Publicado 05/11/2024 00:00 | Atualizado 18/11/2024 14:40
Com personagens marcantes como Raí, de "Da Cor do Pecado", e o vilão Jacaré, de "Totalmente Demais", Sérgio Malheiros reflete sobre sua trajetória e a importância de ocupar espaços na mídia como homem negro. Ao longo de uma conversa exclusiva com a coluna Daniel Nascimento na série de reportagens promovidas em homenagem ao mês em que se comemora o Dia da Consciência Negra, o ator revelou como as questões raciais moldaram sua consciência, o impacto da representatividade no entretenimento e o orgulho de inspirar novas gerações. Entre conquistas, desafios e sonhos, o artista compartilhou os próximos passos na carreira e os projetos que envolvem a rica cultura negra brasileira.
Sérgio, quando a consciência racial chegou para você? Quando você começou a se entender como negro?
"Desde criança, eu me descobri através do trabalho, em todos os sentidos. A minha consciência racial, inclusive, surgiu nesse processo. Foi por meio dos personagens que interpretei e do contato com o público que comecei a compreender a dimensão da minha representatividade na televisão. Aos poucos, entendi o impacto de ocupar aquele espaço e a responsabilidade que isso trazia. Comecei a me entender como um garoto negro através das histórias que eu mesmo contava na tela. Foi aí que percebi como essas histórias se pareciam com as vivências de tantos outros meninos pretos".
Filho de mãe preta e pai branco, como eram abordadas as questões raciais dentro da sua casa ou não eram abordadas?
"Meu pai é negro também e eu demorei muito tempo pra entender isso porque ele tem a pele clara. Mas essas questões não eram muito abordadas, não de forma didática. Essas questões começaram a aparecer na época em que comecei a ter mais liberdade e autonomia para sair sozinho e fazer minhas escolhas. Mas elas sempre apareciam como forma de medo, de proteção e cuidados exagerados. Cuidados com um mundo racista que já havia machucado muito meus pais".
Como está sendo trabalhar e viver um par romântico com sua esposa Sophia Abrahão na série "Amor da minha Vida!", 10 anos após o primeiro encontro de vocês também como um casal em “Alto Astral”?
"Foi uma experiência incrível. Somos muito parceiros e sempre tivemos essa vontade de trabalhar juntos. Estudar lado a lado e compartilhar o dia a dia foi algo muito especial, especialmente porque, quando estamos em projetos diferentes, o tempo juntos é bem mais escasso. Esse foi um trabalho realmente gratificante".
Você é casado como uma mulher branca! Você acredita que a falta da pauta racial no início das suas escolhas sexo afetivas pode ter te influenciado a ter relacionamentos inter-raciais?
"Talvez sim, quando eu era mais novo não se falava sobre essas pautas".
Você e Sophia conversam abertamente sobre racismo? Como você passa as questões raciais e as noções de racismo para sua esposa?
"Sim, claro. O racismo impacta minha vida diretamente e falamos sempre sobre isso".
Em algum momento da vida, você passou por alguma situação de racismo?
"Já, inúmeras, a última foi em uma viagem para o Chile, quando meus amigos e eu fomos severamente 'vigiados' pelos seguranças de um mercado, todos os dias que íamos fazer compras. São situações que nos deixam com muita raiva. Mas com o tempo a gente acaba criando defesas".
Quais os cuidados que você toma no dia a dia para tentar evitar o racismo?
"Evitar o racismo no Brasil é algo impossível. Não importa se você tem dinheiro, tem poder ou se é famoso. Mas eu acredito profundamente no poder das narrativas. Se eu posso transformar a forma de pensar de alguém, é através da arte e das histórias que compartilho. Cada vez que penso nos meus personagens e abordo temas como o racismo, como estamos fazendo agora, sinto que estou contribuindo para essa mudança".
Sérgio, você iniciou sua carreira em um período em que poucos atores negros tinham visibilidade nas novelas, já hoje, você é reconhecido como uma figura importante na construção dessa representatividade. Como é saber que abriu caminhos e inspirou tantas crianças negras?
"É uma grande responsabilidade. Quando comecei, ainda não havia uma discussão sobre a representatividade de atores negros nas novelas, só o fato de estar ali já me parecia uma grande vitória. Mas, com o tempo, percebi que não havia pessoas como eu ao meu lado e ser o único preto na sala não era algo positivo".
"É claro que já existiam grande atores que serviam de inspiração, como a própria Taís Araújo, Rocco Pitanga e Jorge Coutinho. Mas eles também eram uma exceção. Notei também que pessoas parecidas comigo raramente ocupavam cargos de liderança, o que impactava diretamente as histórias que eram contadas. Ter a oportunidade de crescer na carreira e escolher meus personagens me deu autonomia para, de certa forma, também escolher as histórias que quero contar".
Sendo uma pessoa pública, você se vê na obrigação de abordar as pautas raciais? Como você se posiciona em relação ao antirracismo?
"Hoje, procuro fazer isso de maneira positiva, exaltando a força e a riqueza da nossa cultura, nossas histórias, nossa ancestralidade e nossa origem. Fico muito feliz em ver uma geração mais jovem com um letramento racial muito maior do que eu tinha na minha juventude. A verdade é que, quando falamos de racismo, todos sabem que ele existe, mas poucos reconhecem seu papel nisso. Por isso, é fundamental compartilharmos nossas histórias e mantermos viva nossa luta".
Comemorando 20 anos de carreira artística, qual é o seu grande sonho como ator? Existem projetos futuros ou personagens específicos que você deseja interpretar?
