opina20outARTE KIKO
Publicado 20/10/2022 06:00
Um país à deriva e com uma população dividida e infeliz. O grau de agressividade dos bolsonaristas ultrapassou todos os limites do razoável. A violência passou a fazer parte do dia a dia. A ostentação vulgar, o discurso banal e o culto ao ódio são produtos de uma maneira de ser que vai se impondo na sociedade brasileira.
Quatro anos de terra arrasada já causaram profundo impacto no cotidiano das pessoas. Uma estratégica visão governista de implantar o caos foi seguida de maneira rigorosa e fincou dentes no povo brasileiro. Digo, há anos, que o governo Bolsonaro deliberadamente destruiu as bases civilizatórias do país como uma forma desprezível de obter o poder e de permanecer nele. A mediocrização cuidou de destruir a Ciência, a Cultura, as artes e todo o legado humanista. Um povo brutalizado é coordenado docemente com uma vara de ferrão e um berrante.
A absoluta falta de abstração, uma certa repugnância pelo diálogo e a impossibilidade de ouvir críticas - inclusive da comunidade internacional – fizeram, cada vez mais, nascer e fortalecer um país de bárbaros, de recalcados, de racistas e de pessoas enrustidas que se escondem numa mesmice que tornou o Brasil uma cópia desbotada do que já chegamos a ser.
Enquanto as armas se proliferam e viram produtos de afirmação da masculinidade, o governo encerra seu ciclo sem abrir nenhuma universidade. O investimento retirado da Educação e de outras áreas essenciais serve para abastecer uma fúria dinheirista e corrupta de orçamento secreto e de verbas e gastos sigilosos. A cooptação de boa parte do Congresso Nacional, da elite dominante e da classe média idiotizada pelo Executivo faz o país ser jogado num fosso sem fundo, no qual os valores que vão sendo implementados são os mais mesquinhou e rasos.
O Brasil retrocedeu décadas. E o pior, uma grande quantidade de seres teratológicos se sentiram à vontade para assumirem uma versão na qual ser medíocre é um passaporte para ser respeitado nesse grupo. A violência física e verbal contra todas as minorias, o desprezo ao pobre, o apego aos bens materiais e aos símbolos da riqueza passaram a ser um código que une essa gentalha.
A mentira para conseguir ganhar, seja o que for, é o padrão que deve ser implementado e seguido. A senadora Damares, que é a representação mais natural do bolsonarismo raiz, teve a coragem de inventar histórias chocantes e profundamente constrangedoras. Um nojo, uma negação completa de tudo que pode existir de um pingo de dignidade que se espera de uma pessoa pública. A mentira tem um brilho especial no meio bolsonarista, parece que faz parte da formação da personalidade do grupo.
Agora é chegada a hora de decidir se a maioria já optou por essa proposta de barbárie ou se ainda teremos esperança de tentar sair do enorme buraco que sugou o povo brasileiro. Mais quatro anos de fascismo e o país vai se isolar ainda mais no mundo. Nossas vozes serão cada vez menos ouvidas, passaremos a andar de lado, com medo de rir e de sonhar. O pesadelo que os sustenta nos aniquila. O individualismo que os emoldura nos afasta de uma sociedade madura e plural.
Contra a aversão aos livros, contra o ódio à cultura indígena e contra o asco que têm da pobreza só nos resta o voto. E ali, dentro da cabine, livre com nossa consciência é que podemos voltar a ter chance de sermos felizes de novo. É mais do que chegada a hora de nos assumirmos com vigor contra as práticas fascistas. Não podemos permitir que a violência ocupe o espaço que é nosso. Vamos enfrentar essa onda de barbárie citando o poeta Leminski: “Vai me ver com outros olhos ou com os olhos dos outros.”
Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay
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