Publicado 15/12/2025 12:17
Quem vive ou passa pela zona rural sabe bem o que significa enfrentar a exclusão digital. Em áreas distantes dos grandes centros e com baixa densidade populacional, grandes operadoras não encontram viabilidade econômica para instalar suas redes. Mas essa realidade começa a mudar graças às redes comunitárias de internet. Com uma tecnologia desenvolvida no Norte Fluminense, elas vêm avançando silenciosamente por diversas localidades, oferecendo um acesso estável a quem antes se conectava de forma precária ao mundo.
PublicidadeO exemplo mais recente vem da Barra do Açu. Após meses de planejamento, capacitação e trabalho técnico, a comunidade do litoral de São João da Barra consolidou sua própria rede, permitindo que o sinal de banda larga atenda, inicialmente, a 200 famílias. A iniciativa resulta da parceria entre o Instituto Bem-Estar Brasil (IBEBrasil) e a Internet Society Foundation (ISOC Foundation), com apoio do Porto do Açu, da Prefeitura de São João da Barra, do Instituto Federal Fluminense (IFF), da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf) e da Forte Telecom.
A tecnologia por trás dessas redes comunitárias foi desenvolvida pelo IBEBrasil, organização sem fins lucrativos de Campos dos Goytacazes dedicada a universalizar o acesso à internet como direito fundamental em regiões isoladas ou em comunidades onde planos comerciais são inviáveis. A experiência, que ocorre em outras partes do planeta desde os anos 2000, já foi replicada em várias comunidades do país e, no Norte Fluminense, está presente também nas localidades de Marrecas e Espírito Santinho, ambas em Campos.
Com as redes comunitárias, qualquer grupo de moradores pode estruturar e gerenciar coletivamente uma rede de acesso em sua própria localidade. Isso envolve instalar, de forma simples, antenas, fibra óptica local, switches, roteadores e outros equipamentos. Como essas redes não operam com a lógica comercial dos provedores de internet, o custo para o usuário final é significativamente menor. A conexão continua sendo adquirida de um provedor, mas, diferentemente do modelo tradicional, a comunidade passa a comprar a capacidade de conexão e a administrá-la como um bem comum através do compartilhamento do sinal via rede local. Ou seja, ninguém perde; só há ganhos.
Na Barra do Açu, a rede comunitária — inaugurada no final de novembro de 2024 — é gerida pela associação de moradores local, que distribui o sinal para os moradores através da infraestrutura implantada na comunidade. Assim, os moradores têm acesso à internet em computadores, celulares e tablets com custos de operação e manutenção muito mais baixos que os praticados no mercado.
As vantagens são inúmeras. Com uma rede local estruturada, a comunidade pode criar espaços virtuais, desenvolver aplicativos, implantar telecentros, fortalecer iniciativas de educação e impulsionar negócios locais. A inclusão digital também gera oportunidades de trabalho, já que moradores são capacitados para realizar as instalações, dar suporte aos vizinhos-usuários e fazer a manutenção da rede.
A Barra do Açu já colhe os frutos desse avanço. E o movimento tende a se ampliar: dentro do projeto, o IBEBrasil prevê levar redes comunitárias a 15 mil famílias em 22 localidades de Campos dos Goytacazes e São João da Barra, com recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (FUST), o Novo PAC e de ações governamentais voltadas à inclusão digital. No país do 5G e das desigualdades, é animador saber que tantas famílias antes excluídas agora podem, finalmente, se conectar ao mundo.
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