Denunciante de 38 anosArquivo
Publicado 18/10/2024 18:54 | Atualizado 18/10/2024 19:47
Cabo Frio - O que era para ser uma ida ao psicólogo para enfrentar as cicatrizes do passado, tornou-se um verdadeiro pesadelo para uma mulher de Cabo Frio. A paciente, que prefere não se identificar, denuncia que, no último dia 11, durante a segunda sessão de terapia na Clinilagos, localizada no bairro São Cristóvão, sofreu uma tentativa de estupro por parte do terapeuta, Roberto Felipe Leal de Souza.
Publicidade
A mulher, de 38 anos, havia iniciado o tratamento na clínica no dia 1º de outubro, buscando ajuda para lidar com traumas de um abuso sexual ocorrido na infância. A escolha pela Clinilagos, segundo ela, foi motivada pelo valor acessível das consultas, a preço popular.
Na primeira sessão, de anamnese, ela apenas compartilhou parte de sua vida e o terapeuta recomendou um livro antes de agendar a consulta seguinte para dez dias depois. Nesse período, a mulher afirma ter notado comportamentos pouco peculiar por parte do profissional, que enviava mensagens frequentes por aplicativo de mensagens, alegando serem de uma lista de transmissão, mas com um conteúdo que parecia direcionado a ela. Além disso, ele enviava banners com frases como “No meio da dificuldade, encontra-se a oportunidade” junto com sua própria foto. A vítima, que nunca teve contato com psicólogos antes, achou que era comum, e não interviu.
Na segunda sessão, dia do ocorrido, a paciente relatou ter encontrado o psicólogo vestido com uma capa de super-herói, o que ele justificou dizendo que havia atendido uma criança anteriormente. Durante a consulta, a mulher tomou coragem e decidiu falar sobre o abuso que sofreu na infância, momento em que o terapeuta começou a elogiá-la excessivamente, perguntando se ela algum "relacionamento íntimo" e a chamando de "linda" e "cheirosa", dentre outros elogios.
A vítima relata que as coisas teriam ficado ainda mais estranhas ao fim da sessão, quando Roberto teria insistido que ela não poderia sair sem um abraço. A mulher afirma que o aperto foi excessivamente forte e, em determinado momento, o coração dele começou a acelerar sem razão aparente. Inicialmente, ela pensou que poderia ser uma "terapia do abraço", mas a situação piorou.
A paciente afirma que, em seguida, o terapeuta a pressionou contra a parede e a beijou de língua, tentando avançar ainda mais, conforme relato. O profissional também teria passado a mão pelo corpo da vítima, nos seios e nas nádegas, tentando, ainda, colocar a mão por dentro da roupa, além de proferir palavras obscenas, insistindo para que ela não fosse embora.
Em determinado momento, a vítima conta que mandou ele parar, mas sem sucesso. Posteriormente, conseguiu se desvencilhar, ansiosa para sair do local. Entretanto, antes de fugir, ele teria afirmado que isso fazia parte da terapia, "pois ela precisava de um homem" e teria pedido que lavasse o rosto para que “as pessoas não pensassem algo errado dela”. A vítima, em estado de choque, saiu da clínica e decidiu, inicialmente, não comentar o episódio com ninguém.
Somente nesta quinta-feira (17), após ler uma matéria jornalística com um tema sensível, a vítima teve um gatilho emocional, resultando em uma forte crise de ansiedade. Diante do ocorrido, ela decidiu contar tudo à família e buscar ajuda. Ela foi levada ao Centro Especializado de Atendimento à Mulher (CEAM), sendo encaminhada, em seguida, à Delegacia de Atendimento à Mulher (DEAM) de Cabo Frio, onde registrou o boletim de ocorrência contra o terapeuta.
O Dia entrou em contato com o Roberto Felipe Leal de Souza, que, em resposta, negou as acusações, afirmando, inicialmente, desconhecer do que se tratava. Ao ser comunicado sobre o nome da vítima, disse que iria procurar seus advogados e comparecer à delegacia para esclarecer a situação.
Vale pontuar que a versão dada por Roberto contradiz o depoimento de uma familiar da vítima, que afirma ter entrado em contato com o profissional no dia anterior. Inicialmente, ele teria mencionado que havia recebido uma indicação de uma paciente e, em seguida, mencionou o nome da parente. Ela relata que, logo depois, disse a ele que a vítima "possui família e que iria representar contra ele no Conselho Regional de Psicologia".
Como resposta, a parente afirma que o psicólogo, após gaguejar várias vezes, apenas concordou.
Além disso, pouco após o contato com o terapeuta, um homem identificado como Flávio Falcão, que se disse amigo de Roberto, entrou em contato com a redação para tentar impedir a publicação da denúncia.
Já a Clinilagos, ao ser questionada, explicou que, assim que os diretores ficaram cientes, solicitaram o afastamento do psicólogo e a suspensão de sua agenda. Esclareceram ainda que Roberto atuava há 45 dias na clínica, após indicação de um colega.
Mencionaram também que, nesta sexta-feira (18), a clínica foi intimada a prestar esclarecimentos na próxima terça-feira (22) e está reunindo imagens de segurança para cooperar com o processo. Fizeram questão de pontuar, ainda, que estão dispostos a cooperar com a polícia e com a paciente.
A denúncia também foi comunicada ao Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro, que emitirá um posicionamento oficial sobre o caso.
Leia mais