Delegada Madeleine afirma que sua vida foi transformada através de estudo e do seu esforço Foto Divulgação
Publicado 25/08/2024 12:53 | Atualizado 25/08/2024 13:11
CAMPOS - Promover o crescimento da cidade, enfrentando desafios com uma liderança focada na transformação e melhoria. Este é o objetivo da delegada da Polícia Civil Madeleine Dykeman, ao decidir concorrer ao cargo de prefeita de Campos dos Goytacazes (RJ). É o primeiro desafio da policial no campo político-eleitoral.

Delegada Madeleine tem 42 anos de idade (16 como policial), está filiada ao União Brasil e entra na disputa acreditando que “vai acontecer”. Tem na vice o ceramista Oziel Batista Crespo, do PSB, que integra à coligação “Campos pode mais”, da qual fazem parte, também, Solidariedade, PSD, PSDB e Cidadania.

A experiência como delegada de polícia reforça a pretensão de administrar uma cidade do porte de Campos: “Por onde passei transformei. Óbvio que existe diferença entre uma delegacia e uma prefeitura; mas, quando há comprometimento, trabalho e principalmente, compromisso com a sociedade, o resultado aparece”, argumenta.

A candidata reconhece que o problema do transporte urbano é complexo e apresenta solução: “É adotar o projeto tronco-alimentador, usado nas principais cidades do mundo”. Antecipa que tem proposta para reformular o sistema e modernizá-lo; aliando tecnologia com inteligência para oferecer um serviço de qualidade. Porém, é contra a tarifa zero.

Acabar com dificuldades para marcação de exames está entre as prioridades na saúde. Nesta entrevista, Madeleine diz ainda o que pensa para educação, agricultura, turismo, empregabilidade e desenvolvimento humano. Ao avaliar o nível das campanhas, a delegada afirma que não votaria em candidato que não tem proposta coerente.

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ENTREVISTA
O DIA – Qual a avaliação que a senhora faz da sua campanha?

MADELEINE - Avalio positivamente. Tenho percorrido por toda a cidade de Campos e vejo que mesmo com todas as adversidades, a população ainda tem a esperança que Campos pode mais. A nossa cidade tem um orçamento anual de mais de R$ 3 bilhões, e na prática, não há avanços. Hoje temos uma população de 486 mil pessoas, onde quase 250 mil estão no CadUnico e 80 mil estão empregados com carteira assinada.

A senhora acredita que a sua experiência como delegada de polícia possa contribuir para administrar uma cidade do porte de Campos?

“Sim. Por onde passei, transformei. Foi assim na Delegacia de Guarus, meu primeiro trabalho em Campos, aonde cheguei e a delegacia tinha ratos e teto caindo. Reformamos a unidade e a tornamos uma das que mais atuou contra o crime organizado no estado. O mesmo aconteceu em São João da Barra; quando assumi a titularidade daquela unidade, havia um sentimento de descrença da população com o trabalho da Polícia Civil. Realizamos um trabalho técnico que é lembrado na cidade até hoje. Na Deam (Delegacia da Mulher), meu último trabalho na cidade, em um ano e seis meses a tornamos referência em todo o estado do Rio de Janeiro em combate a violência contra a mulher. Óbvio que existe diferença entre uma delegacia e uma prefeitura; mas, quando há comprometimento, trabalho e principalmente, compromisso com a sociedade, o resultado aparece”.

A candidata diz que aos seis anos de idade já ajudava o pai no corte de cana; hoje concorre à prefeitura da sua cidade. O que isso representa para a senhora? Qual a sensação?

“Não digo isso. O meu pai foi cortador de cana aos 12 anos. Eu o ajudava no abatedouro que ele tinha, assim como meus outros cinco irmãos. Nos revezavamos entre os estudos e o negócio da família. Para mim, guardo esse período com muito orgulho. Meu pai, mesmo sendo uma pessoa muito simples, me falava que só com a educação e estudos eu poderia mudar a minha história. E quando olho para trás e penso nessa fala dele, vejo que minha vida foi transformada através do estudo e meu esforço”.

Mobilidade urbana é um problema em várias cidades brasileiras, refletindo fortemente no transporte coletivo; Campos não é exceção. Qual a solução?

“A questão do Transporte Público em Campos é complexa pelo fato de termos um município de quatro mil quilômetros quadrados. Mas, o que percebemos é que não há nenhum comprometimento do poder público em resolver a situação que se arrasta há décadas. Veja bem, em 2012 foi realizada uma licitação onde se dizia que teríamos 293 ônibus. Hoje, 12 anos depois, temos pouco mais de 100 em circulação. Ou seja, as empresas não cumprem sua parte, ninguém fiscaliza, e quem é punido é o passageiro. A solução para o Transporte de Campos é adotar o projeto tronco-alimentador, que é usado nas principais cidades do mundo. Mas, infelizmente, em Campos, no governo passado tentaram adotar esse sistema de maneira improvisada e o atual governo já gastou quase R$ 100 milhões em quatro anos e não resolveu o problema. Nós iremos reformular o sistema e modernizá-lo. Aliar a tecnologia com inteligência para oferecer um serviço de qualidade. A população precisa saber o horário dos ônibus e o poder público precisa saber a demanda de cada linha, até para se for preciso, aumentar o número de veículos em cada linha”.

Em município cuja população é menor que a de Campos a tarifa do transporte público é zero. A senhora acha viável a proposta?

“Vejo um candidato propondo esse programa e me assusta a irresponsabilidade de quem tenta iludir o eleitor com esse tipo de populismo. Precisamos debater o transporte de maneira séria e, mais importante, resolver o problema”.

