KakayDivulgação
Publicado 08/08/2024 00:00
Quando eu era menino pequeno, lá em Patos de Minas, tinha a ingênua impressão de que não existia muita diferença de classe. Antes da crueza da vida me mostrar a chapada realidade, eu levava uma vida simples. A filha do vaqueiro era minha grande amiga no grupo Marcolino de Barros; o filho, o meu companheiro de perplexidades. Eu era melhor do que ele em montar em bezerro bravo no pelo. O que me dava certo prestígio. Não me esqueço de quando o levei a primeira vez ao cinema, num faroeste, e ele se escondeu no chão, atrás das cadeiras, com medo das flechas dos índios. Éramos felizes. E sabíamos.
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Com muito pouco tempo, fui vendo as diferenças se avolumarem. Mesmo com minha família quebrando e perdendo praticamente tudo, todos os meus irmãos se formaram e fizeram curso superior em universidades públicas. Nenhum dos meus amigos da roça ousou a universidade. Uma regra, à época, da realidade brasileira.
Agora, aqui em Paris, acompanhando as Olimpíadas, posso constatar o quanto a política pública pode mudar a vida das pessoas. Em 1977, quando entrei na Universidade de Brasília para fazer Direito, só existia um negro que era estudante no curso. E esse fato não era objeto de grandes indagações. Era uma realidade que não chocava a esmagadora maioria branca. Talvez, muitos achassem estranho ter um negro entre nós, e, não, ter somente um negro. Plena Ditadura, AI-5 vigendo, tortura, desaparecimento e violência como regra. Os fascistas brasileiros ainda não tinham a dimensão da força da raça negra, que iria surpreender o país.
A política de cotas foi um marco. Contra a hipócrita versão da meritocracia, mudou a composição da sociedade. Como querer que um menino pobre, negro, que mora na periferia e tem que pegar 3 ônibus, acordando às 4 da madrugada, sem conexão com internet, sem dinheiro para comprar livros e somente acesso às parcas bibliotecas, possa competir com os nossos filhos? Nossos burgueses, que reclamam quando a internet falha 2 minutos, com motoristas para levar e buscar, com acesso à biblioteca em casa com mais de 15 mil livros, viagens ao exterior e outras “vantagens” que forjam nossa diferença abissal. Meu Deus, obrigado pela política de cotas.
Agora, aqui em Paris, nas Olimpíadas, cada vez mais, devemos tirar o chapéu para a política de apoio ao esporte. O Lula é um craque e merece uma medalha de ouro. O programa foi criado em 2004, na primeira gestão do governo Lula, e regulamentado no ano seguinte. A bolsa atleta, que é paga diretamente aos esportistas, é, seguramente, o maior programa de patrocínio individual do mundo e está completando 20 anos. É uma mudança histórica. Eles podem ousar e sonhar a se dedicarem com exclusividade aos treinamentos.
Imagine um atleta brasileiro pobre, sem ter condições de comprar um tênis para correr, sem ter uma quadra digna para treinar e sem um técnico exclusivo competir com alguém que tem o tênis feito sob medida, com orientação sobre o que comer e beber? E, o pior e mais grave, o pobre muitas vezes nem sequer pode comer adequadamente. Para isso serve a força do Estado. O governo Lula tem que subir ao pódio. Desde o início, tivemos 8,7 mil atletas beneficiados. Gestantes, puérperas, surdos e técnicos em paradesporto. Um exemplo para o mundo.
Por isso, é bom ressaltar que o programa investiu 121 milhões em esportistas de modalidades olímpicas e paraolímpicas, com impressionantes 8,292 bolsas concedidas. Em 2024, mais de 9 mil atletas foram contemplados. Vale destacar que, aqui em Paris, 241 atletas são apoiados pelo Bolsa Atleta. Ou seja, 87,3% do total. O governo Lula merece uma medalha de ouro.
Lembrando-nos do nosso Caeiro brasileiro, o matuto Manoel de Barros: “Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro. Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).”
Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay
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