"Tenho muitos sonhos. Quero contar histórias sobre o Brasil em toda a sua profundidade, criar personagens complexos e trabalhar ao lado dos meus ídolos. Um desses grandes sonhos se realizou no ano passado, quando filmei uma série para o Disney Plus sobre a Capoeira e o Candomblé. Esses são dois pilares importantíssimos da cultura negra brasileira, e fiquei extremamente feliz com o resultado do trabalho".
Sérgio, quando a consciência racial chegou para você? Quando você começou a se entender como negro?
"Desde criança, eu me descobri através do trabalho, em todos os sentidos. A minha consciência racial, inclusive, surgiu nesse processo. Foi por meio dos personagens que interpretei e do contato com o público que comecei a compreender a dimensão da minha representatividade na televisão. Aos poucos, entendi o impacto de ocupar aquele espaço e a responsabilidade que isso trazia. Comecei a me entender como um garoto negro através das histórias que eu mesmo contava na tela. Foi aí que percebi como essas histórias se pareciam com as vivências de tantos outros meninos pretos".
Filho de mãe preta e pai branco, como eram abordadas as questões raciais dentro da sua casa ou não eram abordadas?
"Meu pai é negro também e eu demorei muito tempo pra entender isso porque ele tem a pele clara. Mas essas questões não eram muito abordadas, não de forma didática. Essas questões começaram a aparecer na época em que comecei a ter mais liberdade e autonomia para sair sozinho e fazer minhas escolhas. Mas elas sempre apareciam como forma de medo, de proteção e cuidados exagerados. Cuidados com um mundo racista que já havia machucado muito meus pais".
Como está sendo trabalhar e viver um par romântico com sua esposa Sophia Abrahão na série "Amor da minha Vida!", 10 anos após o primeiro encontro de vocês também como um casal em “Alto Astral”?
"Foi uma experiência incrível. Somos muito parceiros e sempre tivemos essa vontade de trabalhar juntos. Estudar lado a lado e compartilhar o dia a dia foi algo muito especial, especialmente porque, quando estamos em projetos diferentes, o tempo juntos é bem mais escasso. Esse foi um trabalho realmente gratificante".
Você é casado como uma mulher branca! Você acredita que a falta da pauta racial no início das suas escolhas sexo afetivas pode ter te influenciado a ter relacionamentos inter-raciais?
"Talvez sim, quando eu era mais novo não se falava sobre essas pautas".
Você e Sophia conversam abertamente sobre racismo? Como você passa as questões raciais e as noções de racismo para sua esposa?
"Sim, claro. O racismo impacta minha vida diretamente e falamos sempre sobre isso".
Em algum momento da vida, você passou por alguma situação de racismo?
"Já, inúmeras, a última foi em uma viagem para o Chile, quando meus amigos e eu fomos severamente 'vigiados' pelos seguranças de um mercado, todos os dias que íamos fazer compras. São situações que nos deixam com muita raiva. Mas com o tempo a gente acaba criando defesas".
Quais os cuidados que você toma no dia a dia para tentar evitar o racismo?
"Evitar o racismo no Brasil é algo impossível. Não importa se você tem dinheiro, tem poder ou se é famoso. Mas eu acredito profundamente no poder das narrativas. Se eu posso transformar a forma de pensar de alguém, é através da arte e das histórias que compartilho. Cada vez que penso nos meus personagens e abordo temas como o racismo, como estamos fazendo agora, sinto que estou contribuindo para essa mudança".
Sérgio, você iniciou sua carreira em um período em que poucos atores negros tinham visibilidade nas novelas, já hoje, você é reconhecido como uma figura importante na construção dessa representatividade. Como é saber que abriu caminhos e inspirou tantas crianças negras?
"É uma grande responsabilidade. Quando comecei, ainda não havia uma discussão sobre a representatividade de atores negros nas novelas, só o fato de estar ali já me parecia uma grande vitória. Mas, com o tempo, percebi que não havia pessoas como eu ao meu lado e ser o único preto na sala não era algo positivo".
"É claro que já existiam grande atores que serviam de inspiração, como a própria Taís Araújo, Rocco Pitanga e Jorge Coutinho. Mas eles também eram uma exceção. Notei também que pessoas parecidas comigo raramente ocupavam cargos de liderança, o que impactava diretamente as histórias que eram contadas. Ter a oportunidade de crescer na carreira e escolher meus personagens me deu autonomia para, de certa forma, também escolher as histórias que quero contar".
Sendo uma pessoa pública, você se vê na obrigação de abordar as pautas raciais? Como você se posiciona em relação ao antirracismo?
"Hoje, procuro fazer isso de maneira positiva, exaltando a força e a riqueza da nossa cultura, nossas histórias, nossa ancestralidade e nossa origem. Fico muito feliz em ver uma geração mais jovem com um letramento racial muito maior do que eu tinha na minha juventude. A verdade é que, quando falamos de racismo, todos sabem que ele existe, mas poucos reconhecem seu papel nisso. Por isso, é fundamental compartilharmos nossas histórias e mantermos viva nossa luta".
Comemorando 20 anos de carreira artística, qual é o seu grande sonho como ator? Existem projetos futuros ou personagens específicos que você deseja interpretar?
"Tenho muitos sonhos. Quero contar histórias sobre o Brasil em toda a sua profundidade, criar personagens complexos e trabalhar ao lado dos meus ídolos. Um desses grandes sonhos se realizou no ano passado, quando filmei uma série para o Disney Plus sobre a Capoeira e o Candomblé. Esses são dois pilares importantíssimos da cultura negra brasileira, e fiquei extremamente feliz com o resultado do trabalho".
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