Cais do Valongo sofre com alagamentoCleber Mendes / Agência O Dia
Publicado 05/08/2022 09:00
Dias desses, estava almoçando com o advogado Daniel Sampaio pertinho do Centro Cultural Banco do Brasil e do Centro Cultural dos Correios. Inevitavelmente a conversa transitava pelo Rio de Janeiro, afinal Sampaio, além de colunista de Veja Rio, é também responsável pelo projeto Rio Antigo, que está prestes a se tornar uma Fundação que batalhará pela preservação do patrimônio carioca.
Lá pelas tantas, ele aponta para um grupo animado com as belezas arquitetônicas daquele espaço do Centro. Celulares em punho e fotos e mais fotos. Não demorou para reconhecer as pessoas, em especial a mais engajada nos registros. Melissa Jannuzzi, um dos grandes nomes do jornalismo carioca quando o assunto é moda e comportamento, é daquelas que sempre olhou para a nossa área central.
As flores nas sacadas, tão bem observadas e depois postadas nas redes sociais por Jannuzzi, automaticamente me lembraram dois clássicos populares. Um de um carioca e outro de um pernambucano. Cartola soltava a voz para defender “Ai, corra e olha o céu, que o Sol vem trazer... Bom dia” e Luiz Gonzaga compôs “Olha pro céu, meu amor, vê como ele está lindo”. Foi só a jornalista quebrar o ritmo frenético do almoço-escritório para encontrar um ângulo ou desconhecido ou a ser revelado. Nos falta olhar mais pra cima.
Saindo dos versos e melodias e caindo na régua e no compasso. O problema é quando olhamos pra baixo. O Centro está planetas de distância do que poderia e deveria ser. Em muitas regiões, está sujo, extremamente violento (basta ver as reportagens de O Dia), mal iluminado, sem estímulo para a abertura de negócios, sem apelo para o turismo. Enquanto diversos países debatem os centros das cidades, que costumam ser mais complicados, como espaços de reflorescimento e encontro, estamos perdendo o pulo. Pra variar.
Quem não foi, vá ao Largo da Prainha, perto do Cais do Valongo ( que deveria ser melhor cuidado, para não passar mais uma vez por alagamento). Além do samba e da cerveja gelada, há uma profusão de ações culturais naquela área que engloba o Morro da Conceição. O grande empreendedor desse lufar de esperança é o também escritor Raphael Vidal. Vidal, como é chamado, olha pra baixo, pra cima e traz pro jogo elementos importantes das nossas múltiplas heranças, entre elas baianas do Acarajé ( conheçam Rosa Perdigão) e diversos artesanatos. É possível fazer! Noivo da professora Thais Bastos, Vidal dá aula. 
Não tem jeito, o centro do Rio, com tantos exemplos, pode e deve voltar a ser o... cerne de uma cidade que tem vocação para as trocas, para cultura, para o chopinho no sábado com os amigos, para a dança, para a propagação da fé, para a História. O time que conta com Jannuzzi, Thais, Vidal, Rosa, Daniel, eu e mais muitos alguns, ganha cada vez mais corpo.
O rio, minha gente, desemboca no centro. Vamos abrir o olho. 
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Daniel Lannes no Paço Imperial
Sugestão de amigo: não deixe de visitar a exposição “Jaula”, de Daniel Lannes, no Paço Imperial, na Praça XV, no Centro.
Daniel Lannes lança a exposição
Daniel Lannes lança a exposição "Jaula", no Paço ImperialThiago Gomide
Lannes é um dos mais talentosos e laureados artistas plásticos do momento. Carioca, se mudou para São Paulo, onde, além do exterior, está acostumado a fazer mostras. Infelizmente o Rio perdeu.
É uma grande chance de encontrar a interpretação dele para imagens da Família Real. É uma imersão curiosa e, diversas vezes, irônica de imagens que foram produzidas durante as muitas décadas de gestão Imperial no Brasil.
A exposição ser no Paço Imperial, lugar, entre tantas, onde Dom Pedro I disse ao povo que ficava no Brasil (e isso aceleraria nossa Independência há 200 anos) e que Dom Pedro II foi encurralado na queda do Império (em 1889), proporciona uma aura ainda mais interessante ao enredo e leitura.
A exposição vai até o dia 23/10/22
Os dias e horários são: Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira e Sexta-feira das 12:00h às 18:00h
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Largo do Boticário versão 2022
Largo do BoticárioThiago Gomide
Moro perto do Largo do Boticário, no Cosme Velho. Acostumei-me nos últimos anos atravessar aquele espaço pitoresco do Rio e imaginar quando a obra ficaria pronta. Admito que, apesar do meu otimismo, era complicado acreditar que as casas destruídas poderiam ter futuro.
Um grupo francês de hotéis comprou e transformou diversas casas em um interessante hotel, com diferentes quartos para os mais distintos bolsos. Na área não tombada, até contêineres foram instalados.
Fico sempre muito feliz de encontrar patrimônios sendo revitalizados. História, como defendo sempre e várias pesquisas indicam, propicia experiência e, por consequência, vende. Entrar naquele lugar é ter a chance de voltar ao tempo que o Largo do Boticário servia como reduto de intelectuais e até de cenário de filme do espião britânico 007. As belas fontes foram restauradas.
O gerente Balbino e o gerente adjunto Ricardo Simões foram muito receptivos.
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Futura sede do Diário do Rio
Este colunista esteve mais uma vez nas obras da futura sede do Diário do Rio, no Arco do Teles, na Praça XV. É impressionante o que Cláudio Castro e Quintino Gomes Freire, dois apaixonados pelo Centro e pelo Rio, estão fazendo.
Algumas ações: recuperação de obras de arte, compra de originais de Jean-Baptiste Debret, espaço para debates culturais e por aí vai. O casarão histórico em funcionamento ( espero que logo) vai alterar aquele espaço.
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Daniella Perez e o Centro Cultural da Justiça
"Pacto Brutal", série no HBO sobre o assassinato da atriz Daniella Perez nos mostra ou relembra capítulos terríveis dessa história.
O julgamento desse e de outros casos foi no hoje Centro Cultural da Justiça, no Centro do Rio. Fiz um vídeo mostrando esse lugar.
 
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