Arte coluna alem da vida_Atila Nunes 01 abrilArte Paulo Esper
Publicado 01/04/2023 06:00
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No espiritismo, ao contrário do hinduísmo, animais não são classificados como médiuns. Para os espíritas que seguem os postulados de Allan Kardec, a intermediação entre os planos é um processo inteligente, afeto somente aos humanos. Isso não significa, alerta Baraviera, rejeitar o fato de que animais podem ter percepções espirituais ou energéticas.
As religiões afro-brasileiras também desenvolvem atividades mediúnicas, prática comum no continente africano. Espíritos absorvem a energia dos encarnados, como álcool ou cigarro, como forma de vivenciar experiências materiais.
Maomé, fundador do Islamismo, também passou por processo iluminativo. Em meditação, teria mantido contato com o anjo Gabriel, que lhe legou versos divinos, posteriormente compondo o Alcorão. A propósito, lembra Baraviera, Maria e José, pais de Jesus, também teriam tido contado com o mesmo anjo. Nos exemplos orientais, todos estavam em meditação no momento do contato com o divino. Provavelmente, eram médiuns que no processo meditativo, estabeleceram o contato com o outro plano, no chamado transe mediúnico.
Em se tratando de predições, é necessário observar o Evangelho Segundo Mateus. Ele é direcionado aos Hebreus e, por isso, associa os atos e palavras de Jesus às profecias, de modo a comprovar que Ele é o esperado Messias. Qual seria, entretanto, a fonte dos profetas, senão a própria espiritualidade?
No batismo de Jesus, João Batista visualiza uma pomba, que representa o chamado Espírito Santo. Ele disse: “Eis aqui meu filho amado em quem me comprazo”. Um fato mediúnico ou uma manifestação direta da espiritualidade superior? O que é indiscutível é a intervenção espiritual no plano encarnado.
Se a aparição de Jesus a Paulo de Tarso não foi um efeito mediúnico, mas sim, uma manifestação do próprio Cristo, é certo que somente o apóstolo o viu, ao contrário dos que o acompanhavam. Mas esse não foi o único fenômeno mediúnico na vida de Paulo, tema que consta nos capítulos 12 a 14 da Primeira Epístola aos Coríntios, sob o nome de Carismas.
Embora Jesus não seja propriamente classificado como médium, na obra Gênese, nos é mostrado o Cristo como “médium de Deus”. É certo que Ele promoveu feitos extraordinários, como a multiplicação dos pães. Mas muito antes, a Bíblia relata que o profeta Eliseu multiplicou alimentos para uma multidão, fenômeno que o espiritismo classificaria como materialização.
Eliseu também ressuscitou o filho da sunamita, em fato similar ao realizado por Cristo com Lázaro e a filha de Jairo. Para o espiritismo, tais pessoas ainda não estavam mortas, mas em estado de morte aparente, de modo que, por meio da mediunidade de fenômenos físicos, algum efeito material ocorreu, cessando a “morte” do indivíduo.
E a célebre transformação de Francisco de Assis? Ele rezava na abandonada igreja de São Damião, quando uma voz, vinda do crucifixo, teria dito: “Francisco, reconstrói minha igreja”. Não seria essa uma manifestação espiritual, captada pela mediunidade de Francisco? Existem relatos de fontes sérias, em que Francisco levitava enquanto orava, o que indica mais um feito mediúnico. Do mesmo modo que as mesas girantes de Kardec do século XIX iam de um lugar a outro, com a “imantação” dos objetos, enquanto o corpo do missionário era sustentado no ar.
E que dizer do Papa Inocêncio III que, ao receber Francisco no Vaticano, comentou de um sonho profético, no qual um mendigo sustentava a Basílica de São João de Latrão, prestes a desabar, compreendendo que o mendigo era Francisco, e que sustentava a própria instituição, a Igreja? Outro célebre franciscano, Antônio de Pádua, protagonizou diversos eventos mediúnicos. O lisboeta era conhecido pela gente do convento apenas pelo capricho com que lavava as panelas e exercia outros misteres na cozinha.

Com o tempo, Antonio de Padua manifestou, além das próprias virtudes, inúmeros tipos de mediunidade: materialização, efeitos físicos, vidência, transporte, transfiguração, cura, inspiração, audiência, transmissão de fluidos e profecia, destaca Ricardo Baraviera. Sua “erudição mediúnica” era inspirada, proferindo belos discursos nos quais dizia duras verdades.
Foram tantos os fenômenos, mas vale a pena lembrar o mais notório, acontecido com Antônio de Pádua, quando pregava na Itália. No momento em que seu pai, em Lisboa, seria supliciado sob equivocada condenação por homicídio, bem no momento da execução, Antônio de Pádua apareceu, provando a inocência do pai. E posteriormente, comprovou-se, de forma inequívoca, que naquele mesmo instante, Pádua pregava na Itália.
E o “Milagre das Rosas”, protagonizado pela rainha portuguesa Isabel de Aragão? Proibida pelo rei de permanecer entre pobres e mendigos, a quem frequentemente ajudava, foi flagrada pelo monarca novamente entre os humildes. Sob o manto, guardava as esmolas que distribuía. Suspeitando dela, indagou o rei o que seria, mas a rainha disse que eram rosas. O rei pediu que as rosas fossem mostradas. E a doce rainha retirou rosas de seu manto.
Milagre? Qual é a ideia de milagre? O que entendemos como milagres? Milagre seria a derrogação da lei divina, para que o Criador mostrasse seu poder? Para correntes espíritas, não há milagres, pois a grandiosidade do Pai é demonstrada pelas próprias leis naturais. Todos os fenômenos milagrosos, muitos deles mediúnicos, têm ou terão uma explicação.

Na próxima semana, na terceira parte, encerramos o assunto de mediunidade nas várias religiões.
Átila Nunes
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