Fábio Pinheiro Lopes, conhecido como Fábio Caipira, estava à frente do Deic quando Gritzbach era investigadoReprodução
Publicado 20/12/2024 19:28
O governo de São Paulo afastou o diretor do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), Fábio Pinheiro Lopes, após o policial ter sido citado na delação do empresário Antônio Vinicius Gritzbach, envolvido em esquemas de lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC). Em depoimento em setembro, Gritzbach, assassinado no começo de novembro, disse que repassou dinheiro ao seu advogado para subornar o delegado e outras autoridades.
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Pinheiro Lopes, conhecido como Fábio Caipira, chamou o afastamento de "injustiça". Ele estava à frente do Deic quando Gritzbach era investigado pelo assassinato de Anselmo Santa Fausta, vulgo Cara Preta, um dos líderes do PCC. O delegado afirma que a investigação sobre Gritzbach foi feita "na mais estrita legalidade" e diz que ele "jamais obteve qualquer vantagem".
A medida, conforme a Secretaria da Segurança Púbica, foi tomada para "garantir a isenção das investigações". Além de Lopes, foi afastado o delegado Murilo Fonseca Roque, hoje em atuação em São Bernardo do Campo, região metropolitana. Segundo depoimento de Gritzbach, Roque também seria um dos destinatários de propina paga pelo delator quando era titular do 24º Distrito Policial (Ponte Rasa), no começo de 2022. A defesa do policial não foi localizada.
A delação de Gritzbach cita também o deputado estadual Delegado Olim (PP). Ele teria participado, ao lado de Lopes Pinheiro e Roque, de um reunião com o advogado do empresário, segundo o depoimento. O defensor, Ramsés Gonçalves, teria cobrado R$ 5 milhões do delator, sendo R$ 800 mil para honorários e o restante (R$ 4,2 milhões) supostamente para pagar propina. Olim nega as acusações e diz que nunca manteve contato próximo ou imediato com o delator.
"Me encontrei com esse advogado apenas uma vez, por poucos minutos, em 29 de abril de 2022", afirmou Pinheiro Lopes em coletiva de imprensa realizada nesta sexta-feira, 2, na região central de São Paulo. "Ele chegou à minha sala perguntando sobre o caso (de Gritzbach) e eu o encaminhei ao delegado responsável", disse. "Não recebo advogado de bandido."
Lopes disse que ainda não foi informado formalmente sobre o seu afastamento do cargo e recebeu a notícia pela imprensa. O diretor está de férias e apenas teria sido convocado para uma conversa no seu retorno, em janeiro. "Também não sei mais se quero ficar na linha de frente", disse. "Não vale à pena: ver meus filhos chorando por uma injustiça como essa."
Em nota enviada mais cedo à reportagem, o delegado afirmou que, durante as investigações sobre o homicídio de Cara Preta, Gritzbach foi indiciado, foi pedida a decretação de sua prisão e o bloqueio de seus bens, entre eles imóveis, um helicóptero e dois barcos.
"O passaporte dele continua apreendido no Deic até hoje. Além disso, os dois apartamentos que esse criminoso alegou terem sido usados para pagar propina estão em nome do próprio advogado Ramsés e da filha dele. A declaração dele (Gritzbach) é, portanto, cabalmente desmentida pelos fatos", afirmou.
Na delação, Gritzbach contou que o advogado Ramsés Gonçalves passou a representá-lo no começo de 2022. Na época, segundo o depoimento, o advogado disse que teria feito reunião com o deputado Olim e com os delegados Murilo Roque e Fábio Lopes. O advogado teria cobrado R$ 5 milhões do delator: R$ 800 mil para honorários e o restante (R$ 4,2 milhões) supostamente para pagar propina.
O delator afirmou que, como forma de pagamentos, ele teria dado dois apartamentos e "diversos cheques". Ainda teria entregue uma quantia em espécie (valor não especificado) e feito transferência de R$ 300 mil. Não fica claro se todo o valor foi pago.
"Ou Gritzbach deliberadamente faltou com a verdade para obter vantagens em seu acordo de delação premiada, ou foi enganado pelo advogado Ramsés, o qual aliás possui diversos registros por crime de estelionato", disse Pinheiro Lopes.
Já o advogado Ramsés Gonçalves refutou as acusações. "Nunca contribuí direta ou indiretamente para corromper agentes públicos, tampouco usei de influência para tal", afirmou, por meio de nota. Também disse "não ter tratado em momento algum sobre a investigação do Sr. Vinicius com os agentes públicos mencionados na denúncia".
Ainda conforme o defensor, Gritzbach "procurou fazer mau uso de instituto sério da contribuição premiada para desviar o foco das investigações que pairavam sobre si, bem como para se promover financeiramente, já que com ela teve todos seus bens desbloqueados e passou a ter uma vida normal, mesmo confesso da prática dos mais diversos crimes".
Delegada solicita desligamento da Corregedoria
Além do afastamento de Pinheiro Lopes e de Roque, a delegada Rosemeire Monteiro de Francisco Ibanez solicitou o desligamento da Corregedoria da Polícia Civil e se colocou à disposição da instituição para seguir em outro setor. A mudança que deve ser efetivada na próxima semana, segundo a Secretaria da Segurança Pública.
Como mostrou o Estadão, ela é tia de Eduardo Lopes Monteiro, um dos três investigadores presos nesta semana pela Operação Tacitus, incursão feita pela Polícia Federal em parceria com o Ministério Público de São Paulo. A ação foi resultado do cruzamento de diversas investigações sobre o PCC e consequência da delação de Gritzbach.
Entre os presos, além de Monteiro, estão o delegado Fábio Baena e os investigadores Marcelo Ruggieri e Marcelo Bombom. O policial Rogério de Almeida Felício, também alvo, está foragido. Além deles, a operação ainda prendeu quatro pessoas apontadas como os principais responsáveis pela lavagem de dinheiro da facção.
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