Publicado 04/02/2023 06:00
Os volteios da História estão sempre a nos surpreender. O estalo de Marx ao presumir que a luta de classes era o motor da História foi bem diferente daquele do Padre Antonio Vieira, que lhe abriu um clarão de inteligência de que fez belo uso vida afora. Mas o de Marx foi para o lado oposto, e com efeitos perversos sobre a História, que Raymond Aron resumiu bem numa frase curta, que bateu, sem dó nem piedade, no fígado Marx: “Creio não haver doutrina tão grandiosa no equívoco, tão equívoca na grandeza”. Quanto a ser o motor da História, esta comprovou que foi, quando muito, o motor enguiçado.
Hannah Arendt, em seu brilhante livro "A Promessa da Política", nos fala da tradição milenar de liberdade política, nascida com Sólon e Clístenes, de respeito ao outro como homo politicus, agindo como ser livre sem amarras e limitações típicas de regimes totalitários. Ela nos chama a atenção para a praça pública grega, berço da democracia ocidental, em que diferentes opiniões eram livremente expressas e debatidas, e onde as decisões eram tomadas pelo voto igualitário dos cidadãos livres.
Ela também nos relembra da postura do Império Romano, a despeito da força das armas, em relação aos povos conquistados. A Pax Romana conseguia abrir espaço para uma convivência pacífica em que a eliminação física dos povos sob seu domínio nunca se constituiu num objetivo sistemático do Império, salvo em alguns casos excepcionais como o de Cartago.
Pois bem, essa ilustre tradição da vida política ocidental perdurou por mais de dois mil anos até que pensadores como Hegel e Marx abriram as portas, no plano filosófico, para as trágicas experiências totalitárias, que se materializaram com o nazismo e o comunismo, respectivamente sob Hitler e Stálin. Eles suprimiram na prática o espaço de manifestação do outro, aquele que discorda de nós.
A verdade passa a ser a da classe social dominante, como propunha Gramsci. A conquista do poder passa a ser pela infiltração dos chamados intelectuais orgânicos dos trabalhadores na superestrutura político-social da burguesia. Ou seja, nas instituições de Ensino Superior, nos sindicatos, nas escolas, nas igrejas, e assim por diante. Sorrateiramente, substitui o domínio cultural da burguesia pelos valores da classe trabalhadora.
A tomada do poder em importantes países latino-americanos, como na Venezuela e na Nicarágua, e, de certa forma, na Argentina, foram adiante usando o aparato da democracia tradicional para firmar pé em bases permanentes no controle do poder político. Chaves e Ortega usaram as eleições e a técnica de Gramsci para se plantar no poder permanentemente.
O alerta máximo que nos enviam é que o script está sendo seguido por Lula pari passu ao que aconteceu nesses países. Guarda Nacional, controle social dos meios de comunicação, criação da procuradoria nacional de defesa da democracia e outras iniciativas nessa linha caminham nessa direção. Segundo Lula e José Dirceu, ser governo não é o mesmo que deter o poder. Gramsci em plena desenvoltura. Democracia em campo minado. Resistir é preciso.
Gastão Reis é empresário e economista
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Autor: Gastão Reis Rodrigues Pereira. E-mails: gastaoreis@smart30.com.br// ou gastaoreis2@gmail.com
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