Publicado 04/02/2024 09:00
Desavisada, tentei procurar pelo novo single de Preta Gil no aplicativo de música antes mesmo da data de lançamento. Cheguei até a me deparar com algumas músicas com 'sol' no título até que resolvi pesquisar e descobri que a canção só chegaria às plataformas digitais na virada do dia 18 para 19 de janeiro. Um momento bem simbólico, aliás, pois me lembra de quando aguardo a meia-noite para ser a primeira a parabenizar quem amo no dia do seu aniversário. É como se o novo ciclo daquela pessoa começasse exatamente com a mudança nos ponteiros do relógio. A gente realmente se nutre de esperanças a partir do calendário, mesmo sabendo que os nossos tempos são individuais e únicos.
Assim, nada mais significativo para Preta do que lançar o seu single em uma virada bem particular de vida, de esperanças e de momento: da doença para o renascimento, repetindo a palavra que ela mesma utilizou em um de seus posts. Após o tratamento de câncer no intestino, ela brindou o reencontro com o Astro Rei através da música, herança do pai, Gilberto Gil. "O sorriso que ela tem tá de volta ao sol", canta Preta, lembrando que a alegria reluz. Nas fotos de divulgação, um maiô dourado complementa o momento iluminado pela esperança. E tudo isso me faz lembrar de quando a minha mãe me dizia que o viço nos embeleza. Somos energia, e essa é uma crença minha.
Para ser sincera, nunca acompanhei a carreira de Preta muito de perto, mas conheço músicas que viraram sucesso na sua voz, como 'Sinais de Fogo' e 'Meu corpo quer você'. O fato é que o seu compartilhamento da doença, no ano passado, me aproximou dela. A gente se afasta ou se avizinha de alguém pela mensagem que essa pessoa nos transmite. E Preta me passou coragem. Mesmo considerando que ela possa dispor de uma excelente estrutura médica, ela mostrou valentia em sua luta pública. Talvez por eu já ter acompanhado uma batalha dessas bem de perto, eu tenha vibrado com a sua reabilitação. Ao meu olhar, também me parecem belas as amizades que a cercaram no momento de dor — quem já viveu a rotina de um hospital intensamente sabe como vida e morte coexistem ali, por mais que a gente evite falar de existência e finitude juntas.
Assim, Preta e todos os outros que lutaram e seguem na jornada por aqui merecem festejar a chance de ter o sol batendo no rosto de novo. É para esquentar, aconchegar e dourar a vida mais uma vez. Como um dos meus melhores amigos tem feito após enfrentar um delicado problema de saúde em 2023. Dono da minha admiração há tempos, ele me mostra que a gente corre em direção à luz.
Curiosamente, no mesmo aplicativo de música em que ouvi o novo single de Preta, 'De Volta ao Sol', descobri que Gil fez uma canção em homenagem a sua bisneta, Sol de Maria, que vem a ser neta da cantora. Faz tempo, mas nunca tinha ouvido a música. Também encontrei um vídeo em que Gil, ao violão, canta para a menina, em 2016. "Que seja a luz do dia a sua guia, seu farol", diz a letra, recebida na época por aquele sorriso puro dos bebês. Rir é mesmo um dos melhores sóis da vida.
Não deve ser por acaso que a família Gil olha tanto para o céu. Está evidente no nome da bisneta do compositor imortal, na canção em homenagem a ela, na nova música de Preta... E também em outra letra que surgiu nos meus pensamentos recentemente, na hora de saborear um jantar na varanda: "O luar/ Do luar não há mais nada a dizer/ A não ser/ Que a gente precisa ver o luar..." Os Gil sabem mesmo das coisas. Inclusive que a luz da esperança pode vir do céu, especialmente quando o sol renasce.
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