Publicado 24/02/2024 00:00
A última peripécia de Lula em suas caríssimas e desastrosas viagens ao exterior foi a monumental confusão que conseguiu criar com Israel.
Em recente entrevista coletiva na Etiópia, ele disse o seguinte: "O que está acontecendo na Faixa de Gaza não existe em nenhum outro momento histórico. Alíás, existiu, quando Hitler resolveu matar os judeus". Além da dura resposta de Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, que o tornou persona non grata, ainda levou um puxão de orelha de Dani Dayan, presidente do Memorial do Holocausto Yad Vashem, para quem as palavras de Lula foram uma "combinação de ódio e ignorância" e "uma clara expressão antissemita".
Apontar eventuais excessos de Israel ao se defender é uma coisa, mas comparar o que vem ocorrendo na Faixa de Gaza com o Holocausto revela a ignorância de Lula em matéria de fatos históricos. Exibe também a tradicional irresponsabilidade com que Lula sempre tratou os números. É um despropósito comparar a perda de seis milhões de vidas judias com as mortes de civis em Gaza, que são lamentáveis, sem dúvida. Israel busca pôr fim ao Hamas, grupo terrorista que propõe, como Hitler, o extermínio de Israel.
Mas existe algo mais grave nesse processo. Lula, como presidente do Brasil, estaria falando em nome de quem? Certamente não é em nome da maioria do povo brasileiro. E aqui vale relembrar do parlamentarismo herdado de Portugal e vigente na Terra Brasilis até 1889. Eu me refiro à questão da quebra de confiança como fator de destituição de um governo na tradição parlamentarista. Basta um voto de desconfiança, mesmo sem culpa formada.
Lula não se deu conta de que os holofotes da mídia internacional estavam acesos. Conclusão: a repercussão negativa foi a pior possível, lá fora e aqui. Até mesmo seus aliados internos criticaram a pisada de bola do "craque" petista. A cereja do bolo foi o apoio recebido do chefão do Hamas por sua declaração estapafúrdia. Caiu, novamente, na armadilha que ele mesmo se arma ao falar de improviso a despeito dos repetidos alertas do Itamaraty para seguir o script.
Num regime parlamentarista, os repetidos incidentes internacionais de Lula, coroando tudo com este último, já teriam configurado um clima de perda de confiança no chefe do poder executivo por se arvorar em dizer asneiras sem respaldo do Parlamento e do apoio do próprio País. Infelizmente, no regime presidencialista, em que o presidente da república acumula as funções de Chefia de Governo e de Estado, a única saída é via impeachment. Trata-se de um processo longo e demorado, que já conta com assinaturas de cerca de 130 deputados.
Além de ter perdido a confiança da população brasileira, a própria grande mídia vem dando mostras de um processo de crescente desconforto com Lula. No exterior, sua credibilidade beijou a lona depois desta última entrevista em terras africanas. Talvez seja o encerramento de suas viagens ao exterior, se prevalecer o bom senso, artigo em falta em Lula, PT & (má)Cia. As suas declarações amenas em relação a ditaduras completam o quadro. Até quando a bela herança do Barão do Rio Branco em política externa vai ser enxovalhada?
Nota: digite no Google "Dois Minutos com Gastão Reis: E a mentira continua". Ou pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=7lxnHXFBrIE . As críticas se referem a governos anteriores do PT, mas continuam válidas.
Gastão Reis
Economista e palestrante
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