Arte coluna opinião 12 Janeiro 2023Arte Paulo Esper
Publicado 12/01/2023 06:00
Só temos a dimensão histórica da importância de um líder político após o assentar das nuances dos acontecimentos. O depurar do tempo é que permite uma visão mais completa do papel de cada um na luta constante da construção da democracia. Tenho como certo que o presidente Lula é o maior estadista dos nossos tempos. E a análise de dez dias do atual governo nos permite ter a dimensão da sua importância para o Estado democrático de direito.
No dia 1º de janeiro deste ano, Lula tomou posse como presidente da República pela terceira vez e, ao subir a rampa do Palácio do Planalto, junto com cidadãos que representam um Brasil real, produziu a mais bela cena da política contemporânea. Foi o Brasil tomando posse de si mesmo. A quebra de paradigmas.
Somente um homem maduro, um estadista, permitiria dividir aquele momento mágico com um grupo de brasileiros que, normalmente, estaria nas sub-representações da história. Tem que ter a dimensão exata da sua importância para o fortalecimento democrático, especialmente na luta prioritária contra as desigualdades, para aceitar dividir aquela subida da rampa.
Ocorre que, em oito dias de um governo ainda em formação, sofreu o Brasil, e sofremos todos nós, uma tentativa de golpe de Estado. Grave. Gravíssimo. A ocupação terrorista e criminosa das sedes dos Três Poderes é de uma periculosidade inaudita. E com violência, depredação de toda sorte, além da subtração de armas, de objetos históricos e de arte. Canalhas. Mil vezes canalhas.
Um grupo terrorista, fortemente financiado por fascistas coordenados pelo ex-presidente Bolsonaro, tentou derrubar o governo. Não pode existir outra leitura: trata-se da explicitação da ruptura institucional tantas vezes anunciada pelo golpista do Bolsonaro. Covarde que é se escondeu nos EUA para esperar o resultado. Ou voltaria pelos braços do povo ou para a cadeia. Esse é o resumo dos golpes de Estado.
É bom estar atento para esse episódio dramático, de um golpe até agora não completamente debelado, pois o risco ainda persiste. Como ensinou Bertolt Brecht, a cadela do fascismo está sempre no cio. São indispensáveis o enfrentamento e a punição de todos os terroristas que se fantasiaram de democratas. No atual momento de tensão, urge que identifiquemos e responsabilizemos todos os participantes dessa tentativa de golpe, inclusive em respeito à frágil estabilidade, recentemente adquirida.
Nesse episódio, algo impressionou positivamente e marcou a história recente do Brasil. O presidente Lula, na noite da tentativa do golpe, voltou para Brasília e visitou os escombros do Supremo Tribunal Federal. Na presença da ministra presidente e dos três ministros que estavam em Brasília, ele homenageou o Poder Judiciário, que atrevidamente teima em manter a estabilidade democrática. Foi bonito e simbólico.
Contudo, nada se comparou à descida da rampa. Apenas sete dias depois da mais fantástica e simbólica subida da rampa do Palácio do Planalto, o presidente Lula, enfrentando uma tentativa de golpe de Estado, fez o caminho inverso: desceu! Desta vez, após uma reunião sem antecedentes, a mais importante da história recente do Brasil, com os governadores de todos os estados e os chefes dos Poderes Judiciário e Legislativo. E foi andando até o prédio do Supremo Tribunal Federal. Atravessou a pé a Praça dos Três Poderes. Teve como companheiros históricos e democratas a presidente do Supremo, Rosa Weber, os ministros Lewandowski, Barroso e Toffoli, todos os governadores, bem como inúmeras autoridades. Ou seja, foi a descida da rampa que uniu o Brasil.
Essa reunião foi um sinal claro para os golpistas, ainda em covarde prontidão. E a descida da rampa foi o gesto de que resistiremos. Como ensinou o grande Saramago: “A única maneira de liquidar o dragão é cortar-lhe a cabeça, aparar-lhe as unhas não serve de nada”.
Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay.
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