Enem é o principal caminho para o estudante brasileiro conquistar uma vaga em uma universidadeFoto: Fabio Rodrigues Pozzebom - Agência Brasil
Publicado 31/08/2024 05:00
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é o principal caminho para o estudante brasileiro conquistar uma vaga em uma universidade e seguir sua carreira dos sonhos. Porém, alcançar os objetivos nem sempre é tarefa fácil. Com o grande número de candidatos e o alto nível de concorrência, é comum que apenas uma tentativa acabe não sendo o suficiente. Nesse cenário, como reunir forças para não desistir dos sonhos e persistir? Como se preparar para uma nova tentativa? O DIA conversou com alguns ex-vestibulandos que viveram essa experiência em busca de suas histórias e dicas. 
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Íris Loren, hoje aluna de Medicina da UFRJ, contou um pouco sobre sua trajetória e as dificuldades encontradas durante os cinco anos até conseguir sua aprovação. Ela diz que, no vestibular, é preciso sempre se superar. ''A competição não é só com os outros, mas com você mesmo. Tive que deixar minha preguiça, orgulho e falta de disciplina de lado em prol de um objetivo maior. Perceber isso exige uma maturidade que é difícil de conquistar, pois é preciso sair da zona de conforto. É muito difícil persistir depois de não conseguir passar algumas vezes. A sensação que dá é de que a hora da aprovação nunca vai chegar'', diz.
 Íris Loren, aluna de Medicina da UFRJ - Divulgação
Íris Loren, aluna de Medicina da UFRJDivulgação


Apesar das dúvidas, incertezas e dificuldades, Íris conta que manteve o foco. Para ela, não existia um plano B ou um atalho. Seu sonho era a Medicina e, para isso, precisou entender que a aprovação não ''cairia do céu'', e que esse futuro dependia dela. Além da autodisciplina, a estudante também destacou a importância de se ter uma rede de apoio para se manter firme durante o caminho. ''A aprovação foi um processo de muito amadurecimento pessoal e de muitas adversidades, mas tive muito apoio dos meus professores e amigos que estavam passando pelo mesmo. Isso foi imprescindível para que eu me mantivesse firme mesmo em meio às adversidades naturais do processo. Ninguém constrói nada sozinho'', conta.

