo e da Sociedade Civil com o propósito de combater a fome e o desperdício de alimentos’, ‘Sindemia global: A interconexão entre obesidade, desnutrição e mudanças climáticas’ e ainda ‘O papel do Colheita Urbana e do Banco de Alimentos na promoção da Alimentação Adequada e Saudável’.
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