Patricia Marins e seu gato, EvaristoDivulgação
Publicado 29/12/2024 00:00
“Fogos com estampido são desnecessários”, diz mãe de pets sobre os impactos em animais

Enquanto milhões de pessoas aguardam ansiosamente a contagem regressiva para a virada do ano, para a designer Patrícia Marins, de 28 anos, o momento é de preocupação. Moradora de Maricá, no Rio de Janeiro, e mãe de três gatos — EIvaristo, Pérola e Oswaldinho —, ela evita sair de casa no Réveillon para proteger seus pets dos impactos dos fogos de artifício barulhentos.

“Já perdi as contas de quantos anos passei dentro de casa. Não é porque eu quero, mas porque preciso proteger meus gatos. Eles ficam tão assustados que tenho medo de algo grave acontecer, até de morrerem de susto”, relata.
Publicidade
Patrícia tem uma rotina específica para minimizar os efeitos dos fogos nos animais. “Antes de começarem, coloco uma música bem calma, que eles já conhecem, para tentar desviar a atenção dos estampidos. Depois, fico com eles em um quarto tranquilo, na cama. Acabo perdendo as comemorações, mas o mais importante é manter a vida e a saúde mental deles”, explica.
Para ela, a proibição dos fogos com estampido seria essencial para garantir o bem-estar de pessoas e animais. “Esses fogos barulhentos não fazem a menor diferença na vida de ninguém, pelo contrário, só atrapalham. Afetam animais que chegam a morrer de susto, pessoas com autismo, pessoas com deficiência… Os fogos brilhantes já são suficientes para celebrar o ano novo”, defende.

Enquanto no Natal Patrícia consegue sair e confraternizar com a família, o Réveillon, em sua visão, continua sendo um momento de sacrifício. “É impossível sair. Não consigo relaxar sabendo que meus gatos estão assustados e vulneráveis. Isso acaba comigo, mas faço o que é necessário para protegê-los.”

A questão dos fogos de artifício barulhentos é cada vez mais debatida, com leis sendo discutidas para restringir o uso e multar quem descumpre as proibições. Para Patrícia, medidas como essas não apenas protegem os animais, mas também garantem mais tranquilidade para famílias que precisam lidar com o impacto negativo dessa prática. “Espero que um dia as pessoas entendam que o brilho é mais do que suficiente para celebrar. Não precisamos do barulho para fazer uma festa bonita.
Dricka, cadelinha símbolo de resistência, falece aos 14 anos

Dricka foi uma das vítimas dos fogos de artifício e da maldade humana. No Réveillon de 2018, ONG Paraíso dos Focinhos, recebeu uma mensagem pedindo socorro. Alguém havia prendido um rojão ao corpo de Drika, uma cadelinha que vivia abandonada na rua do Rio de Janeiro.

Drika tentou tirar o rojão e perdeu parte da mandíbula com a explosão do fogo de artifício. Ela sofreu queimaduras graves pelo corpo, perdendo o rabo e parte do ânus. Drika foi resgatada pela ONG Paraíso dos Focinhos, passou por cinco cirurgias, a recuperação foi difícil e dolorosa.

A cadelinha chegou a viver anos de alegria e amor abrigada na ONG. Dricka faleceu aos 14 anos e sempre foi símbolo de resistência e fé. “É urgente que a sociedade comece a repensar as celebrações e que se busquem alternativas mais humanitárias e seguras. Precisamos garantir que as festividades não sejam um motivo de sofrimento para os animais", declara Hanri Soares, presidente da ONG Paraíso dos Focinhos.
Fogos de artifício com ruídos: um problema grave para os animais e seus tutores
A veterinária Raquel Muller Soares explica que os animais escutam até quatro vezes mais que os seres humanos e, por não conseguirem compreender os estrondos, entram em pânico. “Esses sons imprevisíveis e extremamente altos podem desencadear um quadro de estresse agudo nos animais. Isso leva a comportamentos como tremores, salivação excessiva, respiração acelerada e tentativas de fuga, que podem resultar em acidentes ou até na morte dos pets”, alerta.

