Deputado Gustavo Gayer (PL)Reprodução
Publicado 25/10/2024 14:47 | Atualizado 25/10/2024 14:50
Uma investigação da Polícia Federal (PF) aponta indícios que o deputado bolsonarista Gustavo Gayer (PL) financiou os atos golpistas de 8 de janeiro com dinheiro público. Segundo o relatório enviado pela corporação ao Supremo Tribunal Federal (STF), o político atuou em conluio com um empresário de Goiás para desviar recursos da cota parlamentar para movimentar e direcionar os atos antidemocráticos em 2023.
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Nesta sexta-feira (25), o parlamentar e assessores foram alvos de uma operação da PF. Os agentes foram às ruas para cumprir 19 mandados de busca e apreensão em Brasília e nas cidades goianas de Valparaíso de Goiás, Aparecida de Goiânia, Goiânia e Cidade Ocidental. As ordens foram expedidas pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF.
Segundo a PF, após terem sido deferidas as medidas de busca e apreensão, quebra de sigilo telemático e prisão preventiva contra João Paulo de Sousa Cavalcante, por ter financiado, incitado e participado dos ataques aos edifícios-sedes dos Três Poderes em Brasília, elementos foram colhidos que indicavam prática de corrupção.
"Após a análise do celular apreendido em poder de João Paulo de Sousa Cavalcante, a Polícia Federal colheu elementos informativos do desvio de recursos públicos para a prática dos atos antidemocráticos, prática levada a efeito conjuntamente com o deputado federal Gustavo Gayer Machado de Araújo", aponta.
"Tais fatos serviram de base à instauração da PET n.º 12.042/DF, na qual foi concedida autorização para a investigação do parlamentar", relatam os investigadores.
A investigação também diz que o deputado Gustavo Gayer foi o responsável por sugerir a contratação desse assessor e da empresa dele, que posteriormente recebeu verbas de cota parlamentar.

"Gustavo Gayer era quem dava a última palavra (autoria intelectual). Ora, foi ele quem assinou o ofício oferecendo a assessoria a João Paulo, e, posteriormente, ciente do impedimento que inquinava este último, imprimiu expedientes fraudulentos consistentes na contratação da empresa", diz a PF.

O relatório da investigação ainda destaca que a empresa "Goiás Online", cujo objeto seria publicidade e marketing, "na verdade, gerenciava a agenda do deputado federal Gustavo Gayer", que, de acordo com a corporação, contraria os termos das notas fiscais emitidas, e "confirmaria a conduta criminosa elencada pela Polícia Federal".
Operação
A PF investiga suposta falsificação de documentos para a criação de uma Organização de Sociedade Civil de Interesse Público. Segundo a corporação, o objetivo do grupo ligado a Gustavo Gayer seria destinar verbas parlamentares para essa organização. Durante as buscas, os agentes apreenderam R$ 72 mil com o assessor do político. 
A apuração teve início no contexto dos atos do 8 de janeiro. Nesta quinta, Gayer teve o celular apreendido, assim como cartões de memória e hds externos. Em um vídeo divulgado pelas redes sociais, ele afirmou ter sido acordado às 6h com a porta de sua casa, em Goiânia, sendo "esmurrada" pelos agentes. Ele, porém, disse não saber o motivo de ter sido alvo da operação e atribuiu a investigação a questões eleitorais.
"Eu nunca fiz nada de errado. Nunca cometi nenhum crime, mas estou sendo tratado igual um criminoso pela Polícia Federal e pelo Alexandre de Moraes", afirma Gayer.

Segundo a polícia, Gayer tentou contratar o empresário como secretário parlamentar, mas não foi possível devido a impedimentos legais. Para contornar, foi constituída uma empresa no nome do empresário e o gabinete do deputado a contratou. Foram pagos R$ 24 mil em três parcelas.

Conforme a PF, a referida empresa foi usada para viabilizar o "recebimento de recursos públicos indevidos em razão de atividades políticas ilegítimas". A investigação detalha que o parlamentar utilizou recursos da Câmara dos Deputados para manter a atividade de uma escola de inglês chamada Gustavo Gayer Language e de uma loja de venda de roupas que estava no nome do filho dele.

A ofensiva apura supostos crimes de associação criminosa, falsidade ideológica, falsificação de documento particular e peculato-desvio.

Segundo a PF, o nome da operação faz referência ao "transtorno de aprendizagem relacionado a números", uma vez que foi identificada falsificação na ata de Assembleia da constituição da Organização de Sociedade Civil de Interesse Público sob suspeita.

A corporação aponta que o documento foi registrado em data retroativa, 2003, implicando em o quadro social, à época, ser formado por crianças de 1 a 9 anos.
 
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