Publicado 04/01/2024 00:00
Talvez, a gente não tenha a exata compreensão do que é o passar do ano no Brasil. A dimensão do nosso calor único, amoroso e feliz. Os nossos abraços, ouso dizer, são mais abraços. Calorosos com um átimo de absolutamente pessoal. Abraçamos a moça na mesa ao lado com uma profundidade e intensidade únicas. Às vezes over, mas intensos.
Já fui ao Réveillon do Plaza Athénée, em Nova York. Ridículo. Depois de uma série de americanos soprando balões, a festa acabou em 15 minutos. E todo mundo de smoking. Felizmente, refugiei-me no charmoso restaurante do Ricardo Amaral, onde só consegui entrar pelos fundos e me comprometendo a comer a ceia dos funcionários. Amei.
Depois, fui ao péssimo Réveillon da Champs-Élysées. Muita violência, algum risco e sem o nosso charme. Claro que pode ser um preconceito, mas faltam bossa e molejo nas viradas em outros países. Agora, vejo o Réveillon no Hotel de Russie, em Roma. Um cafonália geral. E, o pior, com direito a desfile de bandas no dia primeiro. Assustador. Nem em Patos de Minas seria possível ver algo tão bizarro.
Ou seja, não existe nada como o jeito brasileiro, que nos permite pensar que é bom viver. Que nos fez enfrentar a pandemia, mesmo com um fascista negacionista no poder, e que nos faz acreditar em dias melhores. Mesmo depois de um ministro da Saúde que não sabia o que era o SUS! E de um presidente da República que negava a ciência e a arte. Nós somos a resistência a tudo isso.
Nos detalhes, somos contra as bandas americanas que evocam o banal de uma estranha cultura e contra toda a bizarrice que afronta o nosso jeito de ser. Amo o Rio, mas peço desculpas para saudar a Bahia. Nossa cara. Nosso jeito. Penso que o mundo ideal é um jeito carioca de ser baiano, ou um baiano com o charme carioca. Eu agradeço por ser brasileiro e viver de novo em um país democrático e livre.
Recorro-me ao poeta Eduardo Galeano:
"A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar."
"A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar."
Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay
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