alemdavida22outARTE O DIA
Publicado 22/10/2022 06:00
Há bem pouco tempo, o que eram tidas como folclóricas, as rezas (ou benzeduras) passaram seriamente a ser estudadas e pesquisadas nas mais conceituadas universidades. As tradicionais benzeduras que fazem cair verrugas ou acabar com os chamados ‘maus-olhados’ que secam a planta da vizinha, já são admitidas como realidades possíveis e comprováveis.
Segundo Aurélio Valente, as benzedeiras operam do seguinte modo: para curar o ‘quebranto’ ou ‘mau-olhado’, tomam um raminho verde (de preferência arruda) e com ele tocam levemente na ‘paciente’, fazendo movimentos em cruz. Para matar erisipela (doença infecciosa aguda da pele), empunham uma faca e com esta cortam o ar em forma de cruz, um pouco acima da parte doente. Enquanto gesticulam, seus lábios não deixam de murmurar preces. Pessoalmente, por diversas vezes, testemunhei os efeitos positivos da intervenção dessas mulheres, a maioria composta de gente muito simples.

A gente sabe que as preces são poderosos meios de evocação dos bons espíritos. A chamada benzedura ou reza, praticada principalmente no interior do país, pode ser conhecida como uma modalidade de passe. As chamadas benzeduras tão comuns no ambiente popular, sempre que empregadas na caridade, são expressões humildes do passe, ferramenta de socorro e assistência, lembra Elza Rizzo.

Jesus é o mais importante exemplo disso, quando ergueu suas mãos sobre os enfermos, no que foi seguido pelos apóstolos, pontua Edvaldo Kulshesky. A benzedura é uma forma de passe. De maneira intuitiva e quase rudimentar, as pessoas tidas como benzedeiras, praticam esta caridade, distribuindo para aqueles que as procuram, benefícios magnéticos.
Elda Rizzo de Oliveira diz que a função da benzedeira ou do benzedor é rezar pelos males que afligem o povo, sobretudo os pobres. Não existe benzedeira sem que haja uma comunidade que busque suas orações. Mesmo assim, recorrem a ela pessoas de todas as classes sociais.
O benzedor é criatura que movimenta forças curadoras em favor de alguém. As senhoras chamadas benzedeiras aplicam passes em crianças recém-nascidas que apresentam contaminação fluídica, popularmente chamada ‘quebranto’ ou ‘mau olhado’. Segunda as rezadeiras, o problema da criança acontece quando pessoas adultas, que possuem uma atmosfera fluídica negativa, ficam com a criança no colo por muito tempo. A energia ruim que circunda a pessoa contaminaria a atmosfera espiritual da criança, deixando-a irritada e chorando com frequência. Nada se faz do que derramar o fluido salutar dos bons espíritos sobre a atmosfera da criança, limpando-a dos fluidos nocivos.
A benzedeira projeta sobre o paciente um feixe de forças numa frequência vibratória dinamizada pela sua condição amorosa de curar. As benzedeiras captam as energias que flutuam no ambiente e projetam sobre os enfermos, cujo êxito de cura depende da maior ou menor receptividade psíquica dos mesmos.
A rezadeira age como um imã dos fluidos negativos, atraindo o ‘mal’ para si ou para seus objetos ou plantas, que acumulam esses fluidos. As benzedeiras afirmam que estão ‘limpando’ o paciente, mas na verdade, o que fizeram foi agir com o pensamento, atraindo o fluido nocivo para a sua própria atmosfera psíquica ou para os objetos usados ou plantas no benzimento, que funcionam como captadores destes fluidos.
Embora a medicina oficial considere superstição a terapêutica do benzimento, estudos científicos, sérios, constataram que a reza desintegra os maus fluidos que nutrem os vírus de infecções. Exemplos: o eczema, o cobreiro e outras infecções características da epiderme. Sob o comando espiritual da benzedeira, a aura etérea dos vegetais tóxicos e irritantes como a pimenteira-brava, atua no fluido do eczema (‘cobreiro’), desintegrando-o pelos impactos magnéticos.
Extinto o terreno doentio fluídico que alimentava os germens infecciosos, estes então desaparecem por falta de nutrição apropriada. Após o benzimento, em que o galho da pimenteira-brava absorve o fluído doente do ‘cobreiro’, a benzedeira manda o paciente enterrá-lo, lembrando o ‘fio-terra’, descarregando a carga tóxica no solo.
O dom ou a faculdade curativa é inerente à benzedeira. A preferência por certo objeto, erva ou determinada gesticulação, serve de catalizador do próprio benzimento. É claro que varia de uma benzedeira para outra, quanto ao uso de certos ingredientes ou sistema de operar. Um exemplo na Umbanda é a preta-velha, que benze utilizando-se de galhos de arruda, esconjurando os fluidos ruins e fazendo cruzes sobre o paciente.
Nos terreiros, os pretos velhos sopram fumaça do cachimbo sobre os enfermos, para retirar as cargas malévolas. Têm outras benzedeiras que usam o rosário, escapulário, talismã ou bolsinha de oração. E ainda têm outras que benzem cruzando o copo do enfermo com objetos de aço para atrair e imantar os maus fluidos, cujos objetos depois ele os lança na água corrente.
Algumas benzedeiras cortam fios de linhas sobre pires de água para eliminar vermes das crianças. Outras, benzem com pedaços de carvão, diagnosticando depois o paciente conforme o comportamento dos fragmentos numa bacia d’água. Há benzedeiras que ‘costuram’ rasgaduras e ‘consertam’ mau jeito, com resultados positivos, provando suas sensibilidades mediúnicas.


Átila Nunes
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