Publicado 24/06/2023 00:00
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O jesuíta Padre Antonio Vieira (1608-1697) recebeu do poeta Fernando Pessoa o cognome de “O Imperador da Língua”, portuguesa, é claro. E tinha suas sólidas razões para tanto. O próprio Vieira nos brinda com um parágrafo revelador, que é o seguinte: “Aprendemos no céu o estilo da disposição, e também o das palavras. As estrelas são muito distintas e muito claras. Assim há de ser o estilo (...); muito distinto e muito claro. E nem por isso temais que pareça o estilo baixo; as estrelas são muito distintas e muito claras, e altíssimas. O estilo pode ser muito claro e muito alto; tão claro que o entendam os que não sabem e tão alto que tenham muito que entender os que sabem”.
Pensei neste parágrafo de Vieira ao ler, recentemente, “A Arte de Escrever”, do filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860), que nos desafia tanto do ponto de vista filosófico quanto no ato de escrever bem. E nos surpreende como crítico atroz do que vinha acontecendo na Alemanha em matéria de maus tratos à língua pátria.
Derruba a sabedoria convencional em relação ao que pensamos sobre a Alemanha de sua época em seus descaminhos. E ainda nos abre espaço para uma dura crítica a grandes filósofos como Hegel e as sequelas na História que têm origem em sua obra e seguidores.
Vieira e Schopenhauer estavam separados no tempo por mais de um século. Este último não teve acesso a este belo parágrafo de Vieira. Mas afirmou que “O estilo é a fisionomia do Espírito”, que o aproxima muito de Vieira. Ambos se rebelam contra a presença do espírito de porco, aquele que age (ou escreve) sem levar em conta o sentimento ou a opinião alheia. (No artigo “Intelectuais Inorgânicos”, no Estadão, de
29/9/2014, abordei a enganação de Gramsci.)
Schopenhauer levantou uma lebre sobre o modo de escrever da esquerda, que teve sua origem em Hegel e contemporâneos, em que o estilo obscuro e complexo assume o palco. Ele diagnostica a síndrome: “Escrever de maneira obscura e difícil de entender, julgando com isso infundir respeito ao leitor.” Schopenhauer nos fornece uma pista segura: “O estilo não passa de uma silhueta do pensamento: escrever mal, ou de modo obscuro, significa pensar de modo confuso e indistinto”.
É pública e notória a dificuldade de ler os textos de Hegel. Ele parece ter sido tomado por uma paixão por escrever difícil como se fosse sinônimo de profundidade.
Este é um sintoma claro de pensamento torto. Ele pega as forças sociais concorrentes por riqueza, poder e justiça, naturais em sociedades democráticas, e as submete a uma vontade coletiva, que chama de geist (espírito). E este Absoluto teria pleno poder e autoridade. Defende mesmo ir à guerra para implantá-lo. E pronto, está plantada a semente (diabólica) do totalitarismo. Ou seja, do comunismo e do fascismo. Stálin e Hitler aplaudem.
E aqui retomamos a questão do estilo que deixou de ser claro e conciso, e passou a ser obscuro e prolixo, como Schopenhauer e Vieira nos alertam. Estilo torto reflete concepção torta da realidade. E abre as portas para os pesadelos totalitários. 
Triste herança deixada por Hegel & (má)Cia.

Nota: Digite “Dois Minutos com Gastão Reis: “A Enganação de Gramsci”. Ou pelo link:
https://www.youtube.com/watch?v=gaQbFqV07zM&t=35s

Gastão Reis é economista e palestrante
Contato: gastaoreis2@gmail.com

Autor: Gastão Reis Rodrigues Pereira
Empresário e economista . E-mails: gastaoreis@smart30.com.br// ou gastaoreis2@gmail.com
Contatos: (24) 9-8872-8269 ou (24) 2222-8269
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