Aristóteles DrummondAristóteles Drummond
Publicado 19/02/2024 00:00
A ligação entre a Academia Brasileira de Letras e a Academia de Ciências de Lisboa é forte, antiga e exemplar. Os notáveis dos dois países são presentes, honrados e participativos.

O professor Marcelo Caetano, em seu exílio no Brasil, frequentou a Casa de Machado de Assis como membro correspondente da Academia de Ciências de Lisboa. Também fizeram parte deste grupo outros políticos portugueses como Mário Soares e Adriano Moreira, além de intelectuais como Alçada Baptista e Luís Forjaz Trigueiros. Já em Portugal estão presentes o ex-presidente José Sarney, acadêmicos como Marcos Vilaça, Arnaldo Niskier, Merval Pereira e recentemente José Paulo Cavalcanti, que é considerado dos maiores conhecedores de Fernando Pessoa.

A Academia portuguesa é de 1779, a brasileira, de 1896 e a francesa, na qual se inspiraram, de 1634. A última teve suas atividades interrompidas nos anos de terror e voltou prestigiada com Napoleão.

Como a francesa acolhe notáveis não apenas nas letras, mas nas artes em geral e nos destaques, teve cinco presidentes da República, desde Raymond Poincaré a Charles de Gaulle. A brasileira teve Epitácio Pessoa, Getúlio Vargas, José Sarney e Fernando Henrique. Já Juscelino Kubitscheck foi atropelado na sua eleição por capricho do então presidente Geisel, que barganhou o financiamento da sede a não eleição do ex-presidente. A ABL, por meio de seu então presidente Austregésilo de Athayde, foi pragmática e não elegeu JK. Também Ivo Pitanguy, o cirurgião plástico de relevância mundial, o sanitarista Oswaldo Cruz, cientista Carlos Chagas Filho e o grande neurologista Paulo Niemeyer, a atriz Fernanda Montenegro, o cineasta Nelson Pereira
dos Santos e músicos como Gilberto Gil são outros que não apresentaram obras literárias robustaspara entrar na Casa de Machado de Assis. A Academia portuguesa é mais rígida na eleição de seus membros nas diferentes áreas do conhecimento e da cultura.

A Academia Brasileira peca por não ter atraído alguns nomes emblemáticos na arte do bem escrever, como Nelson Rodrigues, Erico Verissimo, Carlos Drummond de Andrade, Antônio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, entre outros. Mas acolheu jornalistas de referência, desde os que também foram donos de jornais, Felix Pacheco, Assis Chateaubriand e Roberto Marinho, aos atuais Cicero Sandroni, Merval Pereira, Zuenir Ventura. Pena não ter tido oportunidade de ter Carlos Lacerda, Hélio Fernandes, David Nasser e Paulo Francis, que marcaram pelo talento o jornalismo brasileiro na segunda metade do século XX.

As duas academias têm sido atores importantes na implementação do Acordo Ortográfico, que vai permitir o reconhecimento do português como língua oficial da ONU.

Tanto em Portugal como no Brasil são inúmeros os municípios que possuem suas academias, algumas, inclusive, acolhendo notáveis das maiores. A atração pela imortalidade é grande. Um irônico acadêmico, ao assumir uma cadeira em sodalício de uma pequena cidade, disse em seu discurso que confirmava sua imortalidade nacional, com aquela municipal, confiante que o Senhor respeitasse as indicações...
* Aristóteles Drummond é jornalista
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