Átila Nunes: Arigó e o Dr Fritz

Arigó desenvolveu suas atividades espirituais em Congonhas, SP, durante cerca de 20 anos, tornando nacional e internacionalmente conhecidas as cirurgias atribuídas a um espírito que se denominava Dr. Adolf Fritz

Átila17dezARTE O DIA
Publicado 17/12/2022 06:00
Eu era pequeno. Devia ter quatro ou cinco anos, talvez. Lembro-me de meus pais comentando sobre um encontro que tiveram com um homem muito simples, mineiro de poucas letras, que ficou conhecido como um dos mais importantes médiuns de cura brasileiros. Era conhecido como Zé Arigó e retirava tumores sem anestesia.

O Fernando Antonio Gonçalves lembrou Zé Arigó na sua coluna ‘Sem Oxentes, nem mais, nem menos’ no blog Besta Fubana. Arigó incorporava o espírito do Dr. Fritz, que curou mais de dois milhões de pessoas, inspirando o filme 'Predestinado'. O médium recebia o espírito de um famoso médico, Dr. Adolf Fritz, que falava alemão fluentemente enquanto procedia as curas. Nenhum médico, até hoje, conseguiu explicar os fenômenos de cura do Dr Fritz através de Zé Arigó.

Arigó inspirou livros abordando suas curas fantásticas. Seu nome completo era José Pedro de Freitas, que acabou sendo conhecido como José Arigó ou simplesmente Zé Arigó. Desenvolveu suas atividades espirituais em Congonhas, SP, durante cerca de 20 anos, tornando nacional e internacionalmente conhecidas as cirurgias atribuídas a um espírito que se denominava Dr. Adolf Fritz, médico alemão que depois de incorporar em Arigó, passou a incorporar, anos depois, no médium Edson Queiroz, em Recife e, mais tarde, no médium Rubens Faria.

Por volta de 1950, Arigó começou a apresentar fortes dores de cabeça, insônia, percebendo visões (uma luz descrita como muito brilhante) e uma voz gutural (em idioma que não compreendia) que o fizeram acreditar encontrar-se à beira da loucura. A situação perdurou por cerca de três anos, durante os quais visitou médicos e especialistas, sem melhoras.

Dizem seus biógrafos que durante um sonho, ele ouviu uma voz que saia de um personagem calvo, que vestia roupas de eras passadas, com um avental branco. Esse personagem comandava uma equipe de médico e enfermeiras numa sala cirúrgica. Depois de muitos sonhos, o espírito se identificou como Dr. Adolf Fritz, um médico alemão que fez sua passagem na Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

Embora não pudesse compreender o idioma alemão, pontua Fernando Antonio Gonçalves, Arigó entendeu que ele havia sido escolhido pelo Dr. Fritz para dar continuidade a sua tarefa espiritual. E mais: espíritos de médicos e de enfermeiros desencarnados o auxiliariam. Arigó teria acordado tão assustado, que saiu correndo, nu, aos gritos, ganhando a rua. Parentes e amigos o trouxeram de volta ao lar, onde chorou copiosamente.

A partir daí, Arigó passou a usar as suas mãos para manusear facas, navalhas e canivetes em procedimentos cirúrgicos que exigiam instrumentos sofisticados. Arigó atendeu milhares de pessoas simples e importantes. Uma delas, por volta de 1950, foi um importante político, o senador Carlos Alberto Bittencourt, que teve constatado câncer nos pulmões. Médicos diagnosticaram como inevitável uma cirurgia com poucas chances de êxito. Bittencourt, em visita a Congonhas, conheceu Arigó. E aí, o convidou Arigó para irem a Belo Horizonte para um comício, onde ficaram hospedados juntos no mesmo hotel.

O senador relatou que estava dormindo quando a porta do quarto se abriu e surgiu um vulto que lembrava Arigó. Assustado, reparou que ele carregava uma navalha, mas não conseguiu reagir. E desmaiou. Na manhã seguinte, ao acordar, constatou que o seu pijama estava cortado nas costas, sujo de sangue. O tumor cancerígeno fora removido, encontrando-se o futuro senador plenamente restabelecido.

