Publicado 05/08/2023 00:00
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Quando falamos hoje da Venezuela, a conversa descamba para o vale de lágrimas tamanha é a indignação contra a ditadura que lá se instalou fazendo uso da democracia para acabar com ela. E, pelo jeito, continua firme no intuito de piorar, cada vez mais, as miseráveis condições de vida do povo venezuelano.
A Venezuela já teve um presidente lúcido e realizador. Juan Pablo Rojas Paúl governou a Venezuela de 02/07/1888 a 19/03/1890. Em seu curto mandato, deixou sua marca. Ele remodelou e construiu edifícios religiosos. Autorizou a criação de faculdades de ciências e escolas nacionais em Maracaibo e Barquisimeto. Inaugurou o cabo submarino entre La Guaíra, as Antilhas e a Europa. Publicou o livro "Grande
Compilação Geográfica, Histórica e Estatística da Venezuela", de autoria do Gal. Manuel L. Rosales. E ainda fundou, em 1888, a Academia Nacional de História. Foi um período de bonança econômica em que ele investiu em obras públicas.
Seu currículo revela ter sido um homem culto e bem informado. E, por isso mesmo, confere substância à frase pela qual ficou conhecido no Brasil quando soube do golpe militar que depôs Dom Pedro II, em 1889: "Foi-se a única república da América Latina". Dois outros presidentes latino-americanos o acompanharam no
lamento. Pressentiram o que viria.
Ao dizer esta frase, Rojas demonstra sutileza política. Para ele, uma monarquia constitucional, como era a brasileira, podia cuidar da coisa pública, da res publica, até melhor do que as ditas repúblicas latino-americanas. Já ao longo do século XIX, elas conviviam com ditaduras, golpes e intervenções militares frequentes, de que o Brasil se livrou por ter o poder moderador e uma classe dirigente civil que controlava os militares. Inclusive seus orçamentos.
Que lições podemos tirar dessa frase profética do presidente Rojas? A primeira delas é que o 15 de novembro de 1889 foi, a rigor, a desproclamação da república. Como assim, perguntaria o(a) leitor(a)? Desde seu início, a república foi marcada por muita corrupção. O Encilhamento, ocorrido em seus primeiros anos, sob a batuta de Ruy Barbosa, foi uma política econômica expansionista do crédito, de criação de
bancos emissores e estímulo a empresas através de lançamento de ações sem a devida regulação. Acabou em múltiplas falências e numa década perdida (1890-1899).
Mas a lucidez prospectiva de Rojas, ao declarar o fim da res publica, vaticinava que o interesse público deixaria de ter primazia no palco das grandes decisões nacionais. O eixo Rio-SP-MG esqueceu o resto do país em benefício próprio, levando à Revolução de 1930. O mais grave foi relegar a segundo plano a educação pública de qualidade, optando pela política do embranquecimento da população como solução de
nossos grandes problemas.
Para o atual governador de São Paulo e ex-ministro da Infraestrutura de Bolsonaro, o Brasil estaria hoje em outro patamar se a monarquia tivesse sido mantida. Ele ratifica o que foi dito neste artigo. O país se despiu dos poderes de que dispunha para coibir os desmandos do andar de cima. E acabou virando o que é hoje. Nota: digite no Google minha palestra "O legado da herança luso-afro-indígena até 1889". Ou pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=uuLxB3Mysns
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