Bispo28agoARTE PAULO MÁRCIO
Publicado 28/08/2022 06:00
Existe uma sabedoria popular que diz que: “Pai é quem cria”, mas de onde vem o fundamento dessa afirmação? Quando buscamos compreender as funções que são tipicamente executadas pela figura masculina, concebemos que cabe a esse papel muito além de fornecer material biológico para a geração de uma vida.

Considerando que, segundo a psicanálise, a conquista de um pai só é possível através de uma construção feita ao longo da vida, é necessário admitir que, em alguns casos, isso pode nem ocorrer. Não se trata daquele procriador que necessariamente será um pai, no sentido da palavra, mas se refere a força do vínculo afetivo que é construído com uma figura masculina.
Desta forma, podemos falar que existem crianças órfãs mesmo tendo quem os gerou no mesmo ambiente, visto que não se trata de presença física, mas a presença de alma é o que determina a noção de “Pai”. E, quando moram na mesma casa, mas são pais ausentes, trazem muito mais sofrimento psíquico do que alguém morto, já que o luto por alguém que está vivo nunca se elabora. A ausência presente é perturbadora!

Ainda de acordo com o viés psicanalítico, temos nessa função a noção de lei, ou seja, cabe ao pai limitar, trazer o “não” à nossa existência, e com isso nos direcionar. É através desse olhar paterno que elaboramos nossa autoimagem, e, a partir dessa cisão, somos introduzidos no contexto social, nos diferenciando do outro e nos reconhecendo como sujeitos, onde posteriormente avançaremos rumo ao protagonismo da nossa história. A proteção dele nos traz segurança.

A paternidade tem sofrido significativas transformações culturais. Partindo de um contexto patriarcal, temos presenciado a desvalorização do papel e a degradação da função paterna. Isto se reverbera nas famílias, a célula social formadora da sociedade. Devido a isso, somos bombardeados diariamente com as repercussões que as desestruturas familiares têm causado.

Pais que não sabem ser pais têm se multiplicado. Sua ausência na vida dos filhos tem deixado buracos na alma, feridas dolorosas de rejeição e de falta de amor. Sem o cuidado necessário, filhos crescem sem direção e profundamente vulneráveis, prestes a dar prosseguimento ao ciclo de orfandade.

Muitos adultos não conseguiram estabelecer um vínculo de cumplicidade com seus genitores, e sentem falta de algo que idealizaram, mas nunca viveram. Nesses casos, podemos passar a vida esperando algo que não foi possível realizar, ou sequer tenhamos decidido avançar.

Como falamos acima, o lugar de pai é uma construção de acordo com as possibilidades que nos são ofertadas. Não podemos cobrar o que a pessoa não consegue oferecer. Precisamos compreender as limitações desse outro que nos afetou. O salmo 68.5 nos apresenta Deus como o “Pai de órfãos”: Salmos 68:5-6:
“5 Pai de órfãos e juiz de viúvas é Deus no seu lugar santo. 6 Deus faz que o solitário viva em família; liberta aqueles que estão presos em grilhões; mas os rebeldes habitam em terra seca”.

Portanto não importa o tipo de paternidade que lhe foi ofertado. Construa, através da intimidade com Deus, uma relação paterna saudável e verás que toda falta será satisfeita. 
Bispo Abner Ferreira
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