Publicado 09/03/2024 00:00
O lucro, na concepção marxista, está muito ligado ao conceito de mais valia, aquelas horas de trabalho a mais que o empresário capitalista surrupiava do trabalhador sem lhe pagar. Exploração, para usar uma única palavra. Sem dúvida, as jornadas diárias de trabalho eram extenuantes naqueles tempos, indo muito além das oito horas em média do mundo atual. Será que esta concepção marxista esgota o real papel do lucro, por vezes vista assim ainda hoje?
Não mesmo. Investir requer recursos oriundos de alguma fonte. Empresas eficientes, que crescem rapidamente, buscam em seu lucro essa fonte de recursos para evoluir, gerar empregos e ter condições de elevar o salário real de seus colaboradores. É claro que podem tomar empréstimos em bancos ou recursos de programas do governo. Mas a fonte básica desses recursos é o excedente (o lucro) disponível para investir. Sem ele, paralisia ou crescimento pífio, como vem sendo o caso do Brasil desde 1980.
A indústria de transformação e o agronegócio ilustram bem a insensatez da primeira e a lucidez do segundo. Enquanto este se resguardou politicamente da carga tributária extorsiva, a indústria, pouco fez. Nesta, girou em torno de quase 50% durante décadas (só no governo anterior é que diminuiu para 33%), ao passo que o agronegócio, com seus 200 deputados federais, conseguiu manter a gula federal em torno de apenas 6%. E ainda, paralelamente, ter levado à queda dos preços de alimentos a ponto de termos hoje cerca de 60% da população obesa. A culpa, na verdade, é dos maus hábitos alimentares.
O entusiasmo do governo com os dados do IBGE, de 2023, em que o PIB cresceu 2,9% tem os pés de barro, quando nos deparamos com uma queda de 3% nos investimentos, que caíram a 16% do PIB, faixa que garante a médio e longo prazos um crescimento pífio. Não acompanha o resto do mundo. Ou seja, estamos ficando para trás, acreditando na ilusão de ser possível crescer sem investir. É a Dilma de consumo é vida (obesa, e nada saudável).
Joan Robinson, famosa economista inglesa, afirmou certa feita algo que soa cruel: "A única coisa pior do que ser explorado pelo capitalismo é não ser explorado pelo capitalismo". Na verdade, o que ela estava dizendo, de forma que parece dura demais, é que o capitalismo foi, e é, um poderoso instrumento de desenvolvimento das forças produtivas e de conscientização política das pessoas no sentido de podar seus
excessos. A política de preços mínimos na agricultura, comum nos EUA, na Europa e aqui, comprova que certa dose de disciplina no mercado é necessária, sem ignorar, entretanto, suas forças naturais positivas.
excessos. A política de preços mínimos na agricultura, comum nos EUA, na Europa e aqui, comprova que certa dose de disciplina no mercado é necessária, sem ignorar, entretanto, suas forças naturais positivas.
A antiga União Soviética e a China aprenderam, a duas penas, que tentar estrangular as forças de mercado com o planejamento central da economia acabou levando a uma economia que caminhava a passo de cágado. E que era incapaz de produzir aquilo que as pessoas realmente queriam. Faltava de tudo.
A esquizofrenia econômica que tomou conta do Patropi foi querer crescer sem investir e sem levar a sério o problema da desigualdade social que vem se mantendo por tempo longo demais, e sem solução. Marx, mais uma vez, errou.
Nota: digite no Google "Dois Minutos com Gastão Reis: A cooperativa e o mercado". Ou pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=St8uXye-1fs.
Gastão Reis
Economista e palestrante
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