Arigó era de família católica, não espírita. É óbvio que a Igreja Católica não morria de amores por Arigó. Ele fundou uma clínica em Congonhas, onde atendia, sem cobrar, mais de 200 pessoas por dia de vários países. A Associação Médica de Minas Gerais, incomodada com a notoriedade de Zé Arigó, o processou em 1956 pela prática de curandeirismo. Ele foi condenado a cerca de um ano de prisão em 1958. A pena foi reduzida e nem chegou a ser cumprida em razão do indulto concedido pelo então presidente Juscelino Kubitschek. Ah, sim, a filha do presidente também havia sido atendida pelo médium.

Anos mais tarde, Zé Arigó enfrentaria mais um processo, acabando detido por sete meses em Conselheiro Lafaiete (MG), pelo exercício ilegal da Medicina. Só que lá no presídio mineiro, continuou com suas curas. E acabou voltando para Congonhas nos braços do povo, como era de se esperar. Justamente nessa época, um norte-americano chamado Henri Belk, fundador de uma instituição para pesquisa de fenômenos paranormais, foi parar em Congonhas, para iniciar pesquisa com Arigó (1963). Na ocasião, um dos assistentes do médico norte-americano teve extraído um tumor do seu cotovelo esquerdo num procedimento sem dor em segundos, executado com um canivete comum. A incisão de menos de cinco centímetros e pouco sangrou.

Arigó, quando incorporado, utilizava-se de facas e canivetes para extrair quistos e tumores, destaca Fernando Antonio Gonçalves. As incisões eram pequenas, se comparadas aos procedimentos cirúrgicos praticados à época, muitas vezes menores que o material extraído. Por vezes, durante a intervenção, Arigó ditava uma receita, datilografada por um de seus assistentes, para ser entregue ao paciente.

Como quase todos os médiuns famosos que incorporaram o espírito do Dr Fritz, Arigó respondeu a processos movidos pelos conselhos regionais de Medicina e se envolveram em disputas familiares motivadas por poder e dinheiro. Arigó morreu em 11 de janeiro de 1971, em um acidente de carro na rodovia BR-040.
Átila Nunes
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Átila17dezARTE O DIA
Publicado 17/12/2022 06:00
Eu era pequeno. Devia ter quatro ou cinco anos, talvez. Lembro-me de meus pais comentando sobre um encontro que tiveram com um homem muito simples, mineiro de poucas letras, que ficou conhecido como um dos mais importantes médiuns de cura brasileiros. Era conhecido como Zé Arigó e retirava tumores sem anestesia.

O Fernando Antonio Gonçalves lembrou Zé Arigó na sua coluna ‘Sem Oxentes, nem mais, nem menos’ no blog Besta Fubana. Arigó incorporava o espírito do Dr. Fritz, que curou mais de dois milhões de pessoas, inspirando o filme 'Predestinado'. O médium recebia o espírito de um famoso médico, Dr. Adolf Fritz, que falava alemão fluentemente enquanto procedia as curas. Nenhum médico, até hoje, conseguiu explicar os fenômenos de cura do Dr Fritz através de Zé Arigó.

Arigó inspirou livros abordando suas curas fantásticas. Seu nome completo era José Pedro de Freitas, que acabou sendo conhecido como José Arigó ou simplesmente Zé Arigó. Desenvolveu suas atividades espirituais em Congonhas, SP, durante cerca de 20 anos, tornando nacional e internacionalmente conhecidas as cirurgias atribuídas a um espírito que se denominava Dr. Adolf Fritz, médico alemão que depois de incorporar em Arigó, passou a incorporar, anos depois, no médium Edson Queiroz, em Recife e, mais tarde, no médium Rubens Faria.

Por volta de 1950, Arigó começou a apresentar fortes dores de cabeça, insônia, percebendo visões (uma luz descrita como muito brilhante) e uma voz gutural (em idioma que não compreendia) que o fizeram acreditar encontrar-se à beira da loucura. A situação perdurou por cerca de três anos, durante os quais visitou médicos e especialistas, sem melhoras.

