Publicado 17/12/2022 05:00
Chanel Nº 5 é um perfume francês caríssimo cuja fragrância é arrebatadora. Nada a ver com política no seu dia a dia. Aristóteles, pai da filosofia, afirmava que a política seria a mais nobre das atividades exercidas pelo homem. Ao longo dos séculos, essa visão da política foi mudando até bater no oposto com Maquiavel em seu livro “O Príncipe”. Ele foi direto na veia: “A soberania se conquista através da astúcia e da traição, conserva-se através da mentira e do homicídio, e perde-se pela lealdade e pela compaixão”.
Lord Acton, em poucas palavras, nos alertava: “Poder corrompe e poder absoluto corrompe absolutamente”. Ficou claro que a natureza do poder tem algo de maléfico. Os exemplos ao longo da História abundam. Talvez o mais cruel deles foi um diálogo entre Trotsky e Lênin, no início da Revolução Russa, em 1917, em que o poder comunista ainda não estava consolidado. O lema “Todo poder aos sovietes”, aquela fábula, ainda tremia nas bases. O totalitarismo estava dando seus primeiros passos.
Trotsky diz a Lênin que iria criar o Exército Vermelho lançando mão dos oficiais tradicionais do exército russo. Lênin revida: “Você está maluco? Todos são monarquistas. Como confiar neles?! ”Diabolicamente, Trotsky responde: “Direi a cada um que qualquer traição será punida como a morte de toda a família dele”. E assim nasceu o Exército Vermelho, que consolidou a revolução. Mao Tsé-Tung fez o mesmo. Para ele, “todo o poder emana do cano de um fuzil.”
Lei da selva. Estaríamos num beco sem saída? Política, no Brasil republicano, seria mesmo essa briga de foice no escuro, onde o interesse público não tem vez? Alguns povos, poucos, conseguiram colocar um bridão no poder. Basicamente, tem a ver com vigilância semanal, tamanha a capacidade de o poder perder rumo e ir na direção oposta de ser o guardião do bem comum.
O caso inglês nos revela uma solução que funciona bem faz séculos. Sabedores dos desvios de conduta dos políticos, adotaram a seguinte prática: toda quarta-feira, o primeiro-ministro comparece ao Parlamento para prestar contas dos atos de governo, onde é duramente sabatinado pela oposição; e, às sextas-feiras, ele (ou ela) ainda tem uma reunião particular com o rei (ou a rainha) para quem tem que dar satisfação sobre
o que faz sem mentir.
o que faz sem mentir.
Para quem pensa que a rainha, ou rei, é apenas um enfeite sem poder algum, vale lembrar que um primeiro-ministro inglês temia mais as reuniões com a rainha do que as do Parlamento, onde tinha seus apoiadores. Precisava ir mais bem preparado para ser sabatinado por Elizabeth II. Interessante é que algo muito parecido ocorria no Brasil de século XIX, em que o Poder Moderador de D. Pedro II era um poderoso instrumento de controle do andar de cima.
Quem já se achou e se perdeu pode se reencontrar no parlamentarismo. Neste sistema, o poder dura enquanto houver confiança no gabinete (governo). No Presidencialismo, a confiança não é a pedra angular do poder. E por isso cheira mal. O desinfetante precisa ser semanal, como já foi.
Gastão Reis (gastaoreis2@gmail.com)
(*) Digite no Google para assistir: “Políticos: Você no controle”, no Dois Minutos com Gastão Reis. Link: https://www.youtube.com/watch?v=pB8MRrtGRPs
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