Publicado 21/09/2025 00:00
A Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ) lançou, nesta sexta-feira (19), um novo painel informativo sobre acidentes envolvendo animais peçonhentos. A ferramenta, disponível no portal Monitora RJ, apresenta um panorama atualizado semanalmente, com dados detalhados sobre ocorrências em todas as regiões fluminenses. A iniciativa busca ampliar a transparência, fortalecer as ações de vigilância e apoiar gestores municipais e profissionais de saúde na tomada de decisões.

Nos últimos cinco anos, mais de 17 mil casos foram notificados em território fluminense. Somente a Região Serrana concentrou 23% do total, revelando-se como a área de maior vulnerabilidade. Em 2025, até 15 de setembro, já foram 2.702 acidentes registrados, número considerado expressivo diante da diversidade de espécies presentes no estado e da expansão urbana sobre áreas de mata.

De acordo com os dados, as principais ocorrências envolvem aranhas (957 casos), escorpiões (638) e serpentes (421). Também foram registrados acidentes com abelhas, lagartas e outros animais venenosos.

Rede de atendimento

Para dar resposta rápida a esse tipo de ocorrência, o estado conta hoje com 27 polos de referência para fornecimento de soro antiofídico, distribuídos de forma estratégica. Esses locais recebem reforço contínuo de insumos, justamente para atender às regiões onde há maior incidência de acidentes.

“O monitoramento desses acidentes é estratégico para entendermos onde ocorrem e se os polos continuam eficientes. Em casos de emergência, o nosso Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde funciona 24 horas por dia, sete dias por semana. Uma linha telefônica voltada a atender emergências dos municípios orienta as unidades de pronto-socorro sobre onde encontrar o soro”, afirma a secretária de Estado de Saúde, Claudia Mello.

Segundo a SES-RJ, todos os tratamentos são realizados exclusivamente no SUS e de forma gratuita. Apesar disso, em situações em que o paciente procura inicialmente a rede privada, é possível a transferência para a unidade de referência mais próxima ou o fornecimento do soro à clínica particular, garantindo a continuidade do atendimento.

Perfil dos acidentes

O levantamento também derruba um mito comum: o de que os acidentes com animais peçonhentos acontecem majoritariamente em áreas rurais. Entre 2020 e 2025, 53,4% das ocorrências foram registradas em zonas urbanas. O dado mostra que o avanço das cidades e a alteração do ambiente natural aumentam a convivência entre humanos e animais como escorpiões, que se adaptam facilmente a ambientes domésticos.

Outro destaque é o perfil das vítimas. Mais de 61% são homens, em geral adultos em idade economicamente ativa. Em muitos casos, os acidentes acontecem durante atividades cotidianas, como jardinagem, limpeza de terrenos baldios ou manuseio de entulhos.

Importância da prevenção

Especialistas alertam que, embora os acidentes sejam frequentes, a maioria pode ser evitada com cuidados simples. Entre as recomendações estão: evitar o acúmulo de lixo e entulhos próximos a casas, usar luvas ao manusear materiais de construção ou vegetação e manter atenção redobrada em áreas de mata.

No caso de picadas ou ferroadas, a orientação é procurar imediatamente uma unidade de saúde. O tempo é fator determinante para o sucesso do tratamento. Compressas, torniquetes, ingestão de bebidas alcoólicas ou tentativas de sugar o veneno não devem ser feitas, pois podem agravar o quadro clínico.

Transparência e tecnologia a serviço da saúde

A criação da nova aba no Monitora RJ reflete o esforço da SES-RJ em ampliar a transparência na gestão dos dados de saúde. A plataforma já disponibiliza painéis sobre doenças como dengue, zika, chikungunya e Covid-19, além de informações relacionadas a leitos hospitalares e indicadores epidemiológicos.

“O objetivo é oferecer à população e aos gestores uma visão clara da realidade, permitindo decisões mais rápidas e precisas. Esse tipo de ferramenta ajuda tanto quem está na gestão pública quanto os profissionais que atuam diretamente na assistência, além de informar os cidadãos”, reforça a secretária Claudia Mello.

Com a atualização semanal, será possível acompanhar variações sazonais e identificar rapidamente áreas que necessitam de maior atenção, seja pelo aumento repentino no número de casos ou pela confirmação de acidentes com espécies de maior gravidade, como determinadas serpentes venenosas.

Desafios

Apesar do avanço representado pelo painel, o tema ainda envolve grandes desafios. Um deles é a subnotificação: nem todos os casos chegam a ser registrados no sistema, especialmente quando as vítimas não procuram atendimento médico por acreditarem que os sintomas são leves.

Outro ponto crítico é a distribuição geográfica dos polos de referência. Embora estejam em locais estratégicos, alguns pacientes em áreas rurais ou comunidades isoladas ainda enfrentam dificuldades de deslocamento até a unidade mais próxima. A SES-RJ afirma que estuda constantemente a redistribuição de polos para reduzir desigualdades regionais.

