Publicado 22/06/2023 00:00
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A consolidação de que realmente houve uma tentativa de golpe de Estado nos dá, em todos nós democratas, uma tristeza envergonhada e uma preocupação consciente com o presente e o futuro do Brasil. Quando alertávamos de que havia uma rebelião em curso, a regra era que fôssemos tratados como alarmistas. No fundo, até nós mesmos torcíamos para que estivéssemos errados na análise dos sinais da barbárie.
Hoje, não existe espaço para nenhuma dúvida. O golpe só não foi efetivado pelo fato de o então Presidente da República ser um cidadão obtuso, tosco e sem nenhum verniz intelectual ou liderança nos círculos fechados da inteligência nacional. Desprezado pela cúpula das Forças Armadas, que sentia profunda vergonha dos vexames diários promovidos por esse indigente intelectual, e pelos que têm capacidade mínima de analisar os fatos, aqui e no exterior. Mas esse fascista impregnou e cooptou milhões de seguidores país afora. E o risco ainda persiste. Lembrando-nos de Mário Quintana, “O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente”.
Por isso, é importante acompanharmos, com seriedade e atentamente, o que ocorre neste momento no Brasil. O movimento punitivista da Lava Jato foi um dos esteios do governo Bolsonaro. É sintomático que a derrota nas urnas do projeto autoritário coincida com o debacle dos líderes lavajatistas. Os chefes da força-tarefa de Curitiba estão bebendo parte do veneno que destilaram. A cassação do Deltan, a provável cassação do Moro, a séria e meticulosa inspeção extraordinária na 13ª Vara Federal de Curitiba e no TRF4, promovida pelo competente e corajoso ministro Salomão, corregedor do CNJ, dão-nos esperanças de dias melhores e com ares democráticos no Poder Judiciário. E tudo isso ocorre quando o TSE julga a inelegibilidade do Bolsonaro e a CPI dos Atos Antidemocráticos começa a funcionar.
Para o Brasil avançar e alcançar a paz social, é imprescindível que a justiça seja feita, com a punição dos golpistas, dos terroristas, dos dinheiristas e dos aproveitadores sem escrúpulos. Isso passa pelo princípio básico da República: todos são iguais perante a lei. Do general ao grande empresário e aos membros do inatingível Poder Judiciário, todos, enfim, que tiverem contas a prestar serão responsabilizados. Se não por um imperativo de justiça, vamos assim agir por inteligência emocional.
Com as milhões de viúvas do bolsonarismo indóceis e acuadas, inclusive na grande mídia, existe um fascismo latente e um risco de retrocesso civilizatório. Na verdade, os 4 anos de barbárie institucionalizada destruíram parte do arcabouço democrático construído ao longo de décadas de conquistas humanistas. Por isso, a preocupação com o presente e o futuro do país. Nessa quadra com contornos dramáticos, o Brasil tem que ter a necessária coragem e a imensa responsabilidade de não proteger os que, ainda ontem, planejavam e urdiam a ruptura institucional, com a implementação da Ditadura militar. É assustador e deprimente ler os planos que estavam em avançado estágio, inclusive com o sempre luxuoso apoio de juristas de plantão, que trocam o respeito pelo poder.
A subleitura do artigo 142 da Constituição - para dizer que as Forças Armadas seriam um Poder moderador -, a implementação do Estado de sítio, o afastamento de ministros do Supremo, a imposição de um interventor com poderes absolutos e a anulação da eleição legítima do Lula, dentre outros estupros constitucionais, visavam garrotear as liberdades e implementar as trevas e o terror. Isso não é um filme de 1968. Foi ontem. É hoje. Daquela época, só quero de volta o grito que tantas vezes ecoei nas ruas: “o povo unido jamais será vencido”. Vamos resistir!
Lembrando-nos de Sophia de Mello Breyner: “A memória longínqua de uma pátria eterna mas perdida e não sabemos se é passado ou futuro onde a perdemos”.
Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay
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