Pesquisa em ciência, tecnologia e inovação: soluções antigas são substituídas por outras novasMarcelo Camargo/Agência Brasil
Publicado 16/10/2025 11:26
A teoria da “destruição criativa”, enunciada por Joseph Schumpeter, ocupa lugar central no entendimento moderno de como as economias evoluem dinamicamente. Segundo o economista austríaco, o motor do crescimento e da renovação reside no fato de que inovações bem-sucedidas substituem produtos, processos, empresas e atividades já estabelecidas, tornadas obsoletas.
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Esse processo, inevitavelmente, envolve um componente destrutivo: enquanto novas empresas nascem, concorrendo com soluções mais eficientes ou mais atrativas, as antigas tendem a enfraquecer ou desaparecer. É justamente esse processo de substituição contínua que oxigena o sistema econômico, evita a estagnação e permite que se acumulem melhorias tecnológicas, ganhos de produtividade e diversificação produtiva.
Foi com base nessa perspectiva que o Comitê Nobel reconheceu, esta semana, o valor do entendimento da inovação como força motriz do crescimento econômico sustentável. O Prêmio Nobel de Economia de 2025 foi concedido a Joel Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt — sendo que Mokyr recebeu metade do prêmio por sua contribuição para identificar os pré-requisitos para o crescimento sustentado por meio do progresso tecnológico, e Aghion e Howitt dividiram a outra metade por seu modelo de “crescimento sustentado por destruição criativa”.
A formulação de Aghion e Howitt, em particular, atualiza e formaliza a intuição schumpeteriana: a economia deve permitir que ideias novas floresçam e concorram com tecnologias antigas, promovendo destruições e substituições que geram renovação estrutural e impulso tecnológico. Sob esse prisma, a inovação não é mero adorno ou acessório, mas condição de sobrevivência para qualquer economia que deseja evoluir. Foi assim com a máquina de escrever, substituída pelo computador e notebooks. Igualmente com os filmes fotográficos, substituídos pela fotografia digital.
Num ambiente em que as empresas, tecnologias e mercados permanecem inertes, predomina a estagnação. O tecido produtivo envelhece, os retornos decrescentes se acumulam e a competitividade declina. Já num ambiente em que novas ideias encontram espaço, onde surgem startups, onde pesquisadores recebem estímulos para transformar protótipos em produtos viáveis, cria-se um ciclo virtuoso de atração de investimentos, que gera empregos, dissemina o conhecimento e multiplica valor.
Para que esse mecanismo funcione bem, não basta apenas esperar que o mercado “se autorregule”. É necessário promover políticas, programas e instrumentos que apoiem a investigação, a incubação, a interação entre universidade e setor produtivo e o financiamento de risco moderado para ideias promissoras. É aí que entram iniciativas locais e regionais, capazes de conectar o talento local ao estímulo institucional, reduzindo os custos de entrada no processo de inovação.
No âmbito estadual, há iniciativas de sucesso. Na Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf), a existência de uma Agência de Inovação e de uma incubadora de empresas de base tecnológica — a TEC Incubadora — permite que pesquisadores e alunos tenham acesso a estrutura de apoio institucional, assessoria em propriedade intelectual, parcerias com empresas e mentoria para transformar ideias em empreendimentos viáveis.
Instalada na universidade, mas gerida por diversas instituições, a TEC Incubadora já teve dezenas de empresas selecionadas em programas de fomento estadual, como o Programa Doutor Empreendedor, da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), e conecta os laboratórios de pesquisa das universidades de Campos às demandas reais da sociedade local, fortalecendo o ecossistema de inovação regional. Muitos projetos se tornaram empresas de sucesso, com faturamento anual na casa dos milhões de reais.
No âmbito municipal, a Prefeitura de Campos, por meio do programa Startup Campos, concede bolsas de desenvolvimento tecnológico para projetos incubados em incubadoras locais, estimulando que ideias inovadoras amadureçam e cresçam, alçando voo próprio. Ao fazer isso, o município reduz os obstáculos financeiros e logísticos para que empreendedores transformem protótipos em produtos para o mercado, fechando parte do ciclo entre inovação e comercialização.
Quando a inovação é bem apoiada, o mecanismo de destruição criativa deixa de ser apenas uma metáfora e se torna uma propulsão real para o desenvolvimento local. O estímulo contínuo à pesquisa, ao empreendedorismo tecnológico e à articulação entre universidade, governo e setor privado favorece que ideias não fiquem aprisionadas no papel, mas se transformem em startups, produtos, empregos e impacto real. Em última análise, é desse modo — promovendo a inovação local articulada com políticas ativas — que a economia regional pode escapar da armadilha da obsolescência e capturar parte da energia regenerativa inerente à destruição criativa reconhecida pelo Nobel de 2025.
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