Corri para os Stories do seu perfil e lá estava ela, cantando em casa com um microfone improvisado com uma colher. Ah, só nós sabemos as cantorias que fazemos a sós, tentando rimar encontros e desencontros do amorArte: Kiko
Publicado 01/09/2024 09:00
Amanheci um dia desses com a canção 'Caju', de Liniker, tocando nos Stories de uma amiga de infância, a Camilla. Fiquei curiosa pela música que me fez pensar no tal "amor romântico". Sempre fui assim: se algo inspira tanta gente, desejo entender o porquê. Está na letra: "Quero saber se você vai correr atrás de mim/ Num aeroporto/ Pedindo para eu ficar, pra eu não voar..."
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Acredito que em algum momento idealizamos esse amor que não desiste da gente. Ou sonhamos que o outro possa nos conhecer muito bem, mesmo que nem a gente consiga tal proeza: "Você já decorou quantas tatuagens tenho?/ Se eu ligo para cartoon ou rabisco meus desenhos/ Quantos shows tem na minha agenda?/ Meu disco favorito, o peso do meu coração?" Aliás, há belos momentos em que o amor é pluma.
Assim, segui na Internet naquela manhã pesquisando sobre o álbum 'Caju'. Sem nenhuma pressa, como pedem as músicas que ultrapassam sete minutos, uma ousadia na era da rapidez das redes sociais. Inclusive, em uma das faixas que chegam sem afobação, a voz de Liniker faz parceria com a dupla Anavitória e o pianista Amaro Freitas para comprovar que tecer o amor é arte. O novo trabalho, aliás, virou sucesso rapidamente, tendo alcançado seis milhões de reproduções em menos de 24 horas. Já a concepção durou um ano, o que me fez refletir: afinal, de quanto tempo precisamos para a gestação de uma conquista? Ouso dizer que cada um tem a sua resposta única.
Do Spotify para o Google, logo cheguei à entrevista de Liniker no programa 'Conversa com Bial'. Ela revelou que o single 'Tudo' é inspirado em uma paixão de três dias vivida na Irlanda. Assim, os versos desafiam a distância, em tempo ou milhas: "Mas eu volto com saudade pra te encontrar no futuro/ O mundo não é tão grande pra eu não te achar". E continua com um aviso apaixonado, com direito a braços abertos na coreografia, no melhor estilo "vou gritar para todo mundo ouvir": "Deixa eu ficar na tua vida/ Morar dentro da concha/ Do teu abraço não quero largar".
Caju, aliás, é o alter ego de Liniker, que eterniza a paixão, por vezes tão datada, e confirma a nossa ambiguidade na faixa batizada com o nome do fruto: "Nuns dias sou carente, completa, suficiente..." Essa também sou eu, com as minhas potências e fragilidades convivendo em harmonia e caos simultaneamente.
Também gostei especialmente quando Liniker disse ao Bial que a sua mãe, a melhor dançarina de samba-rock que ela conhece, lhe deu liberdade, um presente lindo demais. Corri para os Stories do seu perfil e lá estava ela, cantando em casa com um microfone improvisado com uma colher. Ah, só nós sabemos as cantorias que fazemos a sós, tentando rimar encontros e desencontros do amor. Eu, por exemplo, solto a voz no carro, acompanhada de mim mesma e das histórias que me constituem.
Também me identifiquei quando ela disse ao Bial que no seu show "todo mundo se pede em casamento, todo mundo namora". "Sou uma cantora canceriana, né?" E seguiu usando a astrologia para explicar sua admiração por Priscila Senna, que "canta de um jeito rasgado", como resumiu. Juntas, as duas entoam uma canção-protesto diante de uma frustração amorosa. Assim, entendi a essência da sua obra. Também sou canceriana, emotiva, sensível, chorona... E por falar em lágrimas: "No samba, sei que samba, e o que será que faz chorar?"
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