Luarlindo Ernesto, repórter do Jornal O DIA.Daniel Castelo Branco
Publicado 29/10/2022 06:00
Eu tava quase à toa na vida, olhando para ontem, quando fui despertado pelo toque do terrível celular. Baixei os óculos da cabeça e olhei para a tela, com má vontade, e constatei: Fred. O amigo é madrugador, como eu, como Júlio (o mais jovem da turma), como Ibiapina. O hábito de acordar cedo, segundo as más línguas, é coisa de velhos. Bolas, pelo que sei, e lembro, me acostumei a levantar ainda com o céu escuro,
para ir ao trabalho presencial. Ah, eu era moço. Agora, em home office, o costume madrugador continua.
Me deito com as galinhas e acordo com os galos. Ih, quase esqueci do Fred ao telefone. "Bom dia, amigo. Alguma novidade na área?". "Tô preocupado com o Clark Kent",  respondeu com seu sotaque complicado. Eu não entendi a preocupação.
"Ô Fred, o que houve com ele? Ficou desempregado? Sofreu ataques com kryptonita? Foi preso? Caiu em algum golpe? Foi traído?". Silêncio do outro lado do aparelho. Difícil esse Clark aparecer na Água Santa, concordam? Nem em sonho.

Nesse ínterim, o sino da porteira foi acionado. Quem será? Eita, é o Nelson, sumido alguns dias. Vou ao encontro dele, segurando o tal do celular para não perder o papo com Fred. Mas, não é que o suíço está
com o Nelson? E segurando o celular! Não entendi. Desliguei o meu aparelho e fui receber os dois. Parece um pesadelo daqueles bem confusos. E os dois amigos rindo da minha ignorância.
Foi Nelson quem explicou: "Sem nada para fazer e sabendo que você está de folga, resolvemos chamar sua atenção". Continuei não entendendo. E Nelson continuou: "Fred disse que você tem estoque de cerveja....". Bolas, não bebo desde março. Tô na fase dos sucos.

Então foi um complô! Danadinhos esses amigos. Caramba, vi, então, que Fred trazia embrulhos com pão e salgadinhos, os tira-gostos. Foi tudo planejado. Fui pego de surpresa minha santa inocência, ou falta
de atenção. A partir daí, outros vizinhos, vendo a movimentação na porteira, foram chegando. Claro que virou festa. Não programada, por mim. Céus, quintal cheio, as aves assustadas, conversa em tom alto,
quase um horror.

Para tentar entender o papo do Fred sobre o Clark Kent, chamei o amigo ao lado do mictório modelo holandês que fiz no quintal. "Ô Fred, explica, sua conversa maluca sobre o Super Homem. Porque você tá preocupado?"
"Ô Luar, você é tão jornalista quanto o Clark. Então, meti um colega seu na conversa para chamar sua atenção", explicou. "Mas, e a sua preocupação com ele? Não entendi".  E Fred, com seu sorriso maroto, segurando o canecão com cerveja, explicou: "Acabaram com as cabines telefônicas em quase todo o mundo", cochichou o amigo. "O celular derrotou os telefones tradicionais. Onde o jornalista vai mudar de
roupa para salvar a humanidade? Nos mictórios dos bares? Melhor mudar de super herói".
Sugeri que fosse resistente à kryptonita. De preferência, uma super heroína. Afinal, o mundo é das mulheres. E fui beber minha água de coco.
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