Para aqueles que estão na mesma situação e seguem em busca de seus objetivos, o conselho de Íris é não achar que o sonhado momento da aprovação não vai chegar. ''Eu percebi que quem planta, inevitavelmente, colhe em algum momento. O tempo é impreciso, então cada um pode demorar mais ou menos para chegar, mas a vitória de quem trilha é certa. Na minha época de cursinho, gostaria de ter ouvido que ninguém vai se importar com a quantidade de anos que alguém leva para passar na faculdade'', afirma. 
Para o período de preparação, Íris sugere que não se esqueça da saúde mental. Mesmo com o foco nos estudos, se permitir momentos para sair com amigos, ir à praia, fazer academia ou assistir um filme é essencial para garantir que, no restante da semana, a cabeça estará descansada para conseguir seguir de forma produtiva e saudável.
Pâmella Labanca, aprovada em Comunicação Social na UFPB (Universidade Federal da Paraíba) e na Uerj após três tentativas, também contou a sua experiência. Ela diz que uma que uma das suas maiores dificuldades foi o sentimento de permanecer no mesmo lugar enquanto seus amigos iam embora.
Pâmella Labanca, aprovada em Comunicação Social na UFPBDivulgação
''No Ensino Médio eu estava acostumada a estudar com as mesmas pessoas há bastante tempo, e algumas seguiram comigo quando fui para um cursinho. Conforme elas eram aprovadas e eu reprovada, fui ficando sozinha. Cada aprovação de um amigo e a minha reprovação eu vivia o luto duplamente, primeiro por ter sido reprovada e segundo por perder companhias que eram fundamentais no meu dia a dia. Sem contar a clássica ansiedade e o desespero de achar que a vida de todo mundo estava avançando enquanto eu seguia estagnada'', diz. 
Apesar das dificuldades enfrentadas, Pâmella diz que sua motivação para seguir em frente era muito simples. Sua família não tinha condições financeiras de arcar com uma faculdade particular, então seu único caminho para seguir a carreira que desejava era conseguir uma vaga em uma pública. ''Como muitos jovens fazem, eu poderia começar a trabalhar e auxiliar no pagamento da própria faculdade. Mas a minha família me proporcionou a possibilidade de continuar no cursinho, me dedicando apenas aos estudos, para conseguir alcançar a aprovação em uma faculdade pública'', conta.
Sobre o ano de sua aprovação, ela diz que foi importante parar de ouvir os outros e fazer o que funcionava para ela. No seu caso, foi a dedicação total aos estudos, abrindo mão de praticamente qualquer tempo livre.
''Para mim, o equilíbrio entre estudar, descansar, se exercitar, sair e encontrar amigos não funcionou. Eu nunca soube encontrar um equilíbrio ideal entre as coisas e ficava me culpando por isso. No momento que fui reprovada pela última vez eu decidi que iria viver os próximos meses em função da aprovação e só iria me preocupar com as demais áreas da minha vida depois disso.''
Pâmella conta que viveu um ano de completo isolamento, em que o seu único momento de escape eram os intervalos entre as aulas. Passava o dia todo no cursinho, com aulas pela manhã e estudando por conta própria na biblioteca na parte da tarde, e só voltava para casa para dormir. Mesmo abdicando de muito e passando por momentos difíceis, ela considera que tudo valeu a pena para alcançar os seus objetivos.
''Nesse ano de total abdicação eu estava muito alinhada com o meu propósito, eu escolhi fazer aquilo do meu jeito e tendo em mente que seriam cerca de 10 meses completamente 'off' para depois voltar a me preocupar com outras questões da minha vida. Óbvio que tiveram dias ruins e tardes de choro incessante, mas eu decidi seguir daquela forma e sustentava as minhas decisões de forma incisiva. No final, foi o que deu certo para mim e resultou na minha aprovação'', conclui.
Andressa de Luca, aprovada em Arquitetura na PUC com bolsa conquistada através do Enem, compartilhou um pouco sobre sua jornada e os desafios que enfrentou ao longo dos anos em que prestou o exame. Durante o terceiro ano do ensino médio, ela conta que passou em diversos cursos, como Design Industrial e Design na UFA, mas seu verdadeiro sonho era Arquitetura.
Andressa de Luca, formada em Arquitetura pela PUCDivulgação
"Eu ainda não tinha passado em Arquitetura em uma federal, só em particular, então decidi que precisava tentar novamente. Foi muito difícil, porque todos os meus amigos já estavam na faculdade, a maioria deles em cursos diferentes do que buscavam, mas Arquitetura era o meu objetivo. Acho que a maior dificuldade foi manter o foco, abrir mão dos fins de semana e entender por que eu estava lá, por que eu tinha escolhido isso. Para mim, fazia sentido seguir a área que eu gosto, e não outra coisa qualquer", conta.
Para Andressa, conhecer outras pessoas que estavam na mesma situação foi de grande ajuda. Ela formou um grupo de estudos em que passava bastante tempo, e conheceu outros estudantes que já haviam feito o Enem mais vezes do que ela e seguiam para uma nova tentativa. 
Sua principal motivação para seguir estudando e não desistir foi se imaginar seguindo sua carreira dos sonhos.  ''Eu me imaginava sendo arquiteta, fazendo o que eu gostava. Conhecer profissionais formados em Arquitetura, recém-formados ou estudantes, e saber como era a vida deles no setor que eu queria, também foi essencial", destaca.

O conselho de Andressa para quem está passando pelo mesmo processo é insistir, mesmo que pareça demorado. "Hoje, depois de formada, vejo que tudo valeu a pena. Consegui a bolsa através do Enem, e mesmo não tendo passado nas federais, percebi o quanto melhorei em várias áreas. Na última vez, tirei 980 na redação, o que me ajudou muito no curso e, posteriormente, no mestrado no exterior. A motivação não é só para o Enem, mas para a vida toda. Você precisa continuar com a mesma motivação para seguir o que quer ser na vida", finaliza.
 
*Matéria do estagiário Diego Cury, sob supervisão de Marlucio Luna
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