Dizem seus biógrafos que durante um sonho, ele ouviu uma voz que saia de um personagem calvo, que vestia roupas de eras passadas, com um avental branco. Esse personagem comandava uma equipe de médico e enfermeiras numa sala cirúrgica. Depois de muitos sonhos, o espírito se identificou como Dr. Adolf Fritz, um médico alemão que fez sua passagem na Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

Embora não pudesse compreender o idioma alemão, pontua Fernando Antonio Gonçalves, Arigó entendeu que ele havia sido escolhido pelo Dr. Fritz para dar continuidade a sua tarefa espiritual. E mais: espíritos de médicos e de enfermeiros desencarnados o auxiliariam. Arigó teria acordado tão assustado, que saiu correndo, nu, aos gritos, ganhando a rua. Parentes e amigos o trouxeram de volta ao lar, onde chorou copiosamente.

A partir daí, Arigó passou a usar as suas mãos para manusear facas, navalhas e canivetes em procedimentos cirúrgicos que exigiam instrumentos sofisticados. Arigó atendeu milhares de pessoas simples e importantes. Uma delas, por volta de 1950, foi um importante político, o senador Carlos Alberto Bittencourt, que teve constatado câncer nos pulmões. Médicos diagnosticaram como inevitável uma cirurgia com poucas chances de êxito. Bittencourt, em visita a Congonhas, conheceu Arigó. E aí, o convidou Arigó para irem a Belo Horizonte para um comício, onde ficaram hospedados juntos no mesmo hotel.

O senador relatou que estava dormindo quando a porta do quarto se abriu e surgiu um vulto que lembrava Arigó. Assustado, reparou que ele carregava uma navalha, mas não conseguiu reagir. E desmaiou. Na manhã seguinte, ao acordar, constatou que o seu pijama estava cortado nas costas, sujo de sangue. O tumor cancerígeno fora removido, encontrando-se o futuro senador plenamente restabelecido.

Arigó era de família católica, não espírita. É óbvio que a Igreja Católica não morria de amores por Arigó. Ele fundou uma clínica em Congonhas, onde atendia, sem cobrar, mais de 200 pessoas por dia de vários países. A Associação Médica de Minas Gerais, incomodada com a notoriedade de Zé Arigó, o processou em 1956 pela prática de curandeirismo. Ele foi condenado a cerca de um ano de prisão em 1958. A pena foi reduzida e nem chegou a ser cumprida em razão do indulto concedido pelo então presidente Juscelino Kubitschek. Ah, sim, a filha do presidente também havia sido atendida pelo médium.

Anos mais tarde, Zé Arigó enfrentaria mais um processo, acabando detido por sete meses em Conselheiro Lafaiete (MG), pelo exercício ilegal da Medicina. Só que lá no presídio mineiro, continuou com suas curas. E acabou voltando para Congonhas nos braços do povo, como era de se esperar. Justamente nessa época, um norte-americano chamado Henri Belk, fundador de uma instituição para pesquisa de fenômenos paranormais, foi parar em Congonhas, para iniciar pesquisa com Arigó (1963). Na ocasião, um dos assistentes do médico norte-americano teve extraído um tumor do seu cotovelo esquerdo num procedimento sem dor em segundos, executado com um canivete comum. A incisão de menos de cinco centímetros e pouco sangrou.

Arigó, quando incorporado, utilizava-se de facas e canivetes para extrair quistos e tumores, destaca Fernando Antonio Gonçalves. As incisões eram pequenas, se comparadas aos procedimentos cirúrgicos praticados à época, muitas vezes menores que o material extraído. Por vezes, durante a intervenção, Arigó ditava uma receita, datilografada por um de seus assistentes, para ser entregue ao paciente.

Como quase todos os médiuns famosos que incorporaram o espírito do Dr Fritz, Arigó respondeu a processos movidos pelos conselhos regionais de Medicina e se envolveram em disputas familiares motivadas por poder e dinheiro. Arigó morreu em 11 de janeiro de 1971, em um acidente de carro na rodovia BR-040.
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