Luarlindo Ernesto, repórter do Jornal O DIA.Agência O DIA
Publicado 05/11/2022 06:00
Semana agitada, corrida, complicada e chuvosa. Bem, a chuva sempre é bem vinda. Os amigos, também. O papo? Começou com a culinária e entrou no custo de vida. Tem, também, planos para o 13º salário. Poupança, pagamento de dívidas ou esbórnia? Aí o bicho pegou. Cada um explicando o que fazer de melhor. Ou sonhos não realizados.
Época de puxar o freio nos gastos e esperar o que vai aparecer a partir de janeiro. O Fred nem se pronunciou. Aposentado, também, mas ocupa seu tempo fazendo trabalhos em madeira. Um velho hobby. Só que acabou sendo procurado por meio mundo para reparos e peças novas para os amigos.
E o vizinho de bombordo, um dos últimos a aparecer, chegou com pacote de biscoitos e café na garrafa térmica. Caramba, esse papo vai render toda a manhã.

Abdicamos do quintal. A chuva tá ficando inoportuna. Todos na varanda coberta. Caramba ! Só cabelos brancos e cada um dando palpite na melhor culinária. Isso é que é reunião da terceira idade. Caramba, tenho que trabalhar. Difícil é convencer a "moçada" que tenho horário nas tarefas do jornal.
O dia a dia da cidade é ininterrupto. O Rio não para. Eu também. O celular tá cheio de mensagens. Detesto dar más notícias. Espero que os amigos compreendam que vou interromper o encontro. Bolas, também tenho contas a pagar.
Júlio foi um dos que logo se retirou. Foi cuidar dos negócios dele. É um dos poucos que não se aposentou. Também, é o caçula do grupo. Conheci os país dele. Seu Francisco tinha chácara e loja no Mercado da Cadeg.

Eu gostava de comprar verduras e legumes na chácara, no final da Rua Dois de Fevereiro. Chegava cedinho, entrava e lá estava ele, cuidando da enorme plantação. Em uma mesinha, garrafa térmica e xícaras de
louça. Seu Francisco era esperto. Esperava a patroa se retirar e oferecia cafezinho para alguns frequentadores. Era preciso entender o velho chacareiro. Sempre bem humorado. Nunca ouvi uma queixa partindo dele.
Com um sorriso maroto brotando dos lábios, oferecia o "café" para alguns frequentadores selecionados. "Pode servir à vontade", falava, sem parar de trabalhar. Eu sempre me servia com dose mínima, somente para agradar e confraternizar com o amigo chacareiro. A aguardente descia queimando e fazendo sorrir seu Francisco. Ele partiu tem muito tempo. Bem, isso tem mais de 40 anos. Mas eu lembro.
Leia mais