Situação nacional

De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil registra em média 200 mil acidentes por ano com animais peçonhentos. Escorpiões são responsáveis por mais da metade dessas ocorrências, com aumento expressivo nas duas últimas décadas. O Rio de Janeiro segue essa tendência, com crescimento de registros principalmente em áreas urbanas.

Com a disponibilização de dados detalhados sobre acidentes com animais peçonhentos no Monitora RJ, a Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro dá mais um passo na direção da transparência e do fortalecimento da vigilância em saúde. A iniciativa possibilita um diagnóstico mais preciso da realidade fluminense, oferece suporte às equipes de saúde e reforça a importância da prevenção para reduzir riscos à população.

Em caso de acidente, a orientação é clara: procurar imediatamente atendimento médico. O SUS garante tratamento gratuito, com aplicação do soro adequado para cada tipo de ocorrência. Informação, agilidade e cuidado são as principais armas para evitar complicações e salvar vidas.
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Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ) responde perguntas mais comuns sobre animais peçonhentos:

O que fazer caso encontre um animal peçonhento?
O mais adequado é se afastar. Se uma serpente, por exemplo, tiver aparecido dentro ou próximo da residência, contate a autoridade competente para que seja providenciada a remoção para um local em que não ofereça risco para a população.

O que deve ser feito após uma picada?
Procurar atendimento médico o mais rápido possível. É importante relatar ao profissional de saúde o máximo de informações possíveis sobre o local, sintomas e o animal envolvido no acidente. Se puder, lave o local da picada com água e sabão. Dê água para a vítima beber e procure manter o membro atingido em uma posição elevada em relação ao corpo.

Todos os animais peçonhentos injetam veneno?
Todos os animais peçonhentos têm a capacidade de injetar veneno, no entanto, em casos raros, não o fazem, mas é importante evitar o contato com qualquer animal desconhecido. A maioria dos acidentes acontece por descuido ou falta de atenção ao ambiente.

Ao ser picado, devo amarrar o local ou usar um torniquete?
Não, em nenhum acidente por animal peçonhento se deve usar torniquete. No Brasil, a maior parte dos acidentes é causada por jararacas. Ao se amarrar ou usar torniquete, além de dificultar a circulação do sangue, o veneno ficará concentrado naquele local, acentuando o efeito necrosante, aumentando a chance de amputação ou outras sequelas.

Existe algo que não deve ser feito nesses casos?
Não se deve: amarrar o membro afetado; tentar sugar o veneno ou aplicar substâncias como álcool, pó de café ou qualquer outro produto caseiro.

Como prevenir esses acidentes?
Use sapatos fechados; observe bem por onde pisa; se estiver hospedado em áreas naturais, bata os sapatos antes de colocá-los pela manhã — podem abrigar aranhas, escorpiões ou serpentes.

As unidades de saúde estão preparadas para atender esse tipo de ocorrência?
Sim. As UPAs e hospitais estaduais funcionam 24 horas por dia e estão preparados para esse tipo de atendimento.

Quais são as aranhas mais perigosas e como reconhecê-las?
Aranha-marrom: cor uniforme, tamanho médio, comum em sótãos, armários e banheiros.
Viúva-negra: preta brilhante com uma mancha vermelha no abdômen; encontrada em locais úmidos e escuros.
Aranha-armadeira: coloração cinza a castanha, patas com faixas pretas; vive em troncos e folhas de bananeiras e bromélias.

Como reconhecer escorpiões perigosos?
Todos são perigosos. Evite-os.

Existem animais perigosos no mar ou em cachoeiras?
Sim. Os mais comuns são: ouriços-do-mar: causam a maioria dos acidentes marinhos; águas-vivas e caravelas: e exigem cuidado especial, principalmente em locais com rochas.

Há riscos em águas doces também?
Sim. Sempre que puder, nade em águas cristalinas para facilitar a visualização. Os principais riscos incluem: arraias; candirus; piranhas; poraquês.

Posso comprar e armazenar o soro antiveneno na minha empresa ou fazenda?
Não. Os soros antiofídicos, que são utilizados de forma gratuita no âmbito do SUS, precisam ficar armazenados e conservados em temperatura de 2 a 8°C e são administrados apenas em ambiente hospitalar, após a avaliação de um médico. Soros antiofídicos de uso veterinário são encontrados em lojas do gênero, mas estes não são recomendados para uso humano.

Há soros antivenenos em hospitais particulares?
O tratamento dos casos de acidentes ofídicos é feito apenas na rede dos hospitais do SUS e é inteiramente gratuito. No entanto, apesar de não ser recomendado, o atendimento inicial pode ser feito na rede privada. Nesse caso, se necessário o paciente pode ser transferido para o polo mais próximo ou o soro ser disponibilizado para o tratamento na unidade privada.
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