Publicado 11/09/2022 06:00
Trago hoje outros trechos preciosos da biografia de Tom Jobim, escrita pela irmã Helena. Muito antes da ecologia virar pauta, Tom já defendia a natureza e sofria com sua devastação implacável. Amava as florestas, uma de suas fontes de inspiração. Veja o que ele diz:
“Eu entro na floresta. Às vezes fico quieto lá dentro. Só ouvindo. Mas mesmo quando caminho elas vêm... As músicas. Elas vêm prontas. Ouço músicas inteiras dentro da floresta... Sem fazer barulho, atravessou o grande quintal, passou pelo curral e pegou a estrada de barro vermelho. Andou légua e meia, vendo o dia nascer lentamente. Sabia que dentro da floresta ouviria temas inteiros de músicas. Sabia que os sons o
procurariam. E naquele momento, acreditou que tinha nascido e se criado para isso. Era seu destino, sua sentença. Não podia mais fugir.”
procurariam. E naquele momento, acreditou que tinha nascido e se criado para isso. Era seu destino, sua sentença. Não podia mais fugir.”
E que sensibilidade ao falar de seu maior parceiro, após o primeiro encontro! “Vinicius tirou os óculos e começou a limpar as lentes com o guardanapo. Tom reparou em seus olhos claros. Muito tempo depois os descreveu assim: "'Jamais me esquecerei da singular face humana, o poeta, os grandes olhos de jade, vazios, ocos, atentos, feitos para a compreensão e o entendimento’.”
No livro, Helena cita, na íntegra, a entrevista que o jornalista e ex-governador Carlos Lacerda, fez com Tom e que o deixou muito contente, a ponto de dizer em família: “É a única matéria séria que me descreve como sou.”
Vale a pena ler e aprender. E se emocionar, e rir e chorar ao longo dessas páginas iluminadas, cravadas de revelações inspiradoras. Antes do desfecho, Helena cita este comentário de Arnaldo Jabor: “A morte de Tom Jobim não foi apenas a queda de uma árvore, foi a derrubada de uma floresta.”
Fernando Mansur
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