Publicado 19/10/2024 00:00
A Inquisição Católica, também conhecida como Santo Ofício, foi um tribunal eclesiástico que julgava e punia pessoas que se desviavam das normas de conduta da Igreja Católica. A Inquisição foi criada para combater heresias, apostasia, blasfêmia, ´feitiçaria` e outros costumes considerados ´desviantes`. A Inquisição se caracterizava por métodos rigorosos de investigação, torturas e penas severas, através de julgamentos públicos conhecidos como autos de fé, além de censura literária.
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A Inquisição representava o poder da Igreja Católica em tentar esconder a ciência como caminho para a verdade e o saber que contrariaria os dogmas cristãos da época. Óbvio que evidências, a lógica e o pensamento racional não agradavam ao poder teocrático daquela Era de Trevas.
A Igreja disseminava a ideia de que os livros e bibliotecas eram perigosos para a maioria da população medieval. No dia 9 de outubro de 1861, às 10h30 da manhã, em Barcelona, Espanha, o bispo da cidade queimou trezentos livros sobre o espiritismo. Os livros foram encomendados por editores espanhóis, tendo sido comentado por jornais, tanto da Espanha quanto na França, país onde os livros foram publicados.
O professor Roberto Tavares chama atenção para um episódio ocorrido naquela época, quando o Allan Kardec mantinha um periódico mensal intitulado “Revista Espírita” que divulgava a Doutrina Espírita. A sua primeira obra datava de 1857, o “Livro dos Espíritos”, há 4 anos, portanto, antes da queima de livros feita pelo bispo de Barcelona.

Testemunhas comentaram a quantidade de livros destruídos na fogueira, tendo à frente um sacerdote católico empunhando uma cruz numa mão e uma tocha na outra, um escrivão para redigir a ata do que estava acontecendo, um empregado da Alfândega, além de uma multidão incalculável onde se erguia a fogueira.

Quando o fogo terminou de consumir as obras, o sacerdote e seus ajudantes se retiraram, cobertos pelas vaias e maldições de numerosos assistentes, que gritavam: “Abaixo a Inquisição!” Esta exclamação, feita pelas pessoas que presenciaram o que hoje é conhecido como “Auto de Fé de Barcelona”, foi em razão de um período de trevas de um passado não muito distante, conhecido como Inquisição.

Essa instituição do catolicismo fora estabelecida em 1478 e servia para manter a ortodoxia católica por meio de perseguições e torturas, continua o professor Roberto Tavares. Os que lá estavam assistindo à queima dos livros recordaram às práticas medievais que nada condiziam com o ´século das luzes` que eles viviam.” Só que essas práticas, da mesma forma que não ficaram restritas à idade média, também não ficaram contidas na Europa do século XIX e, infelizmente, podem ser vistas quase que diariamente, com outra roupagem, aqui no Brasil” – destaca Roberto Tavares.
Todos nós estudamos no colégio, ainda bem crianças, que durante o período colonial brasileiro foram criadas escolas para catequisarem nossos povos originários, tanto os indígenas, quanto os escravizados trazidos da África. Todos foram forçados à conversão, já que até 1891 não existia a liberdade de crença como a entendemos hoje.

Essas práticas hegemônicas e discriminatórias não ficaram só nos séculos passados da nossa história. Em 12 de outubro de 1995, dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil para os católicos, um proeminente líder religioso de outro segmento dito cristão, chutou a imagem da santa em plena rede nacional de televisão.

Vivemos no século 21, onde a tecnologia nos leva para quase todos os lugares que queremos ir, virtual ou fisicamente. Mesmo, contudo, com todos os avanços tecnológicos, é recorrente o desrespeito às diferenças, sendo a de crença uma delas. Semanalmente, tomamos conhecimento de casos de deboche ou agressão à fé do outro, seja através de comentários maldosos, seja através de ações intolerantes como molestar pessoas que estejam trajando roupas que remetam às religiões de matriz africana. Isso, sem falar em terreiros apedrejados e até queimados ou pior: fechados pelo tráfico.

Analisando esses fatos, pensando bem, como finaliza o professor Roberto Tavares, a Inquisição da Idade Média sobrevive aqui. E isso nos leva a também exclamar: “Abaixo a Inquisição”!
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