De que forma buscaria recursos para subsidiar as empresas?

“Hoje a prefeitura já subsidia o transporte com R$ 36 milhões por ano. O problema não é subsidiar, o problema é o serviço não atender a população que é o que vem acontecendo”.

O “calcanhar de Aquiles” de vários administradores municipais e estaduais é saúde pública. O que falta melhorar em Campos?

“Campos hoje vive uma realidade paralela entre o marketing da rede social do prefeito e a realidade enfrentada pela população. As pessoas precisam dormir nas filas para tentar conseguir um exame, algo que poderia ser feito de maneira digital, pelo celular. Hoje o paciente vai a uma Unidade Básica de Saúde e sabe que não vai ter o problema resolvido, já que não é oferecido nem uma estrutura mínima de trabalho para os profissionais”.

O que a senhora pretende desenvolver no setor agrícola?

“Campos nas últimas quatro décadas perdeu as suas principais referências, e uma delas é o agronegócio. Nossa cidade já foi uma das maiores produtoras de cana do Brasil, e hoje não existe estrutura mínima para o produtor. Como disse anteriormente, temos o maior território do estado, temos terras que poderiam ser produtivas e girar a receita não só de Campos, mas de toda a região. Mas o que vemos é que só priorizam quem é próximo a algum vereador ou empresário que tenha cargo importante na prefeitura”.

A Educação da rede municipal de Campos acaba de dar um salto histórico no Ideb. Qual é a proposta para avançar ainda mais?

“Nós sabemos que entre a avaliação do Ideb está a porcentagem de alunos aprovados na rede pública, e infelizmente em Campos a secretaria de Educação vem pressionando os professores para aprovarem automaticamente os estudantes, mesmo que não saibam ler nem escrever. Isso distorceu a avaliação do Ideb, com o único objetivo do atual governo gerar um discurso de que houve avanços”.

Embora o município venha se destacando em geração de empregos, há quem reclame que as oportunidades estão aquém da necessidade. A senhora concorda? O que fazer?

“Discordo frontalmente dessa afirmação. Não há destaque na geração de empregos, muito pelo contrário. Se compararmos com Niterói, que tem um quantitativo populacional parecido com Campos, percebemos que temos 80 mil pessoas com carteira assinada e Niterói 170 mil. Uma cidade que tem 250 mil pessoas no CadUnico, 150 mil pessoas que não sabem se vão ter o que comer hoje à noite, e 30 mil pessoas recebendo benefício social da prefeitura, não podemos dizer que teve destaque em geração de empregos”.

Turismo e infraestrutura. O que a senhora propõe para esses itens?

“Nós precisamos levar o nome de Campos para fora de Campos. Isso pode ser feito de várias formas, tanto através da publicidade, que é o caminho mais fácil, quanto através de outras ramificações que mostrem que a cidade de Campos é atrativa. Talvez Campos seja o município do Rio com mais pontos turísticos distintos. Temos praia, temos serra, temos lagoa, temos vilarejos históricos; mas, infelizmente nada disso é mostrado para quem não é daqui. A partir do ano que vem, faremos um circuito cultural contemplando os principais pontos turísticos da cidade com eventos que vão entrar no calendário oficial do município”.

Desenvolvimento humano. Qual é a proposta? A senhora é favorável a programas sociais?

“Campos hoje tem 150 mil pessoas que não sabem sequer se vão ter o que comer à noite. E por isso, nos próximos dias irei apresentar o Cartão do Povo, que será a maior revolução social da história do Rio de Janeiro. No entanto, é preciso entender que o programa social deve ser visto como um recomeço de história da vida do beneficiário. Infelizmente o que vemos na nossa cidade é a utilização desse momento de vulnerabilidade das pessoas como moeda de troca eleitoral”.

O que pretende para livrar o município de uma espécie de “dependência de vida ou morte” dos recursos do petróleo?

“Campos historicamente sempre foi uma cidade referência em diversas áreas, e isso não era diferente na economia. Como disse anteriormente, temos uma cidade com a maior extensão territorial de todo o estado, somos privilegiados geograficamente, já que a cidade é em uma planície cortada pelas principais rodovias do Brasil; além da proximidade com o Porto do Açu. Mesmo com todas essas vantagens, a cidade não evoluiu economicamente. Nós vemos hoje um orçamento de R$ 3 bilhões, inflado pela alta dos royalties e cobranças abusivas de impostos. É necessário diversificar a economia e destravar a máquina pública. Hoje a prefeitura é o maior empregador da cidade. Empresas de fora da cidade não têm interesse em se instalar aqui porque já sabem que vão ter que trocar favores com o grupo político que comanda a cidade, ou então vão ter dificuldades de conseguir documentação e infraestrutura.
Mas, além disso, o desenvolvimento de Campos passa diretamente pela Educação. Hoje a atual gestão não investiu R$ 1 sequer em capacitação. Nós não temos mão de obra capacitada para o Porto do Açu e para o mercado offshore, e infelizmente o que vemos são números como os atuais. Uma cidade com 20% da população com carteira assinada e 160 mil pessoas abaixo da linha da pobreza”.

Como a senhora avalia o nível das campanhas eleitorais em Campos? Votaria em candidato que não apresenta proposta coerente?

“Não votaria e por isso decidi ser candidata, porque não vejo nas demais candidaturas as respostas que a população de fato anseia. O atual prefeito avalia a sua gestão como um ‘petáculo’, mas em quatro anos de mandato, com R$ 12 bilhões de orçamento, não conseguiu resolver problemas básicos do município como o transporte, a saúde e a educação”.


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