Publicado 07/01/2022 06:00
Nós estamos em uma era de grande incerteza neste início de 2022. Muitas das certezas que tínhamos desapareceram nos últimos anos. Por exemplo, celebramos, com precipitação, o fim da Guerra Fria acreditando que desta vez a história seria linear, assim como que cada ano seria melhor do que o anterior - um progresso constante.
A globalização ganhou ascendência a grande velocidade e o mundo ocidental mostrou-se triunfante como vencedor da Guerra Fria. Ideologias entraram em colapso e perderam o seu significado, e o sistema da democracia liberal ocidental tornou-se dominante assinalando o fim da história. Até tivemos uma certa impressão de que guerras religiosas, étnicas, culturais e de classe eram coisas do passado e que a tecnologia resolveria todos os problemas do planeta.
Alguns acreditaram que chegaríamos a um mundo perfeito pleno de esperança. Mas a história gosta de surpresas e, assim, pouco a pouco, ano por ano, as nossas certezas entraram em colapso particularmente nos últimos anos. A crise econômica mostrou as vulnerabilidades do mundo ocidental e a classe média viu as suas possibilidades de enriquecimento diminuir com o passar do tempo e uma parcela dela entrou em regime de empobrecimento.
A qualidade de vida de que desfrutaram as antigas gerações não está assegurada para as novas gerações. O domínio do Ocidente é outra certeza que ruiu, visto que o cenário geopolítico mundial mais parece uma selva em que nenhum país pode mais impor a sua vontade isoladamente. A Rússia tenta sair do seu posicionamento de marginalização pelo Ocidente e a China mostra uma nova confiança com um certo grau de agressividade.
O futuro da União Europeia não é claro em razão de diferenças importantes entre os seus membros. O próprio conceito de Democracia ficou abalado e sofreu derrotas e ataques em várias nações, inclusive naquela que se julgava o bastião da Democracia. Os eventos em Washington em 6 de janeiro de 2021, demonstram que os Estados Unidos vivem uma crise institucional profunda com uma crise política que se acentua na medida em que as forças do passado ainda não foram vencidas pela modernidade e pela civilização. Trump foi um sintoma dessa doença mas há outros movimentos dessa natureza, inclusive no Brasil, que precisam ser vencidos pelas forças do progresso.
Houve um tempo em que a imensa maioria do Ocidente acreditava em uma mesma verdade e compartilhava certas certezas. Agora temos um certo número de pessoas que acreditam em uma verdade que não tem nada a ver com a realidade e os fatos, e não querem olhar para cima como na metáfora cinematográfica. Esses grupos compartilham uma mistura de ódio, raiva, pobreza e frustação que flutua na internet e na televisão compartilhando as verdades do algoritmo.
A pandemia e a crise climática agravaram esta situação reduzindo o número de certezas que tínhamos sobre o futuro. A história se impôs, mais uma vez, com a produção de uma nova era de incertezas que vai exigir de todos mais reflexão, mais equilíbrio e mais interesse pelo bem-estar social de todas as camadas de população.
A tolerância será um elemento fundamental para superarmos essas dificuldades e incertezas em 2022. Mas não devemos esquecer as palavras de Thomas Mann: “A tolerância é um crime quando o que se tolera é a maldade".
Cesário Melantonio Neto
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