Gastão Reisdivulgação
Publicado 29/06/2024 00:00
Faz algum tempo que um dileto amigo, Mariano D’Almeida, que não está mais aqui conosco, me contou o que Freud havia dito sobre Marx. Após tomar conhecimento de sua obra, Freud foi direto no fígado: “Este homem desconhece o que é a natureza humana”. Não muito tempo depois, confirmei o fato ao ler “Pour Marx”, do marxista francês Louis Althusser, que nos fala nesse seu livro de um certo anti-humanismo teórico de Marx.
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Na verdade, quando observamos no que resultou da prática marxista de que o motor da História é a luta de classe, ficam claros o estrago e o terremoto causados pela obra de Marx. Os ponteiros da História não caminharam na direção desejada por ele. A antiga URSS e a China reconheceram que o mercado acabou se impondo. O saldo final foi que o certo anti-humanismo não era apenas teórico, mas sobretudo prático em função dos crimes cometidos contra a humanidade por Stálin, Mao e outros dirigentes comunistas.
Certamente, Freud jamais diria algo parecido a respeito de Adam Smith. No livro, “Teoria dos Sentimentos Morais”, que precedeu “A Riqueza das Nações” (1776) em dez anos, Adam Smith revela uma abordagem humanista ao dar uma resposta à questão “De que modo o homem, como indivíduo ou espécie, chegou a ser o que é?”. Ele afirma que nossas percepções morais devem levar em conta as ações dos demais seres humanos. Daí resulta que nossa conduta social engloba deveres face aos demais. Na verdade, a luta de classes, ou seja, o conflito social, se tornou fator impeditivo do progresso.
Que tipo de lição podemos tirar desses grandes equívocos cometidos por pensadores que pretendiam mudar o mundo para melhor, e acabaram abrindo as portas do inferno para diversas sociedades e países? A primeira delas é ter cautela e moderar o apetite por novidades. Como já foi dito por um simpático conhecido meu, ao invés do desinibido “Por que não?” diante de qualquer coisa nova, melhor seria um “Por que sim?”.
Tomemos o exemplo, bem nosso, dos efeitos perversos do positivismo de Auguste Comte. Sua visão “científica” do mundo, como última etapa do devir humano, impregnou mente e alma de militares e civis brasileiros como sendo a verdade definitiva para levar o País ao seu grandioso futuro. O pecado mortal dele foi propor (e ter muito seguidores) de que assim como não havia liberdade em física e química (hoje contestado pela física quântica) também não deveria havê-la em política, atividade a ser exercida através de uma ditadura científica.
Pouco mais tarde, veio Marx com a ideia da ditadura do proletariado, cujos estragos e perda de milhões de vidas humanas no altar das ideologias de plantão deu no que deu. No Brasil, Comte municiou nossos militares e civis com essa visão da ditadura científica, que não levou o país adiante, mas inspirou a ditadura civil de Vargas e as militares como a da Espada, nos anos iniciais da república, e a de 1964, que perdurou por 21 anos.

Marx e Comte cometeram grandes equívocos teóricos que levaram a práticas ditatoriais desastrosas na política e no crescimento das economias. Deixaram Adam Smith de lado, e quem pagou a conta foram os povos submetidos a suas ideias. As palavras de ordem são cautela e bom senso.

Nota: Digite no Google “Dois Minutos com Gastão Reis: A cooperativa e o mercado. Ou pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=St8uXye-1fs&t=5s


(*) Economista e palestrante
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