Além do estresse emocional, os fogos barulhentos podem causar uma série de problemas físicos e comportamentais graves, como:
•Estresse e ansiedade: O barulho alto e inesperado pode desencadear pânico, levando a tremores, respiração ofegante, salivação excessiva e tentativas de fuga, que podem resultar em ferimentos.
•Comportamento destrutivo: Muitos animais, ao tentar se esconder ou fugir, acabam destruindo móveis, portas ou outros objetos. Alguns chegam a se ferir gravemente durante essas tentativas.
•Problemas de saúde: O estresse intenso pode causar aumento da pressão arterial, ataques cardíacos em animais mais velhos ou com doenças preexistentes, e até perda de apetite.
•Danos auditivos: O som muito alto pode causar lesões temporárias ou permanentes na audição dos animais.
•Traumas de longo prazo: Exposições frequentes aos fogos podem criar fobias severas, dificultando a convivência com outros ruídos altos, como trovões.

“Esses danos não são apenas passageiros. Muitos animais ficam traumatizados, desenvolvendo reações extremas a qualquer som alto no futuro. É algo que poderia ser evitado com a conscientização e o uso de alternativas como os fogos luminosos, que não produzem ruídos”, reforça Raquel.

Além de veterinária, Raquel é tutora de dois cães e dois gatos, o que a faz vivenciar os desafios de lidar com pets nessa época do ano. Ela conta que precisou adaptar suas comemorações para priorizar o bem-estar dos animais. “Eu sempre fico em casa com eles. Coloco música calma, fecho as janelas e fico com eles em um quarto mais silencioso. É difícil abrir mão das celebrações, mas, como tutora, meu maior compromisso é proteger meus animais e garantir a saúde física e mental deles”, relata.

Raquel também faz um apelo para que tutores e a sociedade em geral considerem os impactos dos fogos barulhentos. “Hoje já existem fogos silenciosos, que são lindos e não causam sofrimento. Os fogos com estampido são completamente desnecessários. Eles não afetam apenas os animais, mas também pessoas com autismo, idosos e outras populações vulneráveis. A alegria de uma noite não pode significar a tristeza ou a perda de um grande amigo. É hora de mudar essa realidade”, conclui.
Regulamentação de fogos de artifício: multas estão em discussão
No Rio de Janeiro, o uso de fogos de artifício barulhentos por cidadãos comuns já está proibido por lei, apenas instituições autorizadas pela prefeitura podem utilizar fogos de artifício. E agora, a Câmara Municipal discute uma nova medida para multar aqueles que descumprirem essa proibição. A proposta, apresentada pelo vereador Luís Carlos Ramos Filho, busca endurecer ainda mais a regulamentação, prevendo sanções financeiras que variam de R$ 1 mil a R$ 10 mil, dependendo da gravidade da infração.

“Já conseguimos proibir o uso de fogos barulhentos por cidadãos comuns, mas o desafio agora é criar um mecanismo para punir quem desrespeita a lei. Aprovamos o projeto para multar, mas ele foi vetado pelo prefeito. Agora, o veto volta para a Câmara, e nossa expectativa é derrubá-lo e promulgar a medida de vez”, explicou o vereador.
O vereador explicou que a lei ficou em tramitação na casa por quatro anos, para proibir 100% os fogos com estampidos, mas que após uma série de debates e ajustes no texto original, a redação aprovada mantém a realização de eventos tradicionais, como o Réveillon de Copacabana.
Para o vereador, mesmo com avanços significativos, como a redução de 240 para 120 decibéis nos fogos e a introdução de fogos silenciosos em eventos oficiais, ainda há um longo caminho para se chegar ao ideal. “Foi uma vitória parcial, mas o objetivo é acabar de vez com essa prática em toda a cidade”, afirmou.
Acrescentou que: "A medida de multa é vista como uma necessidade para proteger animais doméstico, pois são muito sensíveis e grupos vulneráveis, como autistas, pessoas com epilepsia, idosos, e até profissionais de saúde que lidam com as consequências das queimadas e do barulho excessivo. Além disso, o uso indiscriminado de fogos ainda gera gastos públicos significativos, como no combate a incêndios e no atendimento hospitalar a pacientes afetados".

Leia mais