Publicado 26/08/2024 19:52
Brasília - Após ser questionado sobre a possível ligação de membros de seu partido com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), o influenciador Pablo Marçal, candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PRTB, pediu nesta segunda-feira, 26, ajuda para "limpar" a legenda de possíveis criminosos. Em entrevista ao canal CNN Brasil, Marçal propôs uma "campanha nacional" para higienizar o partido de uma suposta infiltração do crime organizado.
PublicidadeComo relevou o Estadão, o ex-presidente estadual do PRTB de São Paulo Tarcísio Escobar de Almeida foi indiciado pela Polícia Civil por tráfico de drogas e associação ao crime organizado. De acordo com a investigação policial, Escobar trocava carros de luxos por cocaína para o PCC, financiando o tráfico de drogas e dividendo os seus lucros. Além disso, o presidente nacional da sigla, Leonardo Avalanche, disse, em áudio relevado pela Folha de S. Paulo, que mantém vínculo com o PCC.
Adversários de Marçal têm utilizado o envolvimento de integrantes do partido do influenciador com o crime organizado para atacá-lo. O ex-coach, por sua vez, afirma que não tem nenhuma ligação com essas acusações e defende que as suspeitas sejam investigadas e os culpados, punidos.
"Sobre pessoas do PCC no meu partido, eu queria pedir à Polícia Civil, à Polícia Federal, à Polícia Militar, por favor, se vocês sabem que eles estão no meu partido, por que vocês não prendem esses caras?" afirmou Marçal em entrevista à CNN. "Quero fazer uma campanha nacional, me ajude a limpar o PRTB. Se o partido é pequeno, o que o PCC tá fazendo lá?".
Eu quero que todo brasileiro que queira servir na política consiga ingressar com a sua candidatura sem partido político. Tô falando isso, eu já falei isso antes de ingressar no PRTB, e do tanto que vocês pegam no pé, eu faço dois pedidos. Por favor, prendam os bandidos, segundo pedido, me ajude, Brasil, queira a mesma coisa que eu tô querendo".
Na entrevista, Marçal voltou a afirmar, sem apresentar provas, que dois de seus adversários são usuários de drogas. Ele disse que, no último debate eleitoral, que será transmitido pela TV Globo no dia 3 de outubro, vai apresentar provas de que o candidato do PSOL, Guilherme Boulos, já foi detido com drogas. O Estadão procurou a assessoria de Boulos, às 16h30 deste segunda-feira, 26, para que o candidato comentasse as declarações de Marçal, mas não houve retorno até a publicação desta reportagem.
Bolsonaro 'curvou a cervical' por Valdemar
Marçal também afirmou nesta segunda que o termo "bolsonarismo" foi criado pela esquerda para associar o crescimento do conservadorismo no País ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Marçal também declarou que nem ele nem Bolsonaro controlam esse movimento. Nas últimas semanas, o ex-coach tem ganhado força nas pesquisas eleitorais, especialmente entre o eleitorado bolsonarista, apesar de o ex-presidente apoiar formalmente a reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB) na capital paulista.
"A esquerda criou o nome bolsonarismo para ver se faz com que todo mundo tenha a cara do presidente [Jair Bolsonaro]. Nós que somos defensores da liberdade, eu tenho um recado para todo mundo, qualquer brasileiro que estiver em qualquer lugar do mundo, a liberdade não tem dono. Não é o Pablo Marçal que manda nisso, não é Bolsonaro que manda nisso", disse o influenciador, acrescentando que, "por conta do Valdemar Costa Neto [presidente nacional do PL], o Bolsonaro teve que curvar a [coluna] cervical [ao prefeito Ricardo Nunes]".
Apesar das declarações, o candidato do PRTB afirmou que "não vai se levantar" contra Bolsonaro, a quem considera um "grande líder". Recentemente, Marçal e Bolsonaro protagonizaram um desentendimento no Instagram, em que o ex-presidente respondeu ao influenciador com ironia. Questionado sobre o episódio, Marçal, sem apresentar provas, afirmou que foi o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PL), filho do ex-presidente, quem publicou o comentário. Marçal ainda chamou Carlos de "retardado" e disse que ele prejudicou Bolsonaro na eleição passada.
O Estadão procurou a assessoria de Jair Bolsonaro para que o ex-presidente comentasse as declarações de Pablo Marçal. No entanto, não houve retorno até a publicação desta reportagem
Bate-boca com jornalista
Durante a entrevista, Pablo Marçal interrompeu a jornalista e analista política Clarissa Oliveira ao ser questionado sobre sua condenação a quatro anos e cinco meses de prisão por participação em um esquema que desviava dinheiro de contas bancárias. O caso ocorreu nos anos 2000, e a condenação foi proferida em 2010. Marçal recorreu da sentença e não cumpriu pena, pois a condenação acabou prescrevendo.
O bate-boca iniciado pelo influenciador serviu para desviar o foco da pergunta, enquanto ele repetia a versão de que o caso ocorreu há mais de 20 anos, alegando que foi vítima de uma injustiça e que, na época, não tinha dinheiro para pagar um advogado. Como mostrou o Estadão, além de capturar e-mails de vítimas para a quadrilha de furto de contas bancárias, Marçal usava na época dos golpes carros cedidos pela organização para passear.
Outro momento de tensão na entrevista ocorreu quando o ex-coach foi questionado sobre a viabilidade de sua proposta de implementar teleféricos em São Paulo. Marçal afirmou que, por apresentar ideias diferentes das dos outros candidatos, tem sido alvo de críticas. "Claro que [o teleférico] é [factível]", disse após questionado sobre o tema. "[Ele é] Cinco vezes mais barato do que fazer buraco de metrô no chão, é ecológico, silencioso, não para, e é para honrar as comunidades".
Suspensão de redes sociais
Desde o fim de semana, Pablo Marçal está com suas contas nas redes sociais temporariamente suspensas por decisão judicial. O Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) atendeu a um pedido do PSB, partido da candidata Tabata Amaral, que alegou que Marçal estaria cometendo abuso de poder econômico ao pagar para que terceiros produzissem vídeos curtos e descontextualizados - os chamados cortes - para impulsionar sua candidatura nas redes.
Os advogados de Pablo Marçal entraram com um recurso para reverter a decisão liminar. Durante a entrevista, o influenciador reiterou que não cometeu nenhuma ilegalidade e afirmou que não coloca dinheiro próprio na campanha. "As pessoas vivem disso [de cortes]. A plataforma TikTok paga por visualização, o YouTube paga por visualização. Esse povo é que devia me pagar por usar minha imagem, você não está entendendo. Não fui eu que coloquei dinheiro nisso", declarou.
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