Publicado 30/09/2023 00:00
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A figura de Nelson Mandela ficou na História. Acredito que seu exemplo possa nos ser útil nesses tempos conturbados do Patropi nada republicanos. Mandela tinha dois tipos de nobreza. Uma por laços familiares, e outra, mais importante, que vinha da alma. Nos quase 30 anos em que ficou preso, literalmente quebrando pedra, jamais se deixou tomar pela amargura e pelo ressentimento. Leu muito, estudou mais ainda e, como ele mesmo afirmou, se burilou.
Em um dos filmes sobre sua vida e de seus companheiros na prisão, tem uma cena memorável em que ele cita 'Invictus', um belo poema de William E. Henley. Os versos finais retratam sua filosofia de vida: "Eu sou o mestre do meu destino/Eu sou o capitão de minha alma". Movido por tamanha determinação, ele se tornou uma figura lendária, que granjeou o respeito e o apoio da comunidade internacional.
A África do Sul sofreu boicote econômico de diversos países e foi perdendo suas bases de sustentação. Até mesmo a poderosa De Beers, a maior fabricante de diamantes do mundo, adotou políticas de integração que não seguiam a cartilha do governo branco racista. O isolamento internacional da África do Sul e a crescente
resistência da população negra tornaram inevitável a libertação de Mandela.
Livre das grades da prisão, sua primeira atitude foi tomar um cafezinho com seu carcereiro, que, a essa altura, já se tornara seu admirador. Naquele momento, ele estava pondo em prática uma de suas diretrizes humanitárias. Segundo ele, "O perdão liberta a alma. Por isso é uma arma tão poderosa". Como primeiro presidente negro eleito democraticamente de seu país, deu duas provas de maturidade política aliada a
um profundo senso prático para não paralisar a máquina administrativa sul-africana, como em países vizinhos.
A primeira foi com os funcionários brancos que trabalhavam no gabinete presidencial de Frederik W. de Klerk, seu antecessor branco, que já estavam arrumando suas gavetas, ao vê-lo chegar, na certeza de que seriam dispensados e substituídos por negros. Reuniu-os, dizendo-lhes que, se quisessem ir embora,
poderiam fazê-lo, mas que a contribuição deles seria bem-vinda na construção de um país multirracial, se optassem permanecer em suas funções. A segunda foi uma carta dele autorizando a incorporação à sua guarda pessoal um pequeno grupo de seguranças brancos, que haviam servido ao antecessor.
Curiosamente, seu número de prisioneiro era 46664. Começa e termina com um 4, número cujo significado é, sintomaticamente, muita energia, estabilidade, sentimento de comunidade e apego à casa e à família. No meio de sua vida em números, estava o 666, que é considerado o símbolo da besta na Bíblia, personificada pela política racista que tanto mal causou a seu país.
Justamente ele, que dissera "Eu lutei contra a dominação branca e lutei contra a dominação negra" diante do tribunal que o condenou à prisão perpétua em 1964. A África do Sul não é hoje um mar de rosas, mas não enveredou pelo banho de sangue. Dizer-se cristão é fácil, difícil é pôr-se à prova e sê-lo ao pé da letra como fez Nelson Mandela. Este foi o seu belo legado.
Nota: no Google, "Dois Minutos Gastão Reis: Humildade para aprender". Mandela concordaria. Link: https://www.youtube.com/watch?v=s_oAVkiL6nU&t=1s.
Gastão Reis
Economista e palestrante
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