A prefeitura, através da Secretaria de Obras, continua questionando Águas do Paraíba Foto Divulgação
Publicado 30/07/2024 19:24
Campos – A polêmica em torno da água potável consumida em Campos dos Goytacazes (RJ) – que há mais de uma semana apresenta gosto e odor semelhantes a “pó de broca” – ganha mais um item que pode comprometer a credibilidade de Águas do Paraíba, responsável pelo abastecimento do município: a Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura considera inverdade informação da concessionária sobre volume de análises realizadas e volta a notificar a empresa, inclusive antecipando que deverá multá-la.
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A secretaria é responsável pela fiscalização do Contrato da Concessão e já havia notificado Águas do Paraíba duas vezes, por orientação do prefeito Wladimir Garotinho. O governo municipal também sugere cobrança de recompensa aos consumidores pelo período de consumo impossibilitado; tendo sido feitas duas notificações.
Em resposta à primeira, a concessionária teria apenas apresentado argumentos para enaltecer os serviços prestados, a exemplo do que havia feito em notas para esclarecer à opinião pública. Mas, na avaliação da Secretaria de Obras, não convence e exagera ao dizer que realiza 20 mil análises mensais em pontos estratégicos do rio Paraíba do Sul.
O jornal teve acesso aos termos da nova notificação, feita nesta terça-feira (30). A secretaria não só analisa como “uma absoluta inverdade” o anúncio de “20 mil análises mensais”, como argumenta que “esse número mensal resultaria em impossíveis 666 análises por dia”. Há ainda alegação de que não houve resposta quanto ao gosto e ao cheiro da água servida à população.
De acordo ainda com o que expressa a notificação, o cerne da questão é desfocado pela concessionária e que isto já justificaria penalizar a empresa, “por descumprimento do item ‘11’ da cláusula 5ª do contrato que impõe fornecer ao poder concedente (governo municipal) as informações que forem solicitadas na linha do interesse público.
É ainda questionada a lisura na realização dos exames que a empresa expõe terem sido feitos nos dias 19 e 20 de amostras tiradas do Rio Paraíba. A secretaria aponta que as amostragens foram “de dois pontos distintos, do encontro com o Rio Murié, em Três Vendas, e de frente para a ETA (Estação de Tratamento) da Coroa.
CARVÃO ATIVADO - O teor da notificação ressalta que, no relatório, “em nenhum dos exames se fez referência aos microorganismos que dão causa à geosmina, negando haver a causa, ainda que admitindo o efeito do gosto e do cheiro de ‘pó de broca’ na água tida como adequadamente tratada”. Constata ainda que “em parte alguma do ofício ou nos relatórios, a empresa nega o fato da água servida por ela, a partir da ETA-Coroa estar apresentando gosto e cheiro”.
Está clara nesta terceira notificação a descrença da fiscalização no que Águas do Paraíba informa até agora. O jornal entrou em contato com a concessionária. Em nota, ela diz que para garantir a qualidade da água tratada na ETA Coroa, neste período em que há um aumento expressivo na floração de algas no Rio Paraíba do Sul, adicionou o uso de carvão ativado no processo de tratamento de água.
A empresa explica que “o carvão ativado possui características que não são nocivas ao meio ambiente e é amplamente reconhecido e recomendado por sua eficácia na remoção de compostos orgânicos, incluindo aqueles produzidos pelas cianobactérias, decorrentes da floração de algas no manancial de captação”.
Informa que, “devido à necessidade de alta dosagem de carvão ativado no processo de tratamento para garantir água sem gosto e odor, aconteceu um extravasamento de água de lavagem de filtros com presença de carvão ativado no Rio Paraíba do Sul”.
E conclui: “Este fato ocorreu devido à recomendação técnica para a não recirculação desta água de lavagem dentro do sistema de tratamento, visando garantir os padrões de potabilidade”. No entanto, não fala sobre a nova notificação, nem, especificamente, responde sobre a “inverdade” a ela atribuída.
INDAGAÇÕES - Dado a urgência urgentíssima da situação, é estabelecido pela secretaria o prazo de 24 horas, a ser encerrado na tarde desta quarta-feira, para a empresa “explicar por qual razão não identificou no aspecto esverdeado da água bruta a possibilidade de existir o elemento que dá causa ao efeito gosto/cheiro na água provocado pela geosmina e/ou ao 3-MIT”.
Mais um questionamento: “Por qual razão, considerando o baixo nível do rio, com o aumento da densidade da poluição, não ampliou o campo das análises laboratoriais para detectar possíveis microorganismos que façam mal a saúde e aos sentidos do ser humano; que dificultariam sua neutralização na ETA”?
Outra indagação formatada nas cobranças feitas pela Secretaria de Obras é: “Apesar de ter afirmado na resposta à Notificação 91 sobre a possibilidade das algas no Rio Paraíba, com a compreensão de que nesta época do ano as mesmas se alastram; por qual razão não procedeu pelo tratamento adequado da água na ETA, considerando-as”?
É cobrada justificativa para a persistência do gosto e cheiro na água e a maneira para resolver em definitivo o caso caso, com data definida. Além de outras exigências, a notificação enfatiza que o não atendimento, no prazo, “implicará na multa diária disposta na Cláusula 13ª do Contrato, até que fique removido esse gosto e cheiro da água potável”.
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