Gastão Reisdivulgação
Publicado 25/05/2024 00:00
Já tendo defendido, em vários artigos, nos jornais em que escrevo, a necessidade do debate civilizado, sinto-me à vontade para voltar ao tema. É aquela capacidade de ouvir o outro sem a pretensão de ser dono da verdade. É nestes termos que me dirijo à esquerda com a pretensão de lhe apresentar outro caminho que é, digamos, uma visão prática do que funciona a médio e longo prazos. Por isso mesmo, me sinto à vontade para ser de direita e de perfil conservador num país que sofreu um apagão da memória nacional com a chegada extemporânea da república, sem apoio popular, em 1889.
Publicidade
A morte da memória nacional está muito próxima ao matricídio. Sem ela, os países perdem rumo como aconteceu com o Brasil. Não saber de onde veio e para onde vai é não ter estratégia para tocar a vida, o que vale também no plano coletivo. Aparentemente, não nos damos conta de que nomes tradicionais de ruas foram trocados. E até as grandes figuras de nossa História foram substituídas nas notas por animais. Pior: a cara da república nas cédulas está visivelmente de estômago embrulhado. É vergonhoso para nós constatar que nossos vizinhos latino-americanos mantiveram em seu dinheiro os grandes vultos de sua História. Parabéns para eles! (Basta uma pesquisa no Google).
Os americanos fazem o mesmo desde sempre. A figura de Benjamin Franklin na nota de 100 dólares é emblemática. Enchemos o país de avenidas 15 de novembro, como se houvesse alguma coisa a ser comemorada em um dia que se passou por cima da vontade popular. Em Petrópolis, foi preciso mais de um século para livrar a cidade da síndrome da Av. 15 de Novembro e ter de volta, por razões óbvias, a Rua do
Imperador. Talvez pela presença de tantos ditadores e ditaduras na história republicana, acabamos homenageando animais.
Antes de entrar propriamente na proposta a ser feita, cabem algumas considerações para aplainar o caminho. A grande mídia na televisão e nos jornais nos falam com frequência na extrema direita como se não houvesse extrema esquerda no Brasil, e visivelmente em alguns vizinhos nossos. O que é a Venezuela, um país de povo faminto, em que mais de 5 milhões emigraram, cerca de 1/6 de sua população? Ou mesmo a Nicarágua, onde a perseguição religiosa voltou à (des)ordem do dia? Ou Cuba, onde não há liberdade de imprensa e comer o pão magro de cada dia é uma dura batalha?
O mais patético no Patropi foi a recente troca na presidência na Petrobrás em que Lula foi consultar a opinião da Dilma, aquela especialista em nos levar a pique não fosse ela impedida pelo impeachment. No plano geral, Lula vem tentando pôr em prática experiências danosas que não deram certo. Como sobremesa ainda nos serve o estapafúrdio apoio a ditaduras latino-americanas. Tem ou não tem cheiro de extrema
esquerda no sentido explosivo de nos levar à bancarrota? Parece que não se deu conta, até hoje, da virada pró-mercado da Rússia e da China, a opção pé no chão que as permitiu avançar na economia.
É fato que nem toda a esquerda no mundo comete besteiras monumentais. Ainda me lembro de um primo jornalista que, mais de meio século atrás, viveu na Suécia por cerca de três. E acabou se familiarizando com certos fatos da história do país. Na primeira metade do século XX, um partido socialista chegou ao poder, e, por cerca de 40 anos seguidos, continuou dando as cartas. Implantou reformas profundas e conseguiu colocar a Suécia na rota de país desenvolvido, mantendo práticas democráticas de governo sem censura à imprensa e o funcionamento do livre mercado.  A Noruega também convive com um partido socialista democrático pró-mercado. Situação bem diferente do panorama latino-americano com censura à imprensa e
mercados reprimidos.

A lição que podemos tirar dos países nórdicos é que o socialismo democrático é possível na medida em que respeite a liberdade de imprensa e as práticas de mercado na economia. Eles descobriram há muito tempo que o estado-faz-tudo é atraso de vida. Pelo que observamos na América Latina, há países que ainda acreditam em fantasias políticas que, lá no fundo, namoram o estado totalitário. E o sonho do desenvolvimento da nação e bem-estar do povo ficam adiados para o Dia de São Nunca.
Em termos práticos, a esquerda latino-americana ao invés de visitar Cuba e similares, deveria ir conhecer a experiência exitosa dos países nórdicos. Ou entender melhor a brasileira, já que o país conseguiu se livrar da inflação, o pior imposto que pode recair sobre as pessoas de menor poder aquisitivo. Quem viveu na época de elevada inflação no Brasil, em especial os mais pobres, se recordam do salário que acabava antes do fim do mês.
A despeito de uma obra que causou um terremoto político-institucional e desembocou em revoluções violentas mundo afora, Marx nunca se aventurou a explicar como funcionaria uma economia comunista em que o estado centralizador chamaria a si o comando de tudo. Na verdade, ele não sabia, mas deitou falação sobre um belo futuro que se transformou num pesadelo totalitário. Stálin e vários outros líderes comunistas são exemplos do desastre.
O Brasil é um caso esdrúxulo em que a receita de Gramsci foi aplicada com sucesso para a tomada do poder na política, nos sindicatos, nas igrejas, nas universidades e até no ensino médio. Diferentemente de Marx, para quem a infraestrutura material da sociedade determinava a superestrutura cultural, Gramsci propôs o inverso. Para ele, a verdade era a da classe dominante. Caberia então ao intelectual orgânico da classe trabalhadora assentar as bases dessa nova verdade.  Mas sem que as pessoas notassem. Pura enganação, não é mesmo?
Confúcio, dois milênios anos atrás, dizia que o compromisso do intelectual deveria ser com a liberdade e a verdade, mesmo que para defendê-las corresse risco de vida. Vale acrescentar que tais princípios deveriam constar dos programas de partidos políticos respeitadores da vontade popular. Nada impede que uma esquerda civilizada adote o mesmo posicionamento democrático sem buscar interferir no mercado naquilo
que ele faz a contento. O povo brasileiro agradeceria.
(*) Nota: Digite no Google meu vídeo intitulado “A enganação de Gramsci”. Ou pelo link:
https://www.youtube.com/watch?v=gaQbFqV07zM

* Gastão Reis é economista e palestrante
Contatos: gastaoreis2@gmail.com
WhatsApp: (24) 9-8872-8269
Leia mais