Publicado 27/05/2024 00:00
Muito triste se constatar que, em nome de uma ideologia mal definida, com raízes numa visão deformada do papel do Estado na economia e na cultura, possa se destruir patrimônios públicos de interesse cultural e reconhecimento internacional.
Este é o caso do Palácio Gustavo Capanema, emblemática sede por décadas do Ministério da Educação, no Rio de Janeiro. A iniciativa, em 1935, foi do então ministro da Educação, Gustavo Capanema, que colocaria a capital do Brasil com a emblemática obra da arquitetura moderna. Um grupo de jovens talentosos nomeados por Vargas – Lúcio Costa, Oscar Niemeyer e Affonso Reidy, entre outros – foi buscar inspiração e consultoria no então maior nome da nascente arquitetura moderna, Le Corbusier, suíço que viveu e atuou com relevância na França, mas com presença na Índia, Itália, Rússia. Foi o autor também da moderna sede da Casa do Brasil na França, em Paris. Corbusier esteve no Rio com o escritor aviador Saint-Exupéry.
O prédio forma com a sede do Ministério da Fazenda, na Avenida Antônio Carlos, símbolos do Estado Novo. O da Fazenda foi inaugurado em 1943 e o do MEC, em 1947, já no governo Dutra. Ambos contaram com a marca de artistas consagrados, como azulejos de Portinari, pinturas de Guignard, Pancetti, esculturas de Bruno Giorgi e Hildegardo Leão Veloso.
A construção, de interesse mundial, foi incluída em 2021 num pacote de venda de imóveis da União. Iniciativa que certamente visava sua preservação, pois estava em obras desde 2017, até hoje paradas, sob permanente risco de incêndio ou simples degradação pelo abandono. Nenhuma entidade privada ousaria mexer no conjunto artístico e histórico. O Rio só teria a ganhar. A tradição do poder público na conservação de prédios e monumentos históricos não é muito boa, como se sabe. Mas as forças do atraso trataram de condenar a venda salvadora e o governo desistiu. O prédio não pede apenas o término das obras, mas sua ocupação segura. O uso pelo poder público vai gerar novo desgaste e novos riscos de incêndio.
Recuperar, ocupar ou vender as preciosidades que a cidade ainda possui é um desafio. São muitos os imóveis abandonados, entre o Centro e a Zona Sul. E a ocupação deve ser preferencialmente pelo setor privado. O Hospital da Cruz Vermelha, fechado e tombado, é um deles. O conjunto da Avenida Rui Barbosa da UFRJ é outro sob risco da volta de ocupação predatória como no passado. Como fica vizinho ao Instituto Fernandes Figueira, poderia ter destino ligado à saúde ou ao ensino de qualidade.
Na Europa, bens históricos são repassados ao setor privado sob rigorosas condições para preservar, como os paradores em Espanha e pousadas em Portugal. Não se deve misturar ideologia com interesse público.
PublicidadeEste é o caso do Palácio Gustavo Capanema, emblemática sede por décadas do Ministério da Educação, no Rio de Janeiro. A iniciativa, em 1935, foi do então ministro da Educação, Gustavo Capanema, que colocaria a capital do Brasil com a emblemática obra da arquitetura moderna. Um grupo de jovens talentosos nomeados por Vargas – Lúcio Costa, Oscar Niemeyer e Affonso Reidy, entre outros – foi buscar inspiração e consultoria no então maior nome da nascente arquitetura moderna, Le Corbusier, suíço que viveu e atuou com relevância na França, mas com presença na Índia, Itália, Rússia. Foi o autor também da moderna sede da Casa do Brasil na França, em Paris. Corbusier esteve no Rio com o escritor aviador Saint-Exupéry.
O prédio forma com a sede do Ministério da Fazenda, na Avenida Antônio Carlos, símbolos do Estado Novo. O da Fazenda foi inaugurado em 1943 e o do MEC, em 1947, já no governo Dutra. Ambos contaram com a marca de artistas consagrados, como azulejos de Portinari, pinturas de Guignard, Pancetti, esculturas de Bruno Giorgi e Hildegardo Leão Veloso.
A construção, de interesse mundial, foi incluída em 2021 num pacote de venda de imóveis da União. Iniciativa que certamente visava sua preservação, pois estava em obras desde 2017, até hoje paradas, sob permanente risco de incêndio ou simples degradação pelo abandono. Nenhuma entidade privada ousaria mexer no conjunto artístico e histórico. O Rio só teria a ganhar. A tradição do poder público na conservação de prédios e monumentos históricos não é muito boa, como se sabe. Mas as forças do atraso trataram de condenar a venda salvadora e o governo desistiu. O prédio não pede apenas o término das obras, mas sua ocupação segura. O uso pelo poder público vai gerar novo desgaste e novos riscos de incêndio.
Recuperar, ocupar ou vender as preciosidades que a cidade ainda possui é um desafio. São muitos os imóveis abandonados, entre o Centro e a Zona Sul. E a ocupação deve ser preferencialmente pelo setor privado. O Hospital da Cruz Vermelha, fechado e tombado, é um deles. O conjunto da Avenida Rui Barbosa da UFRJ é outro sob risco da volta de ocupação predatória como no passado. Como fica vizinho ao Instituto Fernandes Figueira, poderia ter destino ligado à saúde ou ao ensino de qualidade.
Na Europa, bens históricos são repassados ao setor privado sob rigorosas condições para preservar, como os paradores em Espanha e pousadas em Portugal. Não se deve misturar ideologia com interesse público.
* Aristóteles Drummond é jornalista
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