Gastão ReisGastão Reis
Publicado 20/05/2023 06:00
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Por volta de 2005, participei de um Encontro da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), no Copacabana Palace, cujo objetivo era estabelecer o planejamento da indústria fluminense para o período 2006-2015. A metodologia utilizada foi diferente das usuais e se revelou capaz de captar os anseios e objetivos dos industriais fluminenses. A boa notícia foi ter metas com datas definidas e responsáveis pela execução em bases regulares.
As reclamações sobre o despreparo da mão de obra me levaram a fazer um comentário sobre o desequilíbrio entre aulas de gramática em excesso face às de redação e interpretação de textos. Esta ensina os alunos a investigar o pensamento dos autores com desafios propostos pelos professores. Já as aulas de redação induzem os alunos a aprenderem a pensar por si mesmos.
Exemplifiquei com as aulas de inglês em filmes norte-americanos e ingleses. Os alunos estão sempre trabalhando um texto ou debatendo redações de sua autoria. É quase impossível detectar o ensino de gramática. Fiz a ressalva de que a Língua Portuguesa é mais exigente em termos gramaticais do que o inglês, bem mais simples. É sintomático que o melhor livro de gramática da Língua Inglesa tenha sido escrito por um holandês. Reflete até certo descaso.

Após minha intervenção, outro participante discordou de mim, ressaltando a relevância da gramática. Respondi que concordava no caso do idioma português, mas que meu foco era o excesso de gramática e a pouca atenção dada à interpretação de textos e às redações, pouco exigidas dos alunos. Pode parecer o cúmulo da coincidência, mas, após o término do seminário, meu oponente e eu estávamos em pé conversando quando chegou um amigo dele para um leilão de obras de arte ali no Copacabana Palace.
Meio que do nada, o amigo do meu opoente falou em Machado de Assis, de quem conhecia bem a obra, e comentou que o maior escritor brasileiro nunca deu muita bola para gramática. Ler, interpretar estilos de diferentes autores e escrever era o tripé em que Machado concentrava. Aprender investigando, dizia ele.
Obviamente, dei um olhar significativo para o meu antagonista na linha de que eu tinha a meu favor o caso de Machado de Assis. E nem por isso ele era gramaticalmente capenga. A gramática lhe veio naturalmente através da leitura de bons autores.
No lado oposto, havia o caso do professor de português que escrevia artigos nos jornais locais da cidade imperial. Impecável em gramática, e medíocre quanto a estilo e conteúdo.
Machado de Assis, por sua vez, não se tornou apenas o maior escritor brasileiro. Já faz tempo que os críticos norte-americanos e europeus o reconhecem como um dos grandes escritores da humanidade. Soube evitar também o preciosismo vocabular de Ruy Barbosa e Euclides da Cunha, que pareciam se deliciar em nos surpreender com vocábulos cujo significado desconhecemos.
Infelizmente, a lição de Machado de Assis, que aprendeu a pensar, parece nos escapar não só na literatura, mas também em outros ramos do saber como política econômica com visão de longo prazo. Que tal seguir o exemplo dele?

Gastão Reis é economista e escritor
Nota: Digite no Google “Dois Minutos com Gastão Reis: Duas Lições de Machado de
Assis”. Ou pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=PBF-_KnhHYU

Contato: gastaoreis2@gmail.com
Autor: Gastão Reis Rodrigues Pereira
Empresário e economista: E-mails: gastaoreis@smart30.com.br// ou gastaoreis2@gmail.com
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