Publicado 03/11/2024 15:05
O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2024 foi "Desafios para a valorização da herança africana no Brasil". A informação foi divulgada neste domingo (3) pelo ministro da Educação, Camilo Santana, pela rede social X.
Publicidade"Trata-se de um tema absolutamente relevante para ser discutido pelos jovens brasileiros em 2024. A herança africana no Brasil é extremamente importante para a formação do que nós chamamos de cultura brasileira em aspectos linguísticos, religiosos e culturais", afirma Thiago Braga, professor e autor do Colégio e Sistema pH. Ele explica que elementos como, por exemplo, a apropriação cultural e o resgate da memória são pontos importantes a serem trabalhados pelos alunos nesse tema.
Em relação à fuga do ponto principal do tema, Braga continua: "Sem dúvida nenhuma, há muitos argumentos que vão tocar em pontos como a desigualdade cultural, como o próprio racismo. Mas é importante ressaltar que esses não são os temas, não se trata de um tema de racismo".
Esta é a terceira edição seguida que o Enem usa o termo "desafios" na proposta de redação. "A palavra 'desafios' é importante para que o candidato reflita sobre o que de fato impede o Brasil de reconhecer e valorizar suas raízes africanas", comenta Caroline Lucena da Silva, coordenadora de Língua Portuguesa, Literatura e Redação do Elite Rede de Ensino.
Nas redes sociais, a especulação era de um tema relacionado à questão ambiental no Brasil. "Este é mais um acerto do Inep, porque sabemos do caráter pedagógico da proposta e que os temas de redação viram pautas para reportagens de diferentes veículos", reflete Juliana Rettich, Coordenadora e professora de redação do PB Colégio e Curso.
Sobre o desenvolvimento da argumentação, Juliana instrui que se deve trabalhar os conceitos de descolonização e decolonialidade. O primeiro refere-se à busca pela reconstrução da soberania cultural, econômica e educacional dos países anteriormente colonizados. Já o segundo abrange a desconstrução estruturas de pensamento e as normas culturais, políticas e epistemológicas impostas pelos colonizadores.
"O nosso primeiro desafio é combater o epistemicídio, o assassinato do conhecimento, história e cultura produzidos pelos povos africanos e afrodiaspóricos. Esse apagamento é uma ferramenta de poder para manter no imaginário social a inferiorização dos povos de África o que perpetua o racismo no Brasil", esclarece Juliana. "Como já disse Januário Garcia, existe uma história do negro sem o Brasil, mas não existe uma história do Brasil sem o negro. A África é o berço da humanidade e da civilização, precisamos urgente nos voltar para os registros que temos sobre isso, desde a filosofia à medicina, a África contribuiu com o progresso de toda a humanidade."
*Matéria da estagiária Aline Fernandes, sob supervisão de Thiago Antunes
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