Publicado 11/08/2022 06:00
É quase impossível aceitar a cassação do vereador de Curitiba, no Paraná, Renato Freitas por racismo. Não tenhamos nenhuma dúvida: o argumento do crime político, que já seria ridículo, foi uma desculpa de um grupo de vereadores, supremacistas brancos, representantes do prefeito carola Greca, para retirar da Câmara um negro que não se dobrava ao pensamento racista, patrimonialista, autoritário.
E o chefe da cassação é, sem dúvida, o prefeito da capital, que, com sua enorme influência na Câmara, poderia ter evitado a morte civil de Renato. Ao contrário, fingiu de morto e disse que não iria interferir quando o arcebispo soltou uma nota dizendo que a Igreja não concordava com a cassação. Tudo teatro, o prefeito tentando ficar bem com a Igreja e com o diabo que representa o racismo que cassou Renato.
É necessário que o Brasil saiba do simulacro de julgamento que então se deu. Sob as ordens e a orientação do prefeito, os vereadores tiraram Renato da Câmara, cortaram a presença dele como quem tira um tumor. No caso dele, é o contrário: o tumor expeliu a parte sã. O tumor é o atraso representado pela falta de diálogo, pelo racismo estrutural. O Renato é a esperança e a aposta na igualdade e na fraternidade. É muito para aquele grupo moralista.
O argumento, falso e hipócrita, de que o Renato fez um ato político dentro da Igreja é assustador. Um grupo entrou pacificamente dentro de uma igreja, após a missa, e fez um ato de apoio aos que sofriam pela morte covarde de dois homens negros. Importante ressaltar que a Igreja em questão é a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos!! Construída em 1737 para acolher os pretos!!
Essa é a Igreja que inventaram para criar um pretexto. A Igreja católica não tem culpa e nem responsabilidade pelo obscurantismo racista dos vereadores. O próprio Papa Franciso vai receber o vereador em setembro e, certamente, com sua enorme capacidade de sentir o mundo, Renato Freitas vai contar a sua história, que é de instigante honestidade e dedicação aos menos favorecidos, aos invisíveis, como ele era.
Essa é a Igreja que inventaram para criar um pretexto. A Igreja católica não tem culpa e nem responsabilidade pelo obscurantismo racista dos vereadores. O próprio Papa Franciso vai receber o vereador em setembro e, certamente, com sua enorme capacidade de sentir o mundo, Renato Freitas vai contar a sua história, que é de instigante honestidade e dedicação aos menos favorecidos, aos invisíveis, como ele era.
Numa hipotética conversa com o Sumo Pontífice, eu diria a ele: “Esse é o ex-vereador de Curitiba, cassado por ser negro, mas, sob o pretexto velado de ter feito um ato político dentro de uma Igreja. Na realidade, ele foi cassado por ser negro. É possível, Santidade, que, dessa vez, a Igreja seja representada por sua voz, em nome dos princípios cristãos. E, se sua voz, Santíssimo Padre, puder cair sobre todos nós, ensine que quem abre as portas para mais gente abraçar a fé cristã é aquele que pode entrar na casa Deus”.
Qualquer templo religioso deve estar sempre aberto para receber os cristãos, ou os não cristãos. E, nesses tempos fascistas, em que o Twitter tem que suspender a conta da esposa do Bolsonaro, por espalhar intolerância religiosa, criticando, inclusive, religiões de matriz africana, é melhor a Igreja católica escancarar as portas. E rezar para as pessoas entrarem.
A Câmara Municipal de Curitiba, do alto da sua arrogância supremacista, deve estar sem entender nada. O Papa vai receber o vereador negro! Afinal, era para cassar ou não?!
Reporto-me à poeta moçambicana Noémia de Sousa no poema Porquê: “Por que é que as acácias de repente floriram flores de sangue? Por que é que as noites já não são calmas e doces, por que agora são carregadas de eletricidade e longas, longas?
Ah, por que é que os negros já não gemem, noite afora, Por que é que os negros gritam, gritam à luz do dia?”
Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay
Ah, por que é que os negros já não gemem, noite afora, Por que é que os negros gritam, gritam à luz do dia?”
Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay
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