Gastão Reis, colunista de O DIA divulgação
Publicado 25/11/2023 00:00
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Como bem sabemos, o Patropi é um país muito criativo, sem excluir certa malandragem no exercício de nossa inventividade. Cerca de um ano atrás, ou mais, comecei a observar que o peso de diversos produtos de um quilo passou a ter 900 gramas. É verdade que o preço não se mexia muito. Pelo mesmo preço, o consumidor levava para casa menos cem gramas do que deveria. A rigor, era como se estivesse pagando cerca de 10% a mais pelo produto.
É uma nova forma de combater a inflação que não consta dos manuais de economia, mas pesa no nosso bolso. Milton Friedman, da Universidade de Chicago, Nobel de Economia, batia na tecla monetarista de que toda inflação persistente era gerada pela excessiva emissão de moeda. Sem dúvida, existem casos de países, como Alemanha e Hungria, dentre outros que viveram sérios problemas de hiperinflação. As pessoas chegavam a levar um carrinho cheio de papel-moeda para comprar pão.
Na tradição latino-americana, os economistas da CEPAL - Comissão Econômica para a América Latina e Caribe defendiam a tese de que a nossa inflação era estrutural, devido a uma série de fatores, que podem ser resumidos nas insuficiências da infraestrutura produtiva. Em função destas, as empresas eram obrigadas a gastar mais para realizar uma dada produção, sendo obrigadas a elevar seus preços, situação que provocava inflação.
Mas essa inovação brasileira no combate à inflação foi ganhando ousadia e reduzindo a quantidade do produto mais ainda. No processo de pintar a minha casa, saí para comprar tinta. Eu me lembrava bem do latão de 20 litros, que passou a ter 18. A novidade é que agora vem com 16 litros. Esta é a nova forma de as empresas não aumentarem os preços, reduzindo o peso dos produtos em 10 e até 20%. Ou mais
ainda.
Saí da loja de tinta e fui a um supermercado fazer compras com a listinha que minha mulher havia me enviado pelo celular. Na hora de pagar as compras, na fila do caixa, comentei o fato com algumas pessoas que ali estavam. Elas me confirmaram que haviam também notado essas reduções de peso em vários produtos. A bem da verdade, a redução do peso estava escrita nos rótulos dos produtos, embora os preços
se mantivessem estáveis ou subindo menos. Este fato explica talvez o fato de os consumidores, de saída, não reclamarem.
O que me chamou a atenção foi que na lata de tinta a ousadia foi bater em 20% a menos no peso para compensar a elevação de custos da empresa, e, ao mesmo tempo, não aumentar os preços na mesma proporção em função da dificuldade de manter sua fatia de mercado. Mas é inegável que nosso dinheiro está comprando menos quando o peso de um produto se reduz, ainda que seu preço não tenha sido alterado.
Não me parece que em outros países de moeda estável tal expediente seja de uso comum, como está ocorrendo, cada vez mais, no Brasil. Proibir através de lei que tal aconteça não me parece que vai funcionar. Mas certamente reflete o fato de que os ganhos de produtividade das empresas vêm caindo há muito tempo em praticamente todos os setores da economia brasileira. E os efeitos de longo prazo não são nada bons, inclusive sobre ganhos salariais.
O fundamental é denunciar o fato para proteger nossos bolsos. 
Nota: Digite "Dois Minutos com Gastão Reis: Cirurgia de córnea com picareta". Ou pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=AwCDNrHYjBE&t=43s.
Gastão Reis
Economista e palestrante
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