Mary Sheyla André Wanderley / Divulgação
Publicado 07/11/2024 07:00 | Atualizado 17/11/2024 06:48
Com uma carreira marcada por papeis icônicos, incluindo os mais recentes como Jussara em "Todas as flores” e Márcia em "Elas por elas", e consagrada com prêmios como o Troféu Raça Negra e o Kikito de Melhor Atriz Coadjuvante, Mary Sheyla de Paula, nascida e criada no Vidigal, Rio de Janeiro, revisitou sua trajetória no audiovisual brasileiro. Em conversa sincera com a coluna Daniel Nascimento, a atriz refletiu sobre sua origem, as dificuldades enfrentadas em um setor ainda racista e a importância de ver personagens negros representados com autenticidade. A artista comentou, ainda, as conquistas da representatividade e compartilhou suas esperanças para um futuro com mais inclusão e equidade no setor.

Durante sua carreira, você já interpretou personagens icônicos na televisão. Como você vê a evolução da representatividade negra na TV brasileira desde então?

Acredito que ainda estamos caminhando a passos lentos. Creio que hoje está um pouco
melhor do que a 25 anos atrás quando comecei no audiovisual. Mas não dá para fingir
naturalidade, quando vemos produções com apenas 20% do seu elenco de pessoas pretas.

No início dos anos 2000, as personagens negras frequentemente eram estereotipadas ou relegadas a papeis secundários. Você enfrentou algum tipo de resistência ou imposição de estereótipos ao interpretar essas personagens?

Não vejo personagens como estereotipados. Há gente de todos os tipos e
pensamentos vários. Você pode acreditar! Sempre terá uma pessoa que irá se identificar com certas atitudes e palavras abordados por personagens, que na opinião de muitos estão fora dos padrões.

Quais foram as principais dificuldades que encontrou em sua trajetória no audiovisual devido ao racismo, especialmente nos primeiros anos da sua carreira?

Temos poucas oportunidades. É engraçado, quando fazemos o que amamos, temos
a impressão de que é pouco e queremos sempre mais.

No mês da Consciência Negra, discutimos o impacto de representações positivas. Algum dos papeis que você interpretou contribuiu para desconstruir preconceitos? Poderia partilhar algum exemplo?

Minhas personagens fazem refletir! Por mais que certas pessoas não gostem ou critiquem, mas trazem discussão e luz a temas pouco falados. Acredito que esse seja um dos ofícios do ator.

No início dos anos 2000, o racismo estrutural era ainda mais presente nas produções audiovisuais. Você recorda alguma experiência em que sentiu a discriminação de forma direta ou indireta?

Sempre tem, de maneira muito velada. Mas não me importo! Sei o que estou fazendo ali. Sou grata a Deus, por me dar força e coragem, para encarar de frente cada dificuldade. Preconceito precisa ser denunciado, mas não podemos de forma alguma parar, devemos seguir em frente!

Como mulher negra no audiovisual, quais desafios específicos você teve de superar para conquistar mais espaço e diversidade nos papeis oferecidos?
Desde o início da minha carreira, eu tento fugir do estereótipo da preta bonitona. Sempre acreditei que eu tenho mais a oferecer do que apenas o meu corpo… Não tenho essa bola toda (risos).

Durante a sua carreira, você já participou de filmes, séries ou outros que abordaram diretamente temas relacionados à cultura negra ou ao combate ao racismo? Como foi a recepção e impacto dessas produções?

Tenho a honra e responsabilidade de desempenhar papeis, com temáticas tão vulneráveis. É preciso estudo e sensibilidade, para passar verdade que cada personagem exige.

Você sente que houve uma mudança significativa no modo como personagens negros são escritos e apresentados nas novelas e séries ao longo dos anos?

Perceberam que tem pessoas pretas em diversas camadas da sociedade (risos). Essa foi a mudança. O público gosta de se ver representado! Então, não tem como nos esconder.

Quais são as suas esperanças e expectativas para a representação de atores e atrizes negras na televisão brasileira? O que ainda falta mudar na indústria audiovisual?

Equidade, oportunidades iguais! Eu tenho esse sonho.

Para você, qual é a importância do Mês da Consciência Negra para os profissionais negros no audiovisual? E quais mudanças ou avanços gostaria de ver no setor para que haja uma inclusão ainda maior?

A pergunta de 1.000.000 reais (risos). Nós, povo preto, precisamos contar as nossas histórias, sem esperar que façam isso por nós. É muito bom, quando vemos um filme como o “Cidade de Deus” e tantos outros... temos voz e queremos ser ouvidos! A hora de fazer é agora!

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