Publicado 03/02/2022 06:00
Divulguei no WhatsApp, já que não tenho nenhuma outra rede social, um artigo do Maurício Rands, um amigo que admiro, cujo tema me interessa e com o qual concordo, em linhas gerais, “Causas identitárias: os métodos importam”. Por estar chegando de carro a Granada, na Espanha, não consegui ler os dois últimos parágrafos, mas ainda sim postei.
No último parágrafo do texto, havia um fato não verdadeiro: Chico Buarque teria cancelado a música “Com açúcar, com afeto”. Isso não aconteceu. O próprio Chico esclareceu que não canta essa música há 30 anos, mas nunca pediu para ninguém deixar de cantá-la. Ou seja, num cardápio das melhores letras do mundo, que são dele, ele canta o que quer. Maravilha da vida. Sem dar palpite a quem quer que seja. Sem orientar e sem cancelar. É o Chico, simples assim.
Cometi o erro que todos nós criticamos, que é o de dar visibilidade a um fato que contém uma inverdade, uma fake news. O autor, Maurício, digno como é, fez a ressalva quando o avisei que o próprio Chico havia me alertado que nunca cancelou a música “Com açúcar, com afeto” e nem nenhuma outra. Afinal, o espírito do Chico é libertário e nunca cancelador.
Que vida a nossa nestes tempos virtuais! Não temos tempo sequer de ler com a devida atenção todas as informações que nos chegam. E, se as repassamos, acabamos nos tornando fonte secundária de uma informação não verdadeira.
O artigo tinha como parte do título “métodos importam”, instigante e louvável. Mas, na realidade, o método não importou ou não foi seguido à risca. Ou seja, em tempos de mensagens espalhadas como notícias, o melhor é nós termos um cuidado dobrado. Afinal, os métodos importam.
E eu, apaixonado pelo Chico, percebo-me novamente ouvindo a música que não foi cancelada, que é linda, amorosa e dá uma vontade de encontrar um novo amigo para batucar na caixinha um samba antigo para eu poder comemorar.
Alegra-me poder dar um beijo real, e não em um retrato, nesses tempos estranhos em que estávamos quase saindo da pandemia e, de repente, voltamos de novo. Mas, principalmente, poder abrir os braços e voltar a abraçar carinhosamente nossos amores.
De preferência, fazendo como o Chico e não cancelando ninguém, salvo, é claro, os fascistas que não merecem nem o nosso afeto e nem o nosso doce predileto. E, como ensina o Chico, “pela minha lei, a gente era obrigado a ser feliz.”
Vamos trazer nosso país e nossos sonhos de volta. Lembrando sempre, como na letra da música, “a felicidade morava tão vizinha, que, de tolo, até pensei que fosse minha”. Vamos ser felizes de novo